O mês de outubro é um mês de diversas causas importantes. Destinado à conscientização de várias doenças que precisam de visibilidade, o mês também destaca-se por abordar a importância da saúde bucal. Instituído pela Lei nº 10.465/2002, o dia 25 de outubro celebra o Dia da Saúde Bucal, e também, do profissional cirurgião-dentista. A semana entre 25 e 29 de outubro é dedicada a campanhas de conscientização com palestras educativas em diversos estados do país. 

A boca, o primeiro órgão do sistema digestivo, tem um papel importante na saúde do ser humano e desempenha funções como a ingestão, a mastigação, a fala, e uma das funções mais importantes do organismo, a respiração. Ela também permite a entrada de diversos corpos estranhos para o corpo, que podem desenvolver doenças bucais e até cardíacas. Assim, o principal meio de evitar o acometimento de doenças proliferadas através do órgão, é com a boa higiene bucal e idas frequentes ao dentista, como afirma o cirurgião-dentista Vitor Costa. 

No Brasil, o acesso à saúde bucal é escasso. O SUS (Sistema Único de Saúde) integra atendimentos odontológicos gratuitos, porém, a pacientes de grupos restritos, como em atendimentos escolares e através de campanhas. Dessa forma, muitos pacientes precisam recorrer a planos de saúde odontológicos. Apesar disso, de acordo com dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 2019, apenas 28,5% da população brasileira possuíam algum plano de saúde, médico ou odontológico, restringindo ainda mais o acesso à saúde bucal. 

De acordo com dados do mesmo levantamento, menos da metade da população brasileira (49,4%) consultaram um dentista nos últimos 12 meses anteriores à data da entrevista. Também destacou-se uma diferença nas taxas de pessoas que procuraram dentista através do nível de rendimento econômico domiciliar. Em 2019,  entre as pessoas sem rendimento até um quarto do salário mínimo, 36% consultaram um dentista, e as que possuíam mais de cinco salários mínimos, a taxa chegou a 75,7%.

Assim, pode-se dizer que a atenção com a saúde bucal ainda é escassa no país e, por isso, faz-se necessário alertar sobre a importância e os cuidados necessários com a saúde bucal. Para isso, o dentista Vitor Costa alerta sobre as doenças acometidas pela falta de higiene e os cuidados devidos para preveni-las. 

Qual a importância do mês de conscientização da saúde bucal?

Eu acho que a importância desse mês de conscientização da saúde bucal é que muitas pessoas infelizmente não têm o conhecimento mais aprofundado sobre o assunto, e eu acho que quando se tem uma data ou um mês específico, isso chama a atenção e gera um interesse nas pessoas em se informarem e aprenderem sobre esse assunto. 

Infelizmente a saúde bucal é pouco discutida no Brasil, e grande parte da população ainda tem traumas de uma odontologia anteriormente muito invasiva. Antigamente era comum que se extraísse dentes que hoje em dia seriam facilmente tratados e recuperados. Essa odontologia antiga também não esclareceu muitas informações dos cuidados dos próprios pacientes no cotidiano, o que fez com que muitos adultos hoje em dia tenham que reaprender esses cuidados. Por isso é importante que se tenha datas destinadas a essa conscientização. Além de também ser uma oportunidade através dos eventos produzidos na semana de conscientização, para que os profissionais se atentem mais a essas instruções e cuidados. 

Quais são as doenças causadas pela falta de higienização e a falta de cuidados com a saúde bucal?

As principais doenças causadas pela falta de higienização são as cáries dentárias e as doenças periodontais que acometem os tecidos de suporte dentário. São relacionadas à proliferação bacteriana e acúmulo de placas e tártaros, o que gera perda gengival e óssea, ocasionando mobilidades dentárias. A cárie dentária também é gerada com o acúmulo de placa e de restos de alimentos nos dentes, assim as bactérias vão se alimentar desses restos de alimentos e acabam soltando substâncias que vão corroendo os dentes e criando essas cavidades que são as cáries. Além dessas doenças bucais, caso as bactérias entrem na corrente sanguínea, também podem ocasionar outras doenças sistêmicas a depender de qual parte do corpo infectar. Pode gerar desde infecções cardíacas até uma infecção generalizada. Claro que são casos raros, mas que acontecem, por isso é importante que se tenha os cuidados bucais adequados. Esses casos dependem também de outros fatores, como, por exemplo, o sistema imunológico da pessoa. 

Com quais cuidados os pacientes conseguem prevenir-se dessas doenças?

Evitando a proliferação bacteriana. Para isso, os cuidados devem ser desde uma higienização diária adequada, passando o fio dental todos os dias e escovando depois de todas as refeições, além de realizar check-ups em consultas de rotina com o dentista. Mantendo esses cuidados é muito pouco provável que se obtenha essas doenças. 

Também é importante acrescentar que uma forma de evitar proliferação bacteriana, e que é pouco falada, é através dos cuidados com as escovas de dentes. Uma escova mal higienizada e infectada por bactérias que circulam no banheiro pode causar diversas infecções. Por isso elas devem ser trocadas de três em três meses, e não devem ser mantidas em ambiente úmido e abafado. Os pacientes devem lavá-las e secá-las depois de todas as escovações.

Como deve ser feita a higienização bucal diária?

Deve ser feita no mínimo três vezes ao dia, mas quando possível deve ser realizada após todas as refeições. Eu também indico que seja feita, além da escovação, a passagem do fio dental e um bochecho com algum enxaguante bucal. Essa é a higienização básica que se deve fazer em uma rotina em casa, mas nos consultórios nós fazemos a profilaxia, que é uma limpeza mais profunda, sendo feita a remoção de tártaros e a aplicação de flúor. Ela é muito importante para que se higienize partes onde o paciente não consegue ou tem dificuldade de alcançar na escovação em casa.

Com que frequência os pacientes precisam ir ao dentista para fazer check-up e a limpeza bucal?

A frequência para o check-up tem que ser no máximo de seis em seis meses, mas o ideal é que seja de quatro em quatro meses, totalizando três vezes ao ano. O mesmo tempo é indicado para a profilaxia, para que possa fazer o controle da placa bacteriana e prevenir cáries.

Considerando o fato de que o acesso à saúde bucal é escasso no Brasil, como você orienta que os pacientes de baixa renda possam ter esses cuidados? 

Para os pacientes de baixa renda, existem postos de saúde que oferecem atendimentos odontológicos gratuitos através do SUS (Sistema Único de Saúde). Eles também devem sempre ficar atentos às campanhas de saúde bucal onde ocorrem atendimentos gratuitos. Geralmente são realizadas através da mobilização de vários dentistas em parceria com administrações de cidades ou do próprio governo.

Como você orienta que os pais cuidem da saúde bucal de seus filhos?

É importante que enquanto as crianças não tenham a capacidade de manter a própria higienização, os pais tenham bastante cuidado com isso, realizando a higienização para elas. Eles devem manter essa frequência que é realizada no adulto, de três vezes ao dia, passando fio dental todos os dias e observando sempre se não há cáries. Também devem sempre levar os filhos ao odontopediatra para ele observar se está tudo bem com a saúde bucal da criança. E a partir do momento que a criança começar a crescer, precisam ensiná-la a manter essa higienização. Mesmo depois que elas comecem a fazer a higienização sozinhas, é importante que ainda seja supervisionada.