Entenda mais sobre o custo do exercício do direito à privacidade na internet

Em 2021, aproximadamente 223 milhões de brasileiros, inclusive falecidos, tiveram seus dados pessoais vazados na chamada “dark web”

Leonardo Ramos de Moraes

Postado em 14/05/2022

A privacidade é um direito complexo de se manter, caro de se resguardar e sua perda pode ter um custo emocional e financeiro muito alto

Com o avanço da tecnologia e a globalização dos novos meios de comunicação, as ameaças à privacidade na internet se tornaram um problema real e recorrente. Não são apenas os que se expõem nas redes sociais que correm perigo, mas, também, os discretos cidadãos que mal acessam a internet.

Em 2021, aproximadamente 223 milhões de brasileiros, inclusive falecidos, tiveram seus dados pessoais vazados na chamada “dark web”. Entre as informações divulgadas haviam CPFs, CNPJs, nomes, sexo, data de nascimento, escolaridade, histórico de compras, buscas, dívidas… Listas com dados de milhões de pessoas estão à venda na internet e as fraudes só se acumulam. 

Estelionatários agindo como hackers vêm assombrando desde os usuários mais despreparados até mesmo grandes empresas e órgãos do governo. Sim, todas as suas informações, mesmo aquelas que você confiou que seriam mantidas como sigilosas por certos serviços, estão ao alcance de todos .

Dados de empresas e de seus clientes também padecem do mesmo mal. No início de 2021, o site crypto.com, que negocia criptomoedas, foi hackeado, causando um prejuízo de 35 milhões de dólares ao negócio. Segundo a revista Forbes, em março de 2022, a blockchain, base de contratos que regulamentam as transações em criptomoedas, da empresa Ronin Network, foi hackeada. O prejuízo nesse golpe foi de cerca de 600 milhões de dólares. E a lista continua… 

O custo financeiro dessa realidade é alto, o usuário precisa ter pelo menos antivírus e firewall no seu computador, pagar mais por cartões de crédito que garantem a devolução de perdas relacionadas a fraudes, enfim, pode recuperar as perdas se puder arcar com os custos da segurança. O custo emocional, entretanto, não é coberto por serviço algum. 

Em entrevista um senhor de 83 anos que pediu para que não fosse identificado, contou como se sente envergonhado por ter pedido ajuda em um banco e a “boa alma” usou o número de seu cartão em diversas compras online. 

Apesar dos 2,5 bilhões de dólares investidos pelos bancos em segurança, em 2021 as fraudes aumentaram 165% e seus usuários perderam mais de 6 bilhões. Por trás de cada fraude há pessoas e famílias que além de perderem muito dinheiro, perderam a autoestima. Pessoas de mais idade são as mais afetadas, inclusive o crime de estelionatos contra idosos teve sua pena dobrada em 2015. Estes foram obrigados a incorporar a tecnologia às suas vidas e se esse processo não é fácil nem para os mais jovens, imagine para eles.

Esse é o tipo de realidade a qual nós temos que nos acostumar. Seguro de dados e privacidade, hoje, é tão importante como seguro-saúde: quem não tem, corre sérios riscos.

Câmeras de segurança. Cada câmera supervisiona um lado do ambiente denotando que todo cuidado é pouco