Implanon e “chip da beleza”: entenda as diferenças

Fake news envolvendo esses implantes trouxe a necessidade de explicar as indicações e as contraindicações de uso

Giovanna Estrela

Postado em 06/04/2022

Muitas dúvidas e polêmicas rodeiam o Implanon e o chamado “chip da beleza”, dois tipos de implante que têm ações e funções diferentes. Numa era tomada por redes sociais e influencers, a beleza estética tem sido assunto frequente, principalmente, quando se trata de formas rápidas, fáceis e simples de atingir o padrão que foi imposto pela sociedade. 

A blogueira Virginia Fonseca causou alvoroço após dizer que colocou o “chip da beleza” para não engravidar. “Eu tenho aquele chip contraceptivo, que chamam de ‘chip da beleza’. Ele também ajuda com massa muscular, massa magra, ajuda com celulite”, disse a influencer em janeiro deste ano. 

Em setembro do ano passado, a Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) se posicionou afirmando que não existe recomendação do uso desse implante para contracepção. “Embora a gestrinona possua ação antiovulatória, não existem, em todo mundo, estudos para a aprovação regulatória do fármaco com finalidade contraceptiva”, disse a entidade em seu site oficial.

O “chip da beleza” vem ganhando destaque, justamente, pelas promessas de ação anticoncepcional, melhora da pele e do cabelo, diminuição de gordura localizada e ganho de massa muscular. Entretanto, nem tudo é como parece.

O tal “chip da beleza”

O “chip da beleza” é, na verdade, um implante hormonal de gestrinona que foi criado com intuito de ajudar no tratamento de doenças como endometriose, adenomiose e mioma, mas que foi erroneamente vinculado a fins estéticos após algumas pacientes notarem um efeito colateral “benéfico”: o emagrecimento. A dosagem de gestrinona é decidida pelo médico de forma individualizada, ou seja, para cada pessoa, haverá uma fórmula diferente. Atualmente, não existe produção de gestrinona oral pelas indústrias farmacêuticas brasileiras, portanto, o uso abusivo da gestrinona tem sido realizado por meio de implantes hormonais.

Em nota publicada no dia 6 novembro de 2021, a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) alertou sobre os efeitos colaterais do uso da gestrinona. “Os relatos de efeitos adversos associados ao uso de implantes de gestrinona e outros hormônios androgênicos em mulheres aumentam a cada dia: acne, aumento de oleosidade de pele, queda de cabelo, aumento de pelos, mudança de timbre da voz, clitoromegalia.”

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por se tratar de substância hormonal, e com possibilidade de causar eventos adversos graves, a gestrinona foi banida de diversos mercados e, inclusive, considerada de uso proibido para atletas por ter ações anabolizantes, segundo a Agência Mundial Antidoping. Os especialistas da Agência ainda ressaltam que “inexistem evidências técnicas e científicas que dariam suporte ao uso da gestrinona implantável para fins de emagrecimento, ganho de massa muscular, sintomas de tensão pré-menstrual, regulação de períodos menstruais, aumento da libido e estéticos”.

Quanto à divulgação desse implante, a Anvisa diz que a proibição da propaganda de gestrinona é a primeira medida a ser tomada para reduzir a exposição do produto à população em geral. “Embora a Anvisa possua mecanismos para retirada de anúncios na internet, incentivamos a população a denunciar a publicidade e a propaganda da substância gestrinona (e seus supostos nomes comerciais) para que possamos tomar as providências cabíveis”.  

Até o momento, não há nenhum implante hormonal industrializado disponível no mercado brasileiro autorizado pela Anvisa, com exceção do implante anticoncepcional de etonogestrel, o Implanon. 

O Implanon possui falha de apenas 0,05% | Foto: Imprensa Guarujá

Método contraceptivo mais eficaz do mundo 

O Implanon é um implante contraceptivo de etonogestrel, um tipo de progesterona sintética. Atualmente, é o método mais eficaz do mundo, com duração de 3 anos e que possui 99,95% de eficácia. Sua função é inibir a ovulação, espessar o muco cervical e afinar o endométrio, fazendo com que o ambiente uterino seja menos favorável aos espermatozoides. 

“O Implanon é um método muito seguro. Costumo indicar bastante”, diz o ginecologista Norberto Junior | Foto: Arquivo pessoal

O ginecologista Norberto Junior diz que o Implanon é indicado para, praticamente, qualquer mulher. “Esse método pode ser indicado, tanto para uma menina de 16 anos, quanto para uma mulher de 45. Podemos usá-lo para anticoncepção, tratamento de endometriose, tratamento de sangramentos causados por miomas”.

O implante é inserido na parte interna do antebraço e custa, em média, R$1.000 podendo chegar a R$4.000 em algumas regiões. Como todos os medicamentos, o Implanon também possui efeitos colaterais, dentre eles, sangramento de escape, surgimento de acne e dores nas mamas. O doutor afirma que é possível fazer tratamentos para diminuir o surgimento de espinhas e as dores mamárias, mas que, muitas vezes, o problema dos sangramentos excessivos faz com que algumas mulheres optem por trocar de método. “Por sorte, menos de 10% das pacientes passam por isso”, disse.

O ginecologista acredita que o motivo de tantas pessoas confundirem o método contraceptivo Implanon com o implante de gestrinona, conhecido como “chip da beleza”, é a falta de informações corretas. “As pessoas acham que os implantes são todos iguais, mas não são. A causa da confusão é por desconhecimento das pessoas e, às vezes, até dos meios de comunicação que estão transmitindo informações equivocadas”. Norberto aproveita para fazer um alerta sobre o “chip da beleza”. “O implante de gestrinona não deve ser usado para fins estéticos. Se, ao entrar num consultório, o médico te oferecer um ‘chip da beleza’, vire as costas e saia! Esse médico não é confiável.”