Distribuição ilegal de livros afeta mercado editorial brasileiro
Prática comum entre os leitores prejudica autores independentes, que defendem incentivo à democratização da literatura
Postado em 22/04/2022
Pesquisa realizada no início de 2020 pelo Instituto Pró Livro apontou que o brasileiro lê, em média, cinco livros por ano. Entre os motivos, um deles é que hoje os livros são caros e deixados de lado durante um período de crise econômica. Consequentemente vários leitores têm recorrido à pirataria, muitas vezes sem pensar no impacto dessa ação, principalmente para os autores nacionais.
A pirataria é uma cultura bastante disseminada no Brasil e tem se tornado cada vez mais comum se deparar com um post nas redes sociais denunciando a distribuição ilegal de livros nacionais. Binha Cibelle, autora de Entre Nós, aponta que isso acontece por um bug da plataforma: “Uma realidade que muitos autores não conhecem, é que nossos livros são pirateados no mesmo dia que são lançados, através de um mecanismo dentro do Kindle da própria Amazon. Quanto mais você for famosa ou quanto mais repercussão o livro tiver, mais rápido ele é pirateado.” Essa distribuição quase instantânea afeta diretamente os escritores que têm seus livros como renda e atrapalha, inclusive, a produção de outros livros. “[a pirataria] Impacta toda minha linha de produção, já que é com esse dinheiro que vivo e produzo meus livros, pagando capa, revisão, diagramação, leitura crítica/sensível e etc.”, afirma a autora.
Existe uma dualidade sobre a pirataria dentro da comunidade literária; enquanto muitos condenam a ação, outros acreditam que os meios alternativos são uma forma de democratizar a leitura, uma vez que os leitores estão se deparando com livros cada vez mais caros nas livrarias. Letícia Black, autora de Curvas Perigosas, acredita que a falta de ações governamentais para incentivar e possibilitar a leitura levam os leitores a procurar a pirataria. “O que eu acho muito chato é quando escolhem realizar a pirataria de livros nacionais independentes, sobretudo aqueles que custam 2 reais, como os meus.” O escritor Ariel Hitz complementa: “No mercado nacional independente às vezes cobramos dois reais por um livro. Não é justo que nosso trabalho valha tão pouco, mas também não é justo que tenha gente que não consiga dar dois reais em um livro.”
Foi a partir desse pensamento que Ruhan Diniz e Jairo Sylar decidiram criar a Editora Ronin, que é focada na publicação de autores nacionais iniciantes com preços acessíveis. “A visão da Ronin é de que nós temos que democratizar a literatura nacional, ela tem que deixar de ser elitista. Eu não posso chegar para alguém que não tem 40 reais para dar em um livro e falar que ela não merece ler”, afirma Rhuan Diniz.
Apesar de toda a mobilização, a pirataria de nacionais ainda é um terreno escuro e sem solução. Todos os autores entrevistados afirmaram que uma vez que um livro “cai” em um site ou grupo de Telegram é impossível retirá-lo. Em contato com a Amazon, eles não recebem respostas e quando tentam conversar com quem está distribuindo, os grupos são privados por um tempo, mas retornam. Há, ainda, casos de pessoas que se reúnem para retaliar o autor com avaliações e comentários negativos. Hoje o Brasil conta com a Associação Brasileira de Direitos Reprográficos como mediadora dos direitos autorais dos livros e também com o Conselho Nacional de Combate à Pirataria que recebe denúncias.
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