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Estudantes universitários adotam código de moda das profissões, mas usam da criatividade para inovar
Postado em 10/04/2024
Em espaços universitários, é comum identificar os estudantes através de seus looks. O estilo de roupa é uma forma de expressão e de pertencimento ao curso escolhido, sendo moldado pela cultura e pelos ideais profissionais.
De acordo com a antropóloga Mariana Barroso, os estereótipos profissionais derivam de estigmas que ajudam a demarcar grupos na sociedade, associados a características mais ou menos valorizadas. Mariana analisa como essas ideias impactam os estudantes universitários como trocas culturais que contribuem para a popularização de um estilo em comum, facilitando a aceitação social que visa um crescimento profissional.
Apesar da crença comum de que esses padrões são negativos, a pesquisadora Karla Beatriz, especialista em moda, defende a utilização de alguns deles como ferramentas de comunicação. “Esperamos que os profissionais estejam atentos aos códigos de vestimenta e se comuniquem de forma congruente com suas profissões, mostrando que o ambiente dita os rituais que serão seguidos, incluindo as escolhas de vestuário.”
Assim, podemos observar exemplos típicos, como estudantes de Direito que evitam certas peças de roupa e optam por looks mais formais, exigidos pela profissão. Ou um estudante de medicina que busca transmitir uma sensação de limpeza, evitando cabelos soltos e muitos acessórios. Cada profissão possui sua própria identidade e um estereótipo esperado dos profissionais.
A importância de se sentir parte do grupo escolhido também é reconhecida por Mayza Venâncio, que desde o início da graduação passou a adotar roupas mais confortáveis e condizentes com o dia a dia da profissão, incorporando esses elementos ao seu estilo pessoal. A Crocs, conhecida como a “marca dos estudantes da área de saúde”, é um exemplo de peça que se tornou frequente em seu guarda-roupa devido às necessidades do curso.
Mayza reconhece a importância de uma identidade consolidada para sua área de atuação e a relevância dessa influência: “Porque além da competência e da formação, a vestimenta no futuro local de trabalho precisa ser adequada. Então, tem influência sim!”
Criatividade na identidade
A criatividade na construção da identidade é fundamental. A pesquisadora Karla identifica os universitários como exemplos de mudança: “Com o desejo de romperem com a obrigação de usarem uniformes, buscam experimentar e construir sua imagem e estilo.” Os universitários conseguem inovar seus outfits mesmo que ainda dentro do código profissional.
A estudante de Jornalismo Ana Paula Lima representa bem a criatividade. Amante de cores e estampas, ela não hesita em usá-las em seu ambiente de trabalho: “Gosto muito de me expressar por meio das minhas roupas e quero comunicar isso também para os espectadores que estarão me vendo. Quero também expressar e mostrar isso para a fonte que estou entrevistando, sabe?”
Para ela, o impacto do curso em seu estilo não foi exatamente como ela esperava, mas sim como a descoberta de um novo estilo. A formalidade esperada pela profissão não limita Ana Paula em suas escolhas na hora de montar um look. Ela acredita que é fundamental saber equilibrar e compreender a dinâmica e tentar introduzir novos aspectos dentro do que é necessário para ser visto com um bom profissional.
Foto: Isabella Luciano
Júlia Carvalho, estudante de Moda, é um outro exemplo de criatividade dentro das expectativas da graduação. Ao avaliar a influência em seu estilo, Júlia aponta como ele ajuda a moldar uma identidade própria.
“Você expressa seus sentimentos e passa mensagens com as roupas que veste, seja de forma séria ou apresentando-se como uma pessoa acessível”, diz Júlia.
A estudante reconhece a influência do curso de moda em sua vida: “Acabo notando e admirando tipos de costura, modelagens e me entusiasmando ao descobrir uma marca de grife. Além disso, desejo evitar o consumismo por conhecer os impactos da indústria da moda e entender que as tendências da moda são normalmente passageiras.”
Foto: Isabella Luciano