Projeto social de karatê na Ceilândia forma atletas e cidadãos

Iniciativa impacta comunidade e incentiva o “caminho das mãos vazias”

Anabelle Amorim

Postado em 25/03/2024

O projeto social Karatê IBPM, criado em 2009 na Ceilândia Sul, trabalha para formar atletas e proteger as crianças da região da violência e criminalidade. Gratuito, o trabalho é mantido pela Igreja Batista Primeiro de Maio (IBPM) e por voluntários, servindo de alternativa para as crianças da comunidade, que ocupam parte do sábado e da segunda com a prática. Marcelo Santos da Silva, advogado e sensei que comanda o dojo do projeto, lembra como foi o início. “O karatê começou como parte de um projeto maior, que era o Projeto Social Cristão Desportivo (Pesca) e envolvia outras atividades. […] dessas, o karatê foi a que persistiu e eu continuei utilizando as dependências da IBPM para compartilhar com as crianças da comunidade e da igreja o que eu sei”.

Ceilândia, onde o projeto ocorre, é a atual líder de crimes entre as RAs do Distrito Federal, segundo a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), e também lidera na quantidade de menores apreendidos. Para Marcelo, o trabalho é uma ferramenta de combate a essa situação, ensinando valores como respeito e disciplina para os alunos, além de mantê-los ocupados. O projeto também traz muitos outros benefícios. “Ele ajuda a garotada a sair dos meios virtuais, a fazer amizades, a ter consciência do próprio corpo, entre tantos outros”.

Para Daniel Luiz, o karatê é muito mais que “chute e soco” / Foto por Anabelle de Amorim

O karatê tem efeitos positivos na vida de seus praticantes

Daniel Luiz Dias, estudante de medicina e faixa preta, é um dos alunos mais antigos do projeto e pratica karatê há doze anos. Para ele, a arte marcial foi essencial em sua vida, o ensinando coisas que utiliza até hoje nos estudos e plantões médicos que frequenta. “O karatê vai muito além de uma atividade física, é […] um estilo de vida. Karatê-do, o nome completo do esporte, significa “caminho das mãos vazias”, que faz alusão a guerra civil japonesa, onde guerreiros lutavam sem armas. Atualmente, ressignificamos esse como o caminho do guerreiro, um caminho de equilíbrio e integralização do ser. Não se trata só do esporte, é uma questão de autocontrole, de responsabilidade. É uma forma de ensino que te acompanha nas adversidades do esporte e da vida”. Seu pai, Washington Luiz Dias, acredita que o esporte foi muito importante na vida do filho, o ensinando a lidar com frustrações e a seguir em frente em meio a desafios.

Sophie Emanuelly, que com 8 anos já é faixa laranja, vê os encontros do karatê como um dos melhores momentos de sua semana. “Eu gosto muito de treinar, tanto luta como kata. Acho divertido”. Para a atleta, a arte marcial já fez muita diferença em sua vida, a ajudando a lutar contra a timidez e a ter mais autoconfiança. Ela quer continuar no projeto por muito tempo e pretende se tornar faixa preta nos próximos dez anos. Katiuscia Oliveira, mãe de um dos atletas do projeto, fica muito feliz com a participação do filho. “Acho muito importante ele sair de casa e ter esse momento de mexer o corpo e fazer amigos. Estando aqui, sei que ele está em um bom lugar”.

Atletas de todas as faixas etárias participam do treino e trocam experiências e conhecimento / Foto por Anabelle de Amorim