Vivenciar a pandemia contribuiu para formação de estudantes da área da saúde

Para especialista, haverá surgimento de profissionais mais empáticos, que valorizam a saúde básica e reconhecem a importância da atuação na “linha de frente”

Sthefanny Sousa

Postado em 30/03/2022

“Com a pandemia, acredito que ficamos mais atentos e responsáveis”, pontua Pollyana Dias

Com o ensino remoto, a falta de aulas em laboratórios e, principalmente, a ausência de contato físico, alguns estudantes admitem ter passado por dificuldades educacionais durante o período mais restritivo da pandemia. Entretanto, apesar dos impasses, o aprendizado em meio às medidas sanitárias tem preparado ainda mais os futuros profissionais para o campo de trabalho.

Para a coordenadora do curso técnico em enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Nathália Saraiva, 33, a pandemia trouxe também benefícios para o cenário profissional: “Os estudantes serão profissionais mais empáticos, mais conscientes do papel deles na sociedade”.

“Acredito que as práticas hospitalares serão mais aperfeiçoadas. De biossegurança, por exemplo. Além disso, tivemos uma visão mais nítida da nossa importância como profissionais”, reforça a estudante de enfermagem da Universidade de Brasília (UnB), Amanda Sousa, 20. 

Nathália afirma ainda que o curso já preparava os alunos para situações pandêmicas, apesar de considerar que há sempre a possibilidade de novas aquisições de conhecimento. Amanda acrescenta que é difícil se preparar para uma das maiores crises já enfrentadas pelo sistema de saúde: “Em qualquer graduação, a estrutura do curso é genérica”, explica. “O que o curso pode fazer é apenas mostrar as possibilidades de lidar com determinada situação para que tenhamos um norte a seguir”.

Levantamento feito pela empresa de pesquisas educacionais Educa Insights foi observado que as graduações híbridas na área da saúde foram mais procuradas em 2020, com o avanço de 17% em relação ao ano anterior. Os iniciantes no ensino superior a distância ultrapassaram os calouros nos cursos presenciais em cursos como enfermagem, biomedicina, nutrição e farmácia.

Depois de enfrentarem a pandemia, entretanto, há uma concordância de que os temas, principalmente relacionados a Covid-19, tenham sido melhor abordados em salas de aula. O mesmo acontece com os alunos que, mesmo com as dificuldades do ensino remoto, se tornarão profissionais com alta habilidade de lidar com situações emergenciais pelo cenário que vivenciaram no período de estudo.

Ademais, alguns alunos tiveram oportunidades inéditas de atuação advindas da pandemia. Amanda Sousa, por exemplo, conseguiu ser voluntária na campanha de vacinação contra a Covid-19 do Distrito Federal. Para ela, que realiza o terceiro semestre, participar de uma experiência tão aguardada pela sociedade foi único. “Poder ajudar os colegas de profissão, que foram tão sobrecarregados durante a pandemia, foi bem marcante”, diz.

Foi também a sensação do estudante de fisioterapia Thiago Sampaio, 22, que teve a adaptação do estágio obrigatório no centro universitário LS Educacional. O observatório supervisionado já contou com medidas de proteção contra o coronavírus, principalmente com o uso obrigatório de máscaras e álcool em gel. “Nunca me imaginei passando por essa situação, mas deu para ver de perto como estão fazendo os outros profissionais já formados na área”.

Desafios do ensino remoto

O ensino remoto, como realidade nos cursos superiores, desanimou estudantes da saúde

Todavia, mesmo com os benefícios adquiridos no campo da educação para o desenvolvimento pessoal e profissional dos estudantes, a migração do presencial foi decisiva para importantes perdas no ensino superior.

Os cursos acadêmicos da área da saúde foram atingidos diretamente pela pandemia da Covid-19. Nos anos de 2020 e 2021 foram registrados pela Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp) os maiores índices de evasão de alunos do ensino superior privado no Brasil.  Atingiu-se a marca histórica de 3,78 milhões de estudantes, com aproximadamente 37,2% de abandono.

Pollyana Dias, 24, estudante do sétimo semestre de medicina na Universidade Evangélica do Goiás, compartilha que, muitas vezes, se sentiu exausta e desanimada do curso através do ensino remoto. “Remanejar as aulas práticas foi um trabalho que custou um semestre”, lamenta.

Adaptação. Essa foi a palavra escolhida por Nathália para sintetizar esse período educacional em meio a pandemia. “Foram muitos os desafios para o ensino remoto, principalmente porque o caráter de presencialidade é de suma importância para o desenvolvimento”, afirma e ainda completa: “Não sabíamos pela internet se o aluno estava entendendo o conteúdo”. 

Cabe aos futuros atuantes da saúde a dedicação constante, além dos cuidados necessários, física e mentalmente, de cada profissional. “A expectativa é que vamos aprender ainda mais sobre a ciência diariamente, mas teremos como base de tudo o cenário que estamos vivendo hoje”, conclui Thiago Sampaio.