Mulheres criam alternativas para evitar golpes em oficinas mecânicas

Elas conquistam cada vez mais espaço no ramo automobilístico e apresentam caminhos para que o assunto alcance o público feminino

Vitória Alice Silva

Postado em 19/11/2021

Os tempos mudaram, as mulheres estão dia após dia ocupando mais espaços onde antes o protagonismo era masculino. Um desses espaços é o ramo da mecânica automobilística. As mulheres estão conquistando cada vez mais a independência e, por isso, procuram saber sobre assuntos que até então eram somente de interesse masculino, o que inclui o mundo da oficina mecânica.

Além disso, a quantidade de mulheres com carteira de motorista aumentou, assim como a presença feminina nos serviços de motoristas de ônibus, caminhões e táxi. De acordo com dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), no Brasil, até março de 2021, existiam cerca de 25,8 milhões de motoristas mulheres, o equivalente a 35% do total de Carteiras Nacionais de Habilitação (CNH) válidas no país.

Felizmente, esse é um cenário distinto do que a sociedade estava acostumada há algumas décadas, em que um número significativo de mulheres nesse tipo de ocupação era algo completamente distante da realidade.

Mayara Santinati, 29 anos, compartilha que a mecânica automobilística está no sangue. Desde pequena, a gerente financeira acompanha o trabalho do pai, como mecânico autônomo e, anos mais tarde, casou-se, também, com um mecânico. No entanto, o interesse por carros surgiu mesmo só depois de tirar a carteira. “Como nasci no ramo, sempre foi algo muito natural para mim. Porém acredito que, com a primeira CNH, isso se intensificou, pois, para estar no dia a dia com o carro nas ruas, é necessário saber o básico”. 

Mayara Santinati compartilha informações relevantes sobre carros em seu perfil do Instagram | Foto: Arquivo pessoal

Desde de junho do ano passado, Mayara administra a página do Instagram “Girl Power Mecânica”, onde compartilha dicas essenciais para que mais mulheres entendam sobre carros. “Com o conhecimento básico que recebi do meu pai e meu marido, percebi que não são todas as mulheres que têm a mesma oportunidade e que ainda ficam muito reféns de homens para funções básicas com o carro. Isso me motivou a passar esses conhecimentos para mais mulheres por meio do Instagram”, conta. 

Protagonismo feminino na mecânica

Por ainda ser um espaço majoritariamente masculino, mulheres estão mais suscetíveis a serem enganadas em oficinas mecânicas. Foi o que aconteceu com a empreendedora, dona da oficina Meu Mecânico, Ágda Óliver. Ágda conta que, antes de abrir a Meu Mecânico e entender sobre o assunto, passou por uma situação desonesta em uma oficina, onde o mecânico cobrou por peças que não foram trocadas e serviços que não foram executados. 

Ágda conta que, antes da situação, não tinha o mínimo interesse pelo ramo automobilístico, mas que isso foi o combustível que a motivou a entender mais sobre o assunto. “Eu fiquei bem triste com o ocorrido e decidi estudar. Queria entender mais do meu carro para, na próxima revisão, não ser passada para trás. Lendo o manual do meu carro, pesquisando na internet e conversando com outras pessoas, fui me identificando e logo me apaixonei pela área”. 

E foi então que, em 2010, ela inaugurou, em Ceilândia Sul, a Meu Mecânico, uma oficina voltada especialmente para o público feminino. No entanto, mesmo após fazer muitos cursos e a oficina ter ganhado alguns prêmios de reconhecimento, Ágda relata casos de machismo no ramo, com homens desacreditando do seu trabalho. “Tem gente que chega para me testar, com ar de deboche. Não preciso ficar me explicando e nem provar nada para ninguém. A quem devo satisfação são aos meus clientes, são para as pessoas que acreditam no meu serviço”. 

Um acontecimento parecido com o de Ágda fez com que a mecânica Giovana Toso, 26 anos, começasse a pegar gosto por carros, o que mudou completamente o rumo de sua vida. Ela, que também é administradora de uma página de carros voltada para o universo feminino, conta que, em 9 anos no ramo da reparação, já vivenciou muita coisa errada e muita enganação, que acontecem por conta da falta de informação e conhecimento.

Giovana atualmente trabalha como mecânica na Galski Centro Automotivo, uma oficina em Gramado – RS, e relata que um dos obstáculos, fruto do machismo, em sua profissão é o assédio. “A partir do momento que você tem conhecimento e consegue falar com prioridade sobre o assunto, passando segurança, a barreira do preconceito se quebra. Mas em relação ao assédio, é muito mais complicado”.