Como a figura feminina movimenta o cenário cultural de Brasília

A mulher é um elemento importante para o movimento cultural da capital e se tornou necessário entender como esse lugar foi conquistado por elas

Júlia Cândido Ferreira Costa

Postado em 28/04/2022

A participação feminina na indústria cultural se torna cada vez mais necessária e acessível. Em 2021 a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) desenvolveu um projeto que teve como objetivo fomentar a inserção da mulher no mercado cultural no Distrito Federal. Uma das formas que a Secec achou para aumentar a participação feminina no cenário cultural foi recorrer ao Fundo de Apoio à Cultura, disponibilizando editais de políticas públicas voltadas para as artistas locais. As políticas públicas culturais podem ser destinadas aos diversos segmentos artísticos e culturais, como artes cênicas, incluindo teatro, dança, circo, ópera, musicais, entre outras manifestações artísticas.

A Secec garantiu a reserva de vagas femininas em projetos culturais, em consonância com o Art. 5° do Decreto n° 38.9233/2018 (Fomento à Cultura) e a Portaria n° 58 de 2018, que institui a Política de Equidade de Gênero na Cultura. A participação feminina totalizou 36% nos editais lançados no ano passado pelo FAC. O Marco Regulatório das Organizações da Sociedade Civil (MROSC) executou a seleção de projetos que têm como foco a capacitação da formação de novas profissionais e agentes da cultura, disponibilizando um fundo inicial de 890 mil reais, que foram distribuídos para projetos voltados para mulheres, assim como a disponibilização de cursos online de forma gratuita.

O avanço pode ser considerado de forma ampla, já que até o ano 1882 as mulheres não podiam frequentar as escolas. No caso da Academia Imperial de Belas Artes, localizada no Rio de Janeiro, assim que passaram a ser aceitas, o valor cobrado pelos estudos era o dobro do que o cobrado aos homens. Abigail de Andrade foi a primeira mulher a ser aceita na Academia e a primeira mulher a conquistar uma medalha de ouro de 1º grau na 26ª Exposição Geral de Belas Artes, que ocorreu em 1884. Desde então, as mulheres buscam um lugar na cultura com grande esforço.

Atitude Feminina

Chamando a atenção da mídia no ano 2000 surgiu em São Sebastião o grupo de hip hop Atitude Feminina, inicialmente formado por quatro integrantes, mas atualmente apenas duas integram o grupo: Aninha e Hellen. O grupo retrata nas músicas o limitado espaço da mulher no hip hop nacional, a violência doméstica e a discriminação que as mulheres sofrem diante de uma sociedade machista.

Aninha conta a importância da participação da mulher na cultura e os obstáculos encarados por elas na indústria. “A mulher têm que ocupar cada vez mais os diversos espaços dentro da cultura. Não só nos protagonismos artísticos mais principalmente na liderança de projetos, empresas que trabalham com cultura e na área de decisões de políticas públicas de cultura. A importância é mostrar que nós temos a mesma capacidade que os homens de estar nesses espaços. Nós vivemos infelizmente num país machista. Porque dentro da cultura seria diferente?…” questiona a artista, que conta ter passado por várias dificuldades com a companheira de grupo durante o trajeto da carreira.

“Teoricamente não faz sentido ter machismo na cultura hip hop por tudo que ele representa em sua essência. Mas isso não é a realidade. E os obstáculos ainda são enormes quando se trata da mulher ocupar os espaços que tem direito. A maioria dos festivais tem um grupo ou cantora feminina para dez masculinos. Até chegarmos a igualdade de 50% em festivais falta muito. Claro que para isso precisamos ter políticas públicas de cultura que estimulem a mulher se interessar nos diversos segmentos que a cultura tem à oferecer”, conclui.