Equilibrando desafios, a jornada de quem estuda e trabalha

Na contramão da tendência, muitos jovens ainda buscam equilibrar os estudos e trabalho na esperança de construir um futuro melhor

Lais Nogueira

Postado em 23/04/2024

Fotografia: Laís Nogueira / Em 2022, o IBGE levantou que 13,0% dos jovens estudavam e trabalhavam

Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE, mostram que 15,7% dos jovens de 15 a 29 anos estudam e também trabalham no Brasil. Em 2022, havia 49 milhões de pessoas nessa faixa etária; dentre essas pessoas 7.693.000 estavam ocupadas e estudando. Entre os jovens de 15 a 17 anos, que ainda estavam em idade escolar obrigatória, 79,9% se dedicavam exclusivamente ao estudo e 13,0% estudavam e trabalhavam. 

Já os jovens nem-nem representavam 20,8% no Distrito Federal; são aqueles que não trabalhavam e nem estudavam em 2021. Os dados são do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal, IPEDF, apresentados no relatório Retratos sociais DF 2021. A renda também é um fator que influencia nesse quesito: 30,9% dos jovens nas classes D e E não trabalhavam e nem estudavam. Esse percentual diminui à medida que é observado as classes mais altas, como na classe A, na qual 9% dos jovens eram considerados “nem-nem”. 

Na contramão da tendência, muitos jovens ainda buscam equilibrar os estudos e trabalho na esperança de construir um futuro melhor. Estudar e trabalhar ao mesmo tempo pode ser desafiador, mas muitas pessoas conseguem superar esses desafios com determinação e organização. Exemplo disso é o universitário do 5° período de comunicação do centro universitário do Distrito Federal, UDF, e estagiário, Luís Miranda, de 20 anos. “Na rotina, conciliar é um pouco cansativo, levando em consideração que os dois são prioridades. Você tem que sempre estar arrumando tempo para os dois. Às vezes você precisa otimizar seu tempo, então em algum momento você usa tempo do trabalho para fazer coisas do seu estudo, de faculdade e tudo mais”.

Gerenciamento do tempo

Equilibrar as responsabilidades do trabalho e os compromissos acadêmicos pode ser difícil. É importante criar um cronograma detalhado e priorizar tarefas para garantir que tudo seja concluído a tempo. Luís completa: “Acho que essa é a parte mais complicada e complexa, ter esse gerenciamento. Você não pode dar prioridade somente para um, porque o estudo é importante, assim como o trabalho. Mas existem as pessoas que usam o trabalho para se manter”.

Fotografia: Laís Nogueira / Luís Miranda equilibra sua rotina da faculdade com o trabalho

O gerenciamento do tempo é o processo de organizar e planejar como dividir seu tempo entre diferentes atividades. Encontrar um equilíbrio saudável entre trabalho e estudos na rotina é essencial. “Tempo é um recurso limitado, temos que fazer o melhor com o que temos. Se o gerenciamento de tempo for feito corretamente, é possível aproveitar melhor os seus dias, fazendo render mais”, ressalta o estudante.  

Pressão acadêmica

Manter um desempenho acadêmico sólido enquanto trabalha pode ser estressante. Luís alerta: “A pressão acadêmica e social pelo diploma, acho que isso é difícil de lidar. Conforme o tempo vai passando, você vai ficando cansado, às vezes seus objetivos mudam.” 

O estudante comenta os seus objetivos na reta final do curso. “A partir do momento que você entra numa empresa, em algum trabalho, tem um momento que você só quer se formar, então você não se dedica tão bem quanto você poderia se dedicar, porque você só quer fazer aquilo pra terminar logo.” É importante comunicar-se com os professores e colegas de trabalho sobre quaisquer dificuldades e buscar apoio quando necessário.

Saber sem idade

A Companhia Urbanizadora de Brasília, Novacap, criou uma oportunidade para que empregados concluam os estudos em parceria com Sesi e Senai. É o projeto “Saber sem idade”, uma parceria entre a Escola Corporativa da Novacap com o Sesi. A diretora e a coordenadora do Sesi, junto a Kamila Ferreira do RH da companhia, apresentaram o plano do EJA (educação de jovens e adultos) com o objetivo de auxiliar os colaboradores que têm o sonho de concluir os ensinos, dos anos iniciais ao ensino médio. 

Até 2023, mais 300 funcionários não haviam concluído o ensino fundamental e alguns analfabetos foram contabilizados, surgindo a necessidade de zerar esse segundo grupo. O curso é gratuito e serve de incentivo para que todos os funcionários tenham acesso a um ensino de qualidade em qualquer etapa. Mesmo aos que acham que não conseguem se adequar ao ensino, foi mostrado que sempre terão pessoas da equipe para auxiliar e todo o curso tem adaptações, como visuais e auditivas, facilitando o acesso para todos.

Com os ensinos concluídos as possibilidades de continuar são enormes, tanto para os colaboradores quanto para a Novacap. “Quando nos envolvemos e desenvolvemos nosso capital humano, temos esse retorno em serviços de qualidade e colaboradores que estão trabalhando mais engajados. Os colaboradores se sentem valorizados”, ressalta Kamila Ferreira.

Fotografia: Laís Nogueira / Companhia de Brasília incentiva o crescimento dos seus colaboradores

“Não teria como fazer um projeto para o desenvolvimento dos nossos colaboradores para graduação ou mestrado sem olhar para o nosso público que não teve ainda a oportunidade de concluir o seu ensino básico.” A funcionária da companhia reconhece a importância do projeto: “Hoje eu sei bem como isso pode ajudá-los no ambiente de trabalho para que eles se desenvolvam e, quem sabe, futuramente possam vir a ser doutores também. Porque não?”

A metodologia de ensino empregada é a de reconhecimento dos saberes, aproveitando as experiências de trabalho e de vida, atreladas ao conhecimento tradicional científico. São caminhos individuais que se adequam, baseados na matriz curricular atual que se divide em Linguagens, Matemática, Ciências da natureza e Ciências da tecnologia. Tendo tido início em fevereiro, as aulas seguem por 18 meses com 20% das aulas presenciais e todo o resto EaD, sempre com auxílio da equipe do Sesi.