Moda consciente vira nova sensação entre os brasilienses

Mercado tem crescido consideravelmente na capital federal nos últimos anos 

Sarah Almeida

Postado em 12/04/2022

A moda consciente veio para revolucionar o mercado da moda, não somente na forma de consumo, mas também no modo de produção, desde as matérias primas até a maneira como ela chega nas mãos do consumidor. Os brechós têm sido alvo dos adeptos da moda consciente que procuram roupas e acessórios atemporais, funcionais e que não tem um descarte rápido. Além disso, buscam estar sempre incentivando e valorizando os pequenos produtores.

A crescente no ramo é considerável, já que a conscientização é maior, principalmente, sobre o movimento “Fast Fashion”, promovido pelo mercado da moda convencional. Ele conta com uma constante produção, por vezes, com mão de obra barata abaixo do piso salarial e uma necessidade de renovar coleções inteiras em um curto espaço de tempo, cerca de 15 dias. 

Além disso, fatores econômicos contribuem para essa ascensão do usado. Após a pandemia causada pela Covid-19 os estabelecimentos que comercializam produtos de segunda mão cresceram 48,58%, nos primeiros semestres de 2020 e 2021, de acordo com levantamento realizado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). 

Onde estão esses brechós? 

Atualmente, o mercado digital tem sido a principal fonte de renda de muitas pessoas. Devido a facilidade de acesso, qualquer pessoa pode abrir seu brechó em forma de uma loja virtual pelas redes sociais, ou até mesmo, fazer os seus “desapegos” por sites específicos para isso. O alcance das redes contribuiu muito para a expansão desse mercado, principalmente quando todo mundo foi obrigado a ficar em casa. 

Amanda Cravo, fundadora da loja virtual Brechó do Cerrado fala sobre o poder do Instagram, por exemplo, sobre o seu empreendimento: “O meu brechó é movido pelo Instagram. Sem essa ferramenta de trabalho ia ser muito mais difícil pois além das minhas peças serem vendidas por lá, é por onde eu divulgo as novidades e informações”. Hoje ela conta com mais de 9.000 seguidores e a loja é um sucesso. 

A ideia de montar um brechó surgiu de maneira quase sem querer e ela conta que a expansão do negócio se deu de maneira rápida, sendo esse mais um indicativo do sucesso do mercado de segunda mão. “A loja surgiu depois que voltei de uma viagem e queria me desapegar de algumas roupas que não combinavam mais comigo. Foi bem fluído, não tinha a intenção de tornar isso um trabalho mesmo. Mas ela foi crescendo cada vez mais e fui me apaixonando por garimpar e pelo processo de curadoria”.

Amanda Cravo, fundadora do Brechó do Cerrado e modelo da própria marca. Fonte: Reprodução Pessoal

Para ela, um dos diferenciais do mercado da Moda Consciente é a atemporalidade das peças. “Amo acompanhar de perto uma peça que foi abandonada lá pelos anos 90 ser garimpada hoje como uma tendência”. Além disso, ela também cita a customização como uma forma de trazer para as roupas uma nova personalidade antes de chegarem na mão de outra pessoa.

Preconceito pelo reuso 

Apesar da grande viralização desse tipo de comércio, ainda há por parte de algumas pessoas um preconceito pelas peças usadas. “Muita gente ainda tem preconceito com itens usados e nós, donos de brechó, vemos isso sempre quando vamos expor as peças, por exemplo. Sempre tem aquelas pessoas que perguntam se é roupa usada, quando respondemos que sim, vão embora. Outras ainda perguntam de quem pertencia a roupa, para saber se a “energia” da peça é boa. Acho isso um absurdo!” cita a criadora do Brechó do Cerrado. 

Em contrapartida ela também acredita que hoje em dia essa questão está bem melhor em comparação a alguns anos atrás, pois não tem como negar que ultimamente o mundo dos brechós tem crescido consideravelmente e muitas das pessoas que tinham preconceito antigamente, atualmente conseguem comprar com mais facilidade. 

Evento em Brasília reúne moda e sustentabilidade 

O Circuito Sustentável, fundado por Ana Gilgal, é um coletivo de brechós, marcas autorais e artistas independentes que reforçam a importância do consumo consciente e tentam levar isso para a comunidade. Basicamente, ele tem esse propósito de unir os pequenos empresários para fazer algo grandioso e além de tudo, ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade com as doações recebidas e as roupas que não são vendidas.  

Ana conta que o projeto surgiu em meio a pandemia, quando não estava tendo evento algum na cidade. “O Circuito Sustentável nasceu no meio da pandemia em um momento escasso de eventos culturais em Brasília e eu decidi dar vida a um projeto que estava no papel há muito tempo”. Ela é a principal idealizadora do projeto, mas conta com a ajuda de uma amiga, a DJ Nayla, recém-formada em produção de eventos. 

A seleção dos participantes é feita de maneira minuciosa, de acordo com Ana. Ela cita que tem uma curadoria bem rígida com os brechós e marcas selecionados. “Nós sempre buscamos estar acompanhando os perfis que selecionamos justamente para investigar o processo de produção deles, se é algo que nos passa um comprometimento e responsabilidade”. 

Ela também enfatiza o poder das redes sociais sobre o sucesso da feira, pois toda a divulgação dela é feita por elas e esse também é um critério indispensável para selecionar os colaboradores do projeto. “Infelizmente não podemos colocar perfis que não são ativos no Instagram porque é nossa principal ferramenta de divulgação”. 

Ana acredita na versatilidade do setor da moda sustentável e confia que ele será um dos negócios do futuro. “O nosso setor é adaptável e tende a grandes mudanças e nós estamos nos preparando para todas elas”.