Arte e feminismo movem tatuadoras

Estúdios formados apenas por mulheres ganham espaço

Eduarda Costa Ayres

Postado em 07/04/2022

Mulheres conquistam cada vez mais espaço no mercado de tatuagem que, durante muito tempo, foi dominado por homens. A arte produzida por tatuadoras é símbolo de empoderamento feminino, luta e resistência. E engana-se quem pensa que o estilo de tatuagem se limita somente a traços finos e delicados; pelo contrário, são diversas as técnicas oferecidas. 

A prática de tatuagem já foi muito marginalizada e sofreu uma enorme discriminação na sociedade. No entanto, mudanças relevantes aconteceram no decorrer do tempo. As tatuagens são formas de expressão, de eternizar histórias, de busca por identidade, ou, muitas vezes, feitas apenas por estética. 

No Brasil, uma das pioneiras no ramo feminino é Hosani Finotelli, 65,  popularmente conhecida como Medusa. Aos 20 anos iniciou sua trajetória, e mesmo com empecilhos e dificuldades, abriu  caminho para outras mulheres. “Já sofri muito preconceito. Na época, o que eu mais escutava era que ‘mulher não nasceu para tatuar’, os tatuadores antigos não queriam que nós entrássemos na área. Além de ter sido muito julgada por conta das minhas próprias tatuagens”, conta. 

Pioneira, Medusa enfrentou preconceitos, mas se tornou referência na profissão/Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, aposentada da profissão, Medusa deixa como legado uma carreira admirável  e inspiradora, ressaltando aos mais jovens a importância de se comprometer com o trabalho. “Eu nem cheguei ao nível de muitas de hoje, com a tecnologia, por exemplo, há diversas possibilidades de materiais que não existiam na minha época; o mercado começou a dar dinheiro e expandiu demais. Mas de toda minha experiência, o conselho que eu dou para quem está iniciando na área é dedicação e estudo”, diz. 

Uma nova geração de tatuadoras veio para revolucionar, mostrando sua dedicação e aptidão pela profissão. A tatuadora Maria Luíza Melo, 21, especialista em fineline (estilo de traço fino e minimalista) e blackwork (técnica que utiliza somente tinta preta), expressa sua paixão pelo que faz. “Tatuagem é arte, não dá para definir como qualquer outra coisa. Criar arte e trocar energia com pessoas, marcar a vida delas permanentemente é o que me deixa mais empolgada”. 

Malu relata que quando iniciou, há cerca de três anos, teve muita dificuldade para ingressar em um estúdio e encontrar um mentor. “Muitos estúdios em Brasília não aceitam aprendizes. Comecei a tatuar em casa, e, durante a pandemia, aluguei uma sala pra conseguir realizar os procedimentos. Somente em novembro de 2021 veio a oportunidade de trabalhar no estúdio que estou atuando hoje, um dos maiores de Brasília”, conta.   

Há pouco mais de um ano, Sophia Vasconcelos, 21, descobriu a paixão pela tatuagem. Após muitos treinos em pele artificial, criou coragem e transformou uma sala de sua casa em um estúdio aconchegante. Ela afirma que o trabalho não se resume somente ao ato de tatuar, mas que busca trazer a melhor experiência para o cliente, desde o orçamento até o processo de cicatrização. “Minhas tatuagens têm personalidade, exclusividade, muito amor e carinho. Eu dou sempre o meu melhor em cada uma delas”, diz.

Estúdios liderados por elas 

Atualmente, há um aumento crescente no número de estúdios de tatuagens composto somente por mulheres. Com o intuito de oferecer segurança, acolhimento  e conforto, principalmente para o público feminino.  

É o caso do Athena Tattoo Studio, formado pelas tatuadoras: Giovanna Beatriz, 20, dona do estúdio;  Pamella Maria, 20; Rebeca Macedo, 24. O estúdio foi inaugurado em 2021, e atende a todo tipo de público. “Quando comecei minha trajetória, tive experiência em um estúdio constituído inteiramente por homens, mas me senti super desconfortável. Logo após, abri o Athena, e formei uma equipe só de mulheres”, conta Giovanna.  

Para Pamella Maria, que produz artes independentes através das ideias dos clientes, a tatuagem é a forma mais pessoal de expressão. Ela revela que gosta muito da ideia de estúdios liderados por mulheres, pois isso cria uma rede de apoio e incentivo a cada tatuadora. “É muito bom saber que não estamos sozinhas e podemos nos ajudar”.

“Quando comecei a procurar estúdios, sempre busquei um lugar seguro e confortável para mim e minhas clientes. Mas, infelizmente, a tatuagem ainda é um universo masculinizado e machista. Até que encontrei o Athena Tattoo, com a estrutura que eu estava  à procura”, conta Rebeca Macedo. 

Em combate ao machismo ainda enraizado na profissão, as mulheres estão tomando cada vez mais voz e mostrando que sabem fazer tanto quanto os homens. Justamente por esse viés, que a tatuadora Renata Ataíde, 27,  fundou o Anchor Ink Tattoo. “Sempre quis reforçar em mim mesma e externar para o mundo sobre o feminismo, e, de alguma forma, na minha cabeça, tendo um estúdio composto somente por mulheres, eu iria expressar muito bem essa ideia e cá estou, seguindo com minhas meninas, mostrando que tatuagem também é para nós”, expressa.