Exame Papanicolau: DF tem um dos menores números do exame feitos pelo SUS

Pouco mais de 20% das mulheres realizaram o exame em 2022

Estefania Lima

Postado em 24/03/2024

O Distrito Federal apresenta um dos menores números do exame citopatológico – também chamado de exame Papanicolau – realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 2018. Os dados são do relatório anual do câncer do colo do útero feito pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), divulgados em outubro do ano passado, que traz, além de outros dados, o número de exames Papanicolau feitos pelo SUS de todos os estados e o DF. O exame é um dos principais métodos de prevenção ao câncer do colo do útero.

De acordo com o relatório, em 2018 apenas 31.610 exames foram realizados na rede pública. Já em 2022, foram realizados 63.140, praticamente o dobro do que em 2018, no entanto, isso representa pouco mais de 20% da população feminina apta ao exame na época.

Segundo dados do Previne Brasil apresentados no 3º quadrimestre do ano de 2023, o indicador atual do Distrito Federal é de 0,16, indicando que 16% das mulheres elegíveis realizaram o exame citopatológico dentro do período recomendado. Ao analisar os dados desse período, observa-se que cada região de saúde apresenta indicadores diferentes, sendo a região Oeste – regiões administrativas de Brazlândia e Ceilândia – a mais alta (21%) e a região Sudeste – regiões administrativas de Águas Claras, Recanto das Emas, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires – a mais baixa (13%). 

A vacinação contra o HPV e a realização regular do exame Papanicolau são as principais medidas de prevenção. Imagem por Freepik.

Para a pesquisadora da Fiocruz do Projeto Marco (Manejo do Risco de Câncer Cervical), Ana Ribeiro, determinar onde está o “gargalo” da baixa na cobertura do exame pelo SUS é uma atividade bastante complexa, porém ela cita alguns possíveis motivos, como “baixo acesso aos serviços de saúde de algumas regiões mais vulneráveis, falta de conscientização da população sobre a importância do exame na detecção precoce no câncer do colo do útero, além da limitação dos serviços de saúde”. Ribeiro também afirma que “existem estigmas sobre o desconforto do exame e mitos relacionados à realização do procedimento”. “Para ampliar a cobertura do exame citopatológico pelo SUS é essencial abordar esses aspectos”, comenta a pesquisadora.

Procurada, a Secretaria de Saúde do DF reconheceu a baixa cobertura do exame e disse que através dos indicadores mapeados pelo Previne Brasil será possível a implementação de estratégias específicas. A secretaria também informou de um Plano de Intervenção, iniciado em 2023, que amplia e qualifica o rastreio do câncer de colo de útero no Distrito Federal, criando planos de ação específicos para cada Região de Saúde.

Segundo dados do Inca, para cada ano do triênio 2023-2025 foram estimados 17.010 novos casos de câncer do colo do útero, o que representa uma taxa de 11,05 casos a cada 100 mil mulheres no DF.

O estudo “Quanto custa o câncer”, do Observatório de Oncologia, mostrou que o gasto federal em saúde passou dos R$ 136 bilhões em 2022. Desse valor, quase R$ 4 bilhões foram gastos em tratamento oncológico, divididos em tratamento ambulatorial (77%), cirurgias (13%) e internações (10%). 

A vacinação contra o Papilomavírus Humano (HPV) e a realização regular do exame Papanicolau são as principais medidas de prevenção. Contudo, a pesquisadora Ana Ribeiro também ressalta: “Mesmo quem já tomou todas as doses contra o HPV, ainda precisa realizar o exame de prevenção regularmente pois a vacina protege contra alguns tipos oncogênicos do HPV, mas existem vários outros tipos que podem causar o câncer do colo uterino”.

Exame Papanicolau

O exame Papanicolau é um procedimento médico utilizado para detectar precocemente alterações nas células do colo do útero. Essas alterações podem indicar lesões pré-cancerosas ou cancerosas. Ele recebe o nome em homenagem ao patologista grego Georges Papanicolaou, responsável por desenvolver o método.

Segundo o Ministério da Saúde, toda mulher que tem ou já teve vida sexual, independente da orientação sexual, deve submeter-se ao exame preventivo periódico, especialmente as que têm entre 25 e 64 anos. Inicialmente, o exame deve ser feito anualmente. Após dois exames seguidos (com um intervalo de um ano) apresentando resultado normal, o preventivo pode passar a ser feito a cada três anos.

Para garantir a precisão dos resultados, é recomendado que a mulher se abstenha de relações sexuais (mesmo com proteção) e evite o uso de duchas, medicamentos vaginais e anticoncepcionais locais nas 48 horas que antecedem o exame. Além disso, é importante que o teste não seja realizado durante o período menstrual, já que a presença de sangue pode interferir nos resultados.

Mulheres grávidas também podem se submeter ao exame sem risco para a própria saúde ou a do bebê, afirma o Ministério da Saúde.

Exame é indicado para mulheres de 25 aos 64 anos que já tenham iniciado a vida sexual. Imagem por Freepik.

Março Lilás

Março Lilás é uma campanha anual de conscientização sobre a prevenção e o combate ao câncer de colo do útero, o terceiro tumor maligno mais frequente na população feminina do Brasil. A campanha acontece durante todo o mês de março, com o objetivo de mobilizar a sociedade para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce da doença. 

Apesar de muito incidente, o câncer de colo do útero é altamente prevenível e curável quando detectado de forma precoce.