Psicólogos trazem reflexão sobre a glamourização da vida nas telas

De acordo com uma pesquisa realizada pela Tic Kids Online Brasil, cerca de 78% de jovens entre 9 e 17 anos utilizam redes sociais; aproximadamente 83% checam as mídias mais de uma vez ao dia

Nicolle Maica

Postado em 03/04/2024

Com a crescente transformação da era digital, diversos jovens se prendem no mundo tecnológico, muitas vezes esquecendo do mundo real. A principal observação através do convívio diário e de notícias é em como essa prática excessiva molda o comportamento da sociedade em formação.

Para profissionais da área de psicologia, o conteúdo consumido nas redes, porém, pode trazer reflexos na forma como os jovens percebem a si mesmos, sobretudo quando se instalam cenários comparativos com padrões inatingíveis e quando não há a devida reflexão a respeito do endeusamento da vida nas telas.

Além disso, a quantidade de tempo despendida pode comprometer o envolvimento dos jovens com outras dimensões de suas vidas que são importantes para a conectividade social e desenvolvimento de repertório que influencie positivamente sua autoestima.

Do ponto de vista da psicologia social nos atendimentos, um aspecto comum é a perda de qualidade e interação em contextos não virtuais e a dificuldade de lidar com outras dimensões da vida. Isso se reflete em baixa autoestima, excesso de comparação, distorções cognitivas, vício pela dopamina causada por muitas informações que a internet proporciona, baixo desempenho acadêmico, conflitos parentais e no isolamento, podendo chegar à evasão. Esse dado é um aspecto relevante pois a conectividade social é um importante preditor de saúde mental e de prevenção ao suicídio. Ou seja, quando uma pessoa deixa de manter relações sociais saudáveis, se torna mais suscetível aos impactos negativos em sua saúde mental, dizem os profissionais da área da saúde.

Influencers
Mariana Rodrigues Nascimento, que possui mais de 600 mil seguidores na plataforma TikTok com o conteúdo voltado à beleza e comédia, comenta sobre autoestima nas mídias sociais. “Às vezes me sinto afetada por um físico que vejo e desejo. Muitos influencers mostram um estilo de vida e corpo que não condizem com a realidade, causando comparações”.

A respeito dos cuidados de seu conteúdo nas redes sociais, Mariana comenta: “Antes de postar qualquer coisa, penso como aquilo vai afetar meus seguidores. Sou uma pessoa que fala muito palavrão, mas como várias crianças me seguem, tento ao máximo não falar porque sei que não é uma boa influência para elas”.

Influencer digital | Crédito: pexels

Como melhorar este comportamento?
Profissionais da área da psicologia sugerem algum espaço de escuta ativa, sendo um importante facilitador para que haja limites saudáveis no uso das redes sociais e menor vulnerabilidade às informações e conteúdos consumidos. “Embora seja difícil estar em uma condição na qual se sente exposto, excluído ou invisibilizado, buscar o vínculo e uma melhor inserção nos grupos sociais dos quais participam é um caminho possível para os jovens. Entretanto, pensar novas rotas possíveis para a juventude não é tarefa que possa ser individualizada e precisa ser trazida para a
discussão no âmbito ampliado da sociedade”, diz Simone Cassiano, psicóloga.

Dara Vidal, também psicóloga, conta como se blindar dos efeitos negativos do excesso de contato com as mídias: “Tomar cuidado com filtros e com os influencers, ver se eles estão sendo éticos e realistas; se precaver da positividade tóxica que está bem em alta.”

Com esse levantamento e somado ao artigo “A relação entre o uso das redes sociais e a saúde mental dos adolescentes” de 2022, os dados comprovam que seu uso causa riscos através da dependência das mídias. “Conectar-se a uma rede social proporciona aos usuários uma sensação de segurança, mas quando a realidade não supera as expectativas, pode gerar sentimento de insegurança, desconforto, ansiedade, solidão, impotência e depressão”. É o que dizem estudos levantados no artigo de Anna Cunha, Igor Resende e Júlia da Silva.

Abraço em grupo e acolhimento | Crédito: Freepik