Conheça as box braids

Tranças são cultura e não moda

Fernanda Rodrigues Ferreira

Postado em 24/06/2022

A cultura afro é repleta de estilos variados. Recentemente houve a explosão das box braids, tranças que carregam tradição e estilo. Há quem confunda as box braids com o rastafári ou dreads, mas há diferença entre eles. As trancas box braids consistem em dividir o cabelo em quadrados e trançá-los até as pontas, utilizando fios naturais e fibras sintéticas.

As trancistas Emilyn Paiva, 28, e Érika Cardoso, 27, contam que tem pessoas que acham que ser trancista é um hobbie. Érika começou a trançar em 2015 e Emilyn em 2017, juntas atuam profissionalmente desde 2020. Érika aprendeu a fazer no dia a dia, já Emilyn queria colocar as tranças mas na época não estava com dinheiro e então procurou um vídeo no Youtube, assim começou a ter os primeiros contatos com as tranças. 

As trancistas Érika e Emilyn atuam juntas no studio no Cruzeiro Center. Foto: Arquivo Pessoal

As tranças custam a partir de R$150,00. Há trancistas que cobram somente a mão de obra, outras incluem o material. Érika reforça que para aquelas pessoas que querem colocar tranças é necessário procurar um profissional trancista para tirar suas dúvidas. “É ele que vai te dizer o que é melhor para o seu cabelo e o que não é. Porque a galera de fora que não entende procura profissionais que não estão acostumados, então sempre rola aquele papo que fede, quebra o cabelo.” Ela conta ainda que aqueles que desejarem se tornar um profissional trancista precisa se profissionalizar primeiro.  

Samara Messias, 18, ao passar pela transição capilar fez uso das box braids e isso elevou muito sua autoestima. “Foi a primeira vez que eu coloquei, foi incrível e me ajudou no processo da transição.”

Questionadas sobre o aumento de mulheres quererem fazer tranças, ambas trancistas acreditam que é uma evolução das mulheres negras entenderem seu espaço de beleza, de entender o que é a beleza negra. “A trança faz com que as mulheres transcendam nesse período”, afirmam.

Diferença no estilo e nome

Érika explica que o rastafári é como chamavam antigamente, e que houve muita modificação. “O rastafári é o que a gente está acostumado principalmente aqui no Brasil, porque começou com a moda africana, aquelas tranças mais fininhas, com as pontas cacheadas, um acabamento diferente. As box braids são mais atuais. Então, elas são mais grossas, as pontas são diferentes, a finalização, o tamanho também que se dá e o material que usa”, explica. Sobre o dread, a trancista informa que era uma coisa feita no próprio cabelo. “A gente foi transformando o dread em uma parada para poder passar mais um tempo com ele. Então, é aquela parte do trançar e depois a parte do envelopar a trança, fazer com que ele vire um casulo mesmo. Então, no dread a diferença é isso. A trança é o trançado, é esconder o seu cabelo, e o dread é um casulo. Ele é igualzinho mesmo a um casulo de borboleta”, finaliza.

Samara teve como aliada as tranças box braids no processo de transição capilar. Foto: Arquivo Pessoal

Na box braids é usado o jumbo, material mais próximo do cabelo humano e mais fácil de lidar. Ele é um material reciclável, feito de plástico, e faz parte de todo um processo até ele virar um fio de cabelo. ”Não se pode esquecer que esse cabelo a gente só pode ficar no máximo três meses, não pode ficar mais que isso, é o recomendado não só por nós trancistas, mas também qualquer dermatologista, qualquer pessoa que entende sobre cabelo, que estuda sobre cabelo”, afirma Érika.

Sobre a higienização o ideal é lavar com shampoo diluído na água, pois o cabelo está guardado no material, então mantendo a higienização quando retirar as tranças o cabelo está intacto.  

Emilyn faz uma consideração final: “Tranças não são moda, trança é cultura, trança traz uma raiz e muita história. Então, por favor, respeite quem usa, respeite quem faz e se tiver qualquer dúvida procure um um profissional antes de julgar.”