Nem 4% dos sites brasileiros têm acessibilidade para pessoas com deficiência

Em 19 de maio foi comemorado o Dia Mundial de Conscientização sobre Acessibilidade Digital

Cynthia de Carvalho Lima

Postado em 22/05/2022

A Lei Brasileira de Inclusão (LBI 13.146) determina que os sites brasileiros mantidos por empresas com sede ou representação comercial no país ou por órgãos de governo sejam acessíveis para pessoas com diversos tipos de deficiência. Entretanto, a maioria dos sites ativos no Brasil não tem acessibilidade digital a todos. Como mostra uma pesquisa realizada em 2021 pelo BigDataCorp em parceria com o Movimento Web Para Todos, de 16,89 milhões de sites ativos no Brasil, 96,79% não são acessíveis para pessoas com deficiência.

Para Suzeli Rodrigues, coordenadora do Movimento Web Para Todos, a acessibilidade digital deve ser algo garantido a todas as pessoas com ou sem deficiência para que tenham autonomia de usar o que quiserem na web. “Ela permite que as pessoas tenham acesso à informação e com isso exerçam a cidadania, além de possibilitar que todos se divirtam, estudem, façam compras, gerenciem suas contas bancárias e muito mais”.

Dificuldades

Para o deficiente visual Élcio Pimenta as maiores dificuldades encontradas nos sites e plataformas da web são em relação aos materiais da faculdade: muitos não têm descrição de imagem ou seu leitor de tela não reconhece o conteúdo. Além de vídeos sem alternativas textual e sonora do conteúdo que está sendo exibido, links mal descritos (prejudicando o acesso mais rápido de conteúdo de um site) e formulários sem sequência lógica e sem descrição adequada.

📷Arquivo Pessoal/Élcio Pimenta
Élcio utiliza com frequência no seu computador o leitor de tela livre NonVisual exclusiva para a Microsoft Windows

Acessibilidade digital

Para Suzeli, precisamos ter mais empatia com o próximo, principalmente na internet, onde se pode adquirir conhecimento e todos merecem utilizar desse recurso.’’ A acessibilidade digital favorece todas as pessoas, incluindo as idosas de baixo letramento, que estão acessando a web pela primeira vez, e também as que não apresentam nenhuma dessas limitações.’’

Para Élcio, a acessibilidade digital tem muita importância para uma série de recursos que irão possibilitar a navegação, a compreensão e a interação de qualquer pessoa na web sem ajuda de ninguém.

Recomendações

Suzeli recomenda que os sites sigam as principais diretrizes de acessibilidade digital, como a WCAG (Web Content Accessibility Guidelines,) que possui parceria com o Movimento Web Para Todos e tem a finalidade de estabelecer padrões para a criação e a interpretação de conteúdo para a Web. ‘’Na WCAG há diversas recomendações em programação, design e conteúdo para que estejam acessíveis a todas as pessoas. São ajustes de texto, contraste de cores, tipo de linguagem, ajustes para permitir a navegação pelo leitor de telas para pessoas cegas e baixa visão, navegação pelo teclado para pessoas com limitações motoras, entre outras recomendações que não são difíceis de serem implementadas. De uma forma geral, os mesmos critérios devem ser seguidos para as redes sociais na hora de produzir um texto, vídeo ou criar uma arte. É preciso também descrever as imagens tanto no campo de texto alternativo quanto no final da legenda”.

Movimento web para todos

Foi pensando nessas diretrizes que surgiu o Movimento Web Para Todos, que segundo Suzeli tem o objetivo de acelerar o processo de transformar a web em um ambiente mais inclusivo para todas as pessoas, inclusive as que possuem algum tipo de deficiência. ’’Hoje são mais de 30 organizações parceiras da iniciativa, incluindo o W3C (consórcio internacional que estabelece as diretrizes da Web em todo o mundo), focadas na construção de uma sociedade digital mais acessível e justa.’’

Para a coordenadora, ao adaptar sites e aplicativos, facilita-se também a vida de idosos e pessoas de baixo letramento, além de crianças, pessoas com limitações temporárias, deficiência auditiva, visual, cognitivas e intelectuais. ’’Mobilizamos a sociedade (empresas, instituições de ensino, profissionais de marketing digital, entre outros públicos) por meio de palestras de sensibilização e oficinas técnicas (para ensinar como construir sites e apps acessíveis para todos – em termos de design, programação e conteúdo). Oferecemos também consultoria para adequação de sites e aplicativos, com diagnóstico realizado por especialistas da nossa rede.’’