Cesta básica em Brasília é a sexta mais cara do país

Entre março e abril deste ano o valor da cesta básica teve variação de 5,24% na capital, segundo o Dieese

Cynthia de Carvalho Lima

Postado em 16/05/2022

A cesta básica foi criada em 30 de abril de 1938, quando o Governo Getúlio Vargas estabeleceu a lei n° 399, apontando uma lista de alimentos essenciais para sobrevivência, fornecendo um salário mínimo ao trabalhador de forma que ele pudesse arcar com os custos da alimentação básica. O decreto apontou a quantidade necessária de alimentos para um mês, garantido saúde e bem-estar, ou seja, ela foi composta por 13 produtos alimentícios: carne, leite, arroz, farinha, batata, tomate, pão, café, banana, açúcar, óleo e manteiga.

De acordo com a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), entre março e abril deste ano o valor da Cesta Básica teve variação de 5,24% em Brasília. Atualmente, é a 6° cesta básica mais cara do Brasil, custando em torno de R$741,55. Fica apenas atrás de São Paulo (R$ 803,99), Florianópolis (R$ 788,00), Porto Alegre (R$ 780,86), Rio de Janeiro (768,42) e Campo Grande (R$ 678).

Diante desse levantamento, o Dieese apontou que o salário mínimo suficiente para o trabalhador com base na cesta básica mais cara que em abril foi a de São Paulo, para uma família de até quatro pessoas, deveria ser de R$ 6.754,33. Entretanto, equivale a R$ 1212,00, ou seja, quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, após o desconto de 7,5% da Previdência Social, o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, 61,00% do rendimento para adquirir a cesta básica. Portanto, o tempo médio necessário de jornada de trabalho para adquirir os alimentos da cesta básica foi de 124 horas e 08 minutos.

Veja alguns exemplos desse aumento em Brasília de acordo com o Dieese

•A batata, coletada na região Centro-Sul registrou um aumento em todas as capitais com taxas entre 14,63%, em Porto Alegre, e 39,10%, em Campo Grande. Por conta das chuvas e a alta demanda na Semana Santa reduziram a oferta, provocando aumento no preço varejo.

•O preço da farinha de trigo registrou um aumento de 9,54 % em Brasília por conta da redução da oferta de trigo no mercado externo, por causa do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e a valorização do dólar em relação ao real fez com que o produto importado chegasse mais caro ao país.

📷Cynthia Lima/Arquivo Pessoal
Óleo de soja registrou um aumento em Brasília de 11,34% entre março e abril deste ano, por conta do aumento da demanda externa do óleo de soja e os altos preços internacionais.

Qual foi a causa desse aumento?

Para o professor de economia do IESB Riezo Almeida, durante a pandemia, muitos países, incluindo o Brasil, viram cair sua produção (oferta) de matérias-primas, de produtos agrícolas. Assim, como medida de controlar o avanço do Coronavírus foi limitada sua produção e a sua distribuição. “A população vai crescendo, as demandas também e as pessoas precisam se alimentar”. Dessa forma, esses aumentos não são repentinos, já vem em um processo desde o início da pandemia.

Atualmente, aqui no Brasil está maior por conta da inflação (a alta dos preços contínuas e generalizadas). Em que os preços dos alimentos têm uma relação direta entre oferta e demanda desses produtos. Enquanto a população aumenta, e a demanda por comida continua crescendo e com isso existem múltiplos desafios e problemas que incluem a disponibilidade de água, deterioração e qualidade do solo, as mudanças climáticas e poucos interessados em trabalhar em agricultura.  ”Além disso com a guerra entre Ucrânia e Rússia os preços dos fertilizantes e dos combustíveis aumentaram fazendo com que os produtos ficassem ainda mais caro por conta de a Rússia ser ofertante de fertilizantes. Inclusive, é um contrapondo para o dólar tá mais barato, pois está entrando mais dinheiro no nosso país porque os produtos estar mais caros e os agricultores exportando mais”, complementa Riezo.

Para o dono de supermercado Francisco Sales alguns fatores que levaram a esse aumento estão ligados à colheita. “Neste ano, tivemos redução na oferta de alguns produtos em razão da quebra de safra. Um exemplo foi o café e o milho. Além de que chuvas intensas no Sudeste diminuíram a oferta de muitos produtos, principalmente hortifruti’’. E outro fator determinante, foi o aumento dos insumos (fertilizantes) e combustíveis que impacta nos custos e consequentemente na elevação dos preços.

O poder de compra

Segundo Riezo, o poder de compra dos brasileiros ficou muito prejudicado com esse aumento dos alimentos. “Está diminuindo o poder de compra, e quanto mais tempo passa sem reposição salarial devida à inflação, o poder de compra das famílias fica prejudicado. Só vai melhorar quando diminuir a inflação e tiver uma recomposição salarial proporcional.”

Francisco Sales declara que quando os preços sobem as pessoas reduzem o consumo daqueles produtos. “Com o aumento dos preços, as pessoas perdem poder aquisitivo, diminuem o consumo e ficam prejudicadas na qualidade de vida e bem-estar.”

Como esse aumento afeta os brasileiros?

Segundo Regina Assis, de 30 anos que vive apenas de um salário mínimo e é mãe solteira de 4 filhos. “Os alimentos subiram absurdamente e o meu salário não está sendo suficiente, porque também preciso pagar aluguel. Se não fosse a ajuda da minha família e amigos, eu e meus filhos nesse momento estaríamos passando fome”.