Startup atua para evitar desperdício de alimentos

Iniciativa trabalha em conjunto com estabelecimentos parceiros para destinar corretamente excedente de produção

André Luiz Antunes Andrade

Postado em 15/06/2022

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) destacou em um relatório de 2019 que 17% de toda comida produzida no mundo foi parar no lixo: 931 milhões de toneladas de alimentos. No mundo, 60% dos alimentos são desperdiçados pelas famílias. O Brasil joga fora cerca de 27 milhões de toneladas de comida ao ano.

O desperdício de alimento não é exclusividade do Brasil ou da América Latina; o continente Europeu é o que mais joga comida fora. Créditos: Catraca Livre

Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), nas fases de cultivo, 54% do desperdício ocorrem nas fases iniciais: manipulação, pós-colheita e armazenamento. O restante, 46%, ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo.

Esse desperdício gera vários impactos para o meio ambiente, como o uso intensivo e poluição da terra e dos recursos hídricos, a perda da biodiversidade, emissão de gases e, é claro, não beneficia as pessoas que precisam de comida. A comida jogada no lixo, de acordo com a FAO, desperdiça água também: 170 trilhões de litros por ano, ou seja, 24% de toda água utilizada na agricultura.

Para tentar diminuir esses impactos existem organizações dedicadas a evitar o desperdício de alimentos, como a Food To Save. A Food To Save é uma foodtech no modelo da To Good To Go, negócio utilizado na Europa de combate ao desperdício de alimentos. A startup já evitou que mais de 15 toneladas de alimentos fossem jogados fora e que mais de 250 toneladas de CO2 fossem enviadas ao meio ambiente.

A iniciativa trabalha em conjunto com vários estabelecimentos parceiros em cima do excedente de produção em qualquer ramo alimentício. “Nós trabalhamos na cadeia final do descarte de alimentos; nossa solução para o estabelecimento é monetizar aquilo que seria jogado fora e seria prejuízo para ele; e tem a parte ambiental que também é nosso selo”, diz o CEO da Food To Save Lucas Infanti,

A startup iniciou engajando e convidando estabelecimentos e grandes redes de São Paulo, sede da iniciativa, como Rei do Mate, Abelha Gulosa e Dengo. Os clientes baixam o aplicativo e conseguem comprar a sobra do produto que foi produzido em demasia, contemplando também os estabelecimentos que estão na causa para combater o desperdício. “O diferencial é que conseguimos vender esses produtos com até 70% de desconto; além de gerar uma receita, conseguimos gerar um impacto sustentável”, explica o co-fundador da Food To Save  Murilo Ambrogi.  

A Food To Save, por ter um formato tecnológico e escalável, pode alcançar diversas pessoas pela Internet a um custo muito baixo. “Além de monetizar o estabelecimento que sofreu muito na pandemia, beneficiamos o consumidor- hoje a maior parte é C e D – e conseguimos uma inclusão social por meio das sacolas com alimentos de qualidade e baratos”, explica Lucas Infanti.

Atualmente 300 estabelecimentos em São Paulo aderiram à plataforma Food To Save com a intenção de levar adiante uma educação e um consumo consciente tanto para os clientes como para os produtores e revendedores desses alimentos.

Da esq.: Murilo Ambrogi, Lucas Infante e Fernando Henrique dos Reis, três dos sócios da Food to Save (Foto: Jefferson de Souza).

Mudança de hábito

Descartar alimentos vai muito além da cultura de um país ou determinada região, está associado aos hábitos que adquirimos desde cedo, em casa ou na escola, por exemplo. Fernanda Moreci, 25, é nutricionista e explica a melhor forma para evitar o desperdício de alimentos dentro de casa. “Com planejamento alimentar, por exemplo, conseguimos evitar a compra excessiva na quantidade de produtos maior que o necessário para o consumo; outra forma é aproveitar os alimentos de forma integral ou quase integral, ponto importante para não ter desperdício”, completa.

A partir do estudo da PNUMA foi descoberto que o desperdício alimentar per capita familiar está ligado a grupos de rendas diferentes, excluindo a visão de que apenas pessoas ou países ricos destroem ou jogam comida no lixo. Uma contradição diante do fato de que a fome ainda mata muita gente no mundo. Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), mostra que pelo menos 116 milhões de pessoas vivem com alguma insegurança alimentar e no Brasil ao menos 19 milhões passam fome.

A cultura do “É melhor sobrar do que faltar” acaba provocando mais desperdícios; em parte faz sentido pois ninguém deseja que falte comida na mesa, porém o excesso pode ser evitado. “O nutricionista pode ajudar por meio da elaboração de cardápios, lista de compras, dicas de congelamento, visando o menor esbanjamento de comida possível, contribuindo ainda para o aumento do valor nutricional”, diz Fernanda Moreci.