Déficit na aprendizagem e dificuldade nos relacionamentos marcam volta às aulas

Escola Classe 15 do Gama cria grupo de apoio à alfabetização com a presença de voluntários da comunidade

Ana K Freitas

Postado em 07/04/2022

 

Durante o período pandêmico as aulas online foram uma barreira para muitos alunos. A falta de acesso à internet e equipamentos eletrônicos, ausência de acompanhamento dos pais e até mesmo a evasão escolar afetaram o aprendizado das crianças no bloco inicial de alfabetização (BIA) e esses problemas ecoam na volta às aulas, agora totalmente presenciais.  

As perdas da pandemia ainda estão sendo estudadas a partir de avaliações diagnósticas, porém, acredita-se que alguns desses déficits educacionais  serão apenas minimizados, não totalmente revertidos. Lorena de Lemos, professora de uma turma de 4º ano na Escola Classe 15 do Gama, afirma que os alunos possuem lacunas na alfabetização, apresentando dificuldades em leitura e escrita, e que os professores terão de se desdobrar para concluir esse ano letivo de forma satisfatória. 

O reagrupamento é realizado após testes em todas as turmas do BIA e, a partir dos resultados, os alunos são separados por nível de alfabetização.

Segundo o orientador William Resende, mesmo após dois anos de aulas online, os governos estaduais não investiram em um planejamento geral para o retorno dessas crianças. Cada escola, a partir do Projeto Político Pedagógico, teve de se reinventar com projetos para avaliar e nivelar esses alunos. 

Na EC 15 do Gama, além da equipe especial de apoio à aprendizagem, a escola contará com a ajuda de assistentes de alfabetização na reintegração das turmas do BIA. Esses assistentes são voluntários da comunidade que recebem cursos de capacitação voltados para a alfabetização e auxiliarão as turmas por meio de ações interventivas nos reagrupamentos. 

Prejuízo emocional

A educação a distância para os anos iniciais foi algo inédito e suas consequências também. Além da defasagem educacional, muitos alunos apresentaram ansiedade, estresse e dificuldades de socialização que influenciam a rotina dentro das salas de aula. Após muito tempo sem estar em contato com outras crianças, alguns alunos apresentaram um comportamento agressivo por não saber resolver conflitos.

Orientador educacional da Secretaria de Educação, William Resende afirma que o índice de violência aumentou significativamente após o período de aulas remotas e a Secretaria está desenvolvendo um Plano Emergencial que deve ser liberado ainda essa semana para orientar a comunidade escolar. 

Apesar do foco principal ser no impacto pedagógico, a pandemia também teve impacto na saúde mental dos professores. A professora Carolina Cardoso, que leciona em uma turma de 2º ano, comenta que a quarentena foi muito estressante. “Várias questões de alfabetização foram prejudicadas, mas também foi muito difícil para nós professores ver que não conseguíamos alcançar o nível desejado com as crianças durante esse período.” 

Coordenadora de blocos iniciais da Coordenação Regional de Ensino do Gama, Sandra Raquel comenta que os impactos do período remoto ainda são incertos: “Muito tem se falado de problemas pedagógicos, mas estamos lidando também com as subjetividades de alunos e professores dentro de cada escola”. A CRE Gama têm feito projetos de formação para os professores sobre como lidar com essa defasagem educacional e também com o quesito emocional.