Brilho das festas juninas volta para as igrejas

Paróquias sofreram com a ausência do junino, mas têm grandes expectativas para 2022

Vinicius Vicente

Postado em 21/06/2022

A época de festas juninas já começou, o que também inicia a movimentação econômica, que foi igualmente interrompida pela pandemia. As paróquias e igrejas foram muito afetadas pela ausência de festas, até mesmo porque os lucros recebidos são totalmente voltados para benefícios comunitários, de ação social. Padres e comunidades paroquiais sentiam a falta do junino e dizem que o retorno é extremamente importante. Por causa disso, ele recebeu um maior investimento esse ano em comparação com outras edições.

O movimento junino existe no Brasil há cerca de cinco séculos e sempre como uma homenagem a Santo Antônio, São João e São Pedro, imagens amplamente ligadas à igreja católica. Nas últimas décadas é possível perceber um aumento no número e na diversidade de celebrações pelo Brasil. Só em Brasília são mais de 40 celebrações marcadas para 2022.

É esperado um grande aumento pela procura dos insumos juninos, apesar da grande alta na inflação em comparação com anos passados. De acordo com o Sindicato dos Comerciantes Varejistas do DF (Sindvarejista), a procura pelos produtos juninos deve subir entre 14% e 20% até o fim de junho, superando a queda de 43% registrada em 2020 e a alta de 3% no mesmo período de 2021. “A cultura em torno das festas juninas tem tudo para se reforçar, o que é excelente para o comércio”, explica o presidente do Sindvarejista, Sebastião Abritta.

As igrejas

Enquanto as expectativas dos varejistas aumentam, igrejas e entidades beneficentes procuram soluções para amenizar o aumento nos preços. Padre Renato Schneider, pároco da igreja Santa Teresinha no Cruzeiro, conta que a festa, que aconteceu nos dias 4 e 5 desse mês, recebeu cerca de 10 mil pessoas e que os ganhos serão utilizados para melhorar a estrutura física e digital da paróquia, para receber cada vez mais pessoas. “Tivemos um bom resultado final, porém as despesas aumentaram com a alta dos produtos alimentícios, pós pandemia. As decorações foram doadas pelas pastorais e movimentos da paróquia, que todos os anos, com criatividade, decoram o ambiente”, diz o pároco.

A festa recebeu comerciantes locais, que ocuparam duas barracas, investiram na divulgação e receberam o lucro da própria venda, além de diminuir os custos de produção da igreja. João Victor de Brito, dono de um food truck de pizzas artesanais, fechou parceria com a igreja cruzeirense para participar em uma das barracas na festa e conta que apesar do aumento constante no preço dos insumos, a retomada das comemorações aumentou a procura e, consequentemente, o lucro. “Acredito que as vendas irão melhorar, pois é uma excelente oportunidade para divulgar nosso trabalho”, aponta João.

Barraca cedida para a venda de pizzas artesanais ao negócio de João Victor. Arquivo pessoal

Outras paróquias procuraram manter apenas barracas próprias, visando maior autonomia e ganhos sobre as vendas, como é o caso da Paróquia São Pio, no Sudoeste, que está construindo um novo espaço no bairro. Fernando Alves de Sousa, padre responsável pela igreja, conta que as festas recebem muita ajuda dos paroquianos e que cerca de metade dos insumos são doações dos mesmos. Ele defende: “Os preços aumentaram quase 20%, em comparação com 2019 e nós seguimos essa linha, mas também ganhamos mais colaboradores. Hoje temos cerca de 170 voluntários que auxiliaram na realização da festa”. 

Os voluntários

As paróquias não usam mão de obra remunerada nessas ocasiões, então o auxílio de voluntários é o que mantém as barraquinhas e montagem das juninas funcionando. Cecília Maciel, voluntária na Santa Teresinha, conta que não percebeu aumento no preço dos produtos, mas sim queda no preço das decorações. Sobre o aumento de preços e pessoas, ela relata: “Eu já participei dos eventos, mas essa foi a primeira vez como voluntária nas barracas. Esse ano tinham tantas pessoas, tanto trabalhando, quanto consumindo, que era difícil de passear pela festa.”

Festa junina da Paróquia São Pio, no Sudoeste

Andrea Putini, voluntária na São Pio desde 2019, foi responsável pelos descartáveis esse ano. Ela conta que foi necessário um cuidado redobrado na produção, principalmente nos equipamentos de proteção. “Vi os aumentos nos preços de perto. Com a pandemia, tudo subiu, mas ainda iremos fazer as contas dos ganhos e gastos para saber qual o resultado”, explica Andrea.