O temido vestibular de medicina

Estudantes que escolhem o curso enfrentam grande concorrência para poucas vagas

Fernanda Rodrigues Ferreira

Postado em 13/06/2022

As férias de verão e as de julho são períodos em a maioria dos estudantes brasileiros está descansando ou viajando. Contudo, é o momento em que os vestibulandos de medicina se dedicam ao máximo para enfrentar os vestibulares mais desafiadores. No último vestibular da Universidade de Brasília (UnB), em fevereiro deste ano, a medicina foi o curso mais concorrido. No sistema universal, havia 3.423 mil pessoas disputando 20 vagas.

A professora de pré-vestibular Daniela Barbosa diz que a grande dificuldade está na interpretação de textos e no domínio vocabular. Foto: Banco de Imagens

Além do estudo, um sistema difícil

A professora de pré-vestibular Daniela Barbosa diz que o preparo é bastante intenso com materiais de ponta na maioria dos cursinhos, mas poucos têm uma proposta mais individualizada para guiar cada aluno. “Sabe-se que o aluno com perfil para Medicina, muitas vezes, precisa apenas de um norteamento específico para ser aprovado. Em geral, trata-se de um aluno que tecnicamente já possui uma excelente base de formação  e a aprovação depende do direcionamento dos estudos para conteúdos e/ ou disciplinas onde ainda há determinados aspectos a serem aprimorados.”

Ana Letícia Ramos, 22, passou 4 anos se dedicando aos vestibulares de medicina e ela conta a pressão que foi o primeiro vestibular: “Estava tão nervosa que errei o local de prova, a minha sorte foi que o local correto ficava na mesma rua”.

A saúde mental dos estudantes é algo debatido nesse período. Ana Letícia relata que na época do preparatório a saúde mental era a sua menor preocupação. “Eu achava que não tinha tempo para pensar nisso e acabei pagando o preço. Eles sempre cobram um rendimento absurdo que acaba abalando um pouco o emocional, tanto que eu sempre passava mal antes de ir para a prova.”

Humberto Novais, 21, passou três anos se preparando para passar em medicina, sendo o primeiro ano enquanto ainda estava no ensino médio. Ele diz ser cruel o sistema de avaliação para passar. “É muito ruim porque é um ambiente muito tóxico, é muita concorrência, se você não souber alguma coisa assim já chega outra pessoa e menospreza.”

Os custos pesam

Todos os vestibulares  prestados por Ana Letícia foram em  instituições públicas. “Nunca fiz um vestibular de instituição particular por saber que não ia conseguir pagar, medicina é um curso muito caro”. Em Brasília há quatro faculdades particulares de medicina, onde a mensalidade começa a partir de R$8 mil. 

Daniela aponta que os preparatórios para Medicina, majoritariamente, ofertam aulas  que não se destinam a vestibulares específicos. Todos, em geral, ofertam uma base aprofundada dos conteúdos de cada disciplina. Na visão dela isso traz alguns entraves, pois se direcionam ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), prova com linguagem e abordagem bem diferente das demais federais. “Alguns, abrem turmas para particulares, em virtude da dissonância do teor das provas em relação à das federais. Ademais, são preparatórios , em geral, com alto valor de mensalidade, o que corrobora ainda mais para a  manutenção do elitismo  histórico em torno do curso; no entanto, no último ano, surgiu um  movimento interessante por parte de alguns setores empresariais, de ofertar esse preparatório de forma mais acessível para àqueles alunos que não podem pagar mensalidade”, diz. 

Humberto fez preparatório para o vestibular no mesmo colégio em que estudou. Foto: Arquivo Pessoal

Humberto prestou vestibular para instituições fora de Brasília, mas seu foco era o Enem. Ele conta que demorou a acreditar que havia passado, pois no dia em que saiu o resultado ele não conseguia acessar o site; seu primo viu e avisou. “Quando ele me falou que havia passado, não acreditei, só caiu a ficha quando o site voltou, isso duas horas depois dele ter me falado.”

Ana Letícia acabou apostando na sua segunda opção: Direito. Ela conta que foi uma mistura de cansaço com o tempo dedicado aos estudos. “Eu percebi que eu estava tão fixada que talvez eu estivesse tentando só por teimosia, sem, contudo, dar chance para outras ideias, como o Direito”. Hoje, ela cursa o segundo semestre na UnB e conta que não pensa mais em medicina.