Pesquisa mostra que 77,5% das famílias brasileiras estão endividadas
Além da alta inflação, não saber lidar com dinheiro favorece o endividamento
Postado em 10/06/2022
Em março de 2022 o endividamento das famílias brasileiros atingiu um marco histórico: 77,5%; o pior dos últimos 12 anos, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), publicada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
A pesquisa considera dívidas de cartão de crédito, cheque, carnê de loja, prestação de carro entre outros. De acordo com a CNC, o cartão de crédito é o grande vilão: 87% das famílias têm esse tipo de dívida.
O bancário e educador financeiro César Kato, 46, explica como esse endividamento está cada vez maior. “As pessoas se endividam com cartão de crédito ou cheque especial, pois usam essa linha de crédito como extensão de sua renda. Chega em um momento em que pagam apenas o mínimo ou parcelam suas faturas; como são linhas de crédito fáceis de se obter, com taxas de juros altas, no final não conseguem pagar”, diz.
O levantamento indica que a inflação alta é uma motivação para que as famílias recorram a empréstimos ou outras formas de crédito para complementar a renda. Mas em um país em que o poder de compra está cada vez menor e com um salário que não acompanha a inflação, qual a abordagem para educar as pessoas financeiramente?
Larissa Brioso, 22, educadora financeira da Mobills, conta como pode ser feita a própria organização financeira para fugir do endividamento. “Atualmente há vários canais de educação financeira gratuita, seja no Instagram, Youtube, ou cursos. Mas um fator importante é a mentalidade, para realmente conseguir ter essa organização, após isso colocar em prática essas dicas e estudos adquiridos”, explica.
Em 2020 o Ministério da Educação tornou obrigatório o ensino de educação financeira nas escolas, fazendo com que as instituições adotassem as novas diretrizes da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Porém não foi criada uma disciplina específica para o tema, foi apenas inserida na matéria de matemática como assunto a ser desenvolvido durante a formação.
O professor de matemática Patrick Lima salienta a importância que a BNCC traz no desenvolvimento das competências matemáticas, incluindo a educação financeira. “Essas habilidades trabalham objetos de conhecimento com a finalidade do aprendizado, normalmente associadas com questões do cotidiano. Essas situações fazem necessário o uso da matemática financeira como cupons de descontos em compras online, taxa de juros por parcelamento, entre outros”, completa.
Mesmo com essa inclusão da educação financeira nas escolas, o Brasil está longe de ser um país com consciência financeira. De acordo com o Banco Mundial, apenas 3,64% da população brasileira economiza para a aposentadoria, um dos índices mais baixos do mundo.
Outro dado importante é do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2018, que mostrou uma enorme diferença de conhecimento financeiro dos alunos mais ricos, que saem em vantagem sobre os mais pobres em 20 países da OCDE.
A pesquisa mostra que até o momento não é com os professores que a maioria dos alunos aprendem sobre finanças, mas sim no ambiente familiar. 90% dos entrevistados declarou que desenvolveram o conhecimento para manipular o dinheiro com os pais.
César Kato apresenta os prós e contras sobre o assunto. “A principal forma é através do exemplo, das atitudes dos pais junto aos seus filhos nas situações que envolvem o dinheiro. Para os pais que não tem essa educação e não buscam obtê-la, não vão conseguir passar isso para seus filhos, a quebra desse ciclo vai se dar quando esse filho buscar por força própria esse conhecimento ou quando vivenciar uma situação em que entenda que se não mudar”, completa o professor.
Ter a educação financeira desde a educação básica é primordial para que o país seja bem sucedido. Países como a Finlândia que introduziu em seu sistema educacional a educação sobre finanças como prioridade logo no letramento infantil, se destaca em 2° lugar no ranking do Pisa. Não em vão é um dos países que apresentam o maior índice de desenvolvimento humano (IDH).