Educação e jornalismo foi o tema 5º Congresso Internacional da Jeduca

Entre os dias 27 de setembro a 01 de outubro ocorreu o 5º Congresso Internacional da Jeduca com o tema guarda-chuva “a educação e as desigualdades na pandemia”.

Victória Cruz

Postado em 30/09/2021

A Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) promoveu na última semana de setembro, de forma remota, o seu 5º Congresso Internacional de Jornalismo de Educação com o tema central sobre a educação e as desigualdades na pandemia. 

Durante o congresso foram expressados vários assuntos pertinentes sobre educação, desigualdades e jornalismo. Como, por exemplo, a fala do renomado professor Flávio Comim durante a mesa sobre Ciência e Desigualdade, em que ele afirmou que a pandemia foi um multiplicador das desigualdades e que o atual momento que o mundo está passando serviu para deixar mais nítidos os problemas sociais.  

A professora de língua portuguesa, Lílian Melo, expressou no primeiro dia do Congresso que adequar a situação ao momento que a humanidade está passando é muito importante para buscar soluções práticas. Também foi falado que o Brasil precisa de uma agenda de recuperação educacional. 

A Associação de Jornalistas de Educação (Jeduca) foi criada em 2017 com o objetivo de criar materiais que auxiliem os jornalistas na cobertura educacional. São guias, reportagens, bastidores de matérias e também disponibiliza um banco de informações sobre empresas públicas e privadas que cobrem educação em dados. Foto: print do site Jeduca

Retratos educacionais na pandemia 

De acordo com o Anuário Brasileiro de Educação Básica, realizado por Todos pela Educação, o Brasil é um dos países que por mais tempo permaneceu com escolas totalmente fechadas, em todo o mundo. Foram 40 semanas fechadas e atualmente, as escolas têm funcionado no modelo de escalas, para que não haja aglomeração nas salas de aulas. Uma pesquisa da Unesco mostrou que as escolas estiveram sem aulas presenciais por aproximadamente dois terços do ano letivo de 2020, com uma média de 29 semanas. 

Durante o evento, foi divulgado o documentário ‘Jovens na Pandemia’, que demonstrou a realidade de uma escola de São Gonçalo (RJ), que teve um alto índice de evasão no ensino regular durante a pandemia. Uma das histórias contadas foi a de Gabriel (18), estudante do 9º ano do fundamental, que precisou se afastar da escola para trabalhar e ajudar na renda financeira da casa devido ao momento em decorrência do novo coronavírus. Disse que ficou um ano e dois meses fora do colégio. Atualmente, conseguiu um emprego perto de casa, que ajudou para que pudesse voltar aos estudos. Sua jornada de trabalho é de 13h até às 5h da manhã, o que faz com que ele durma apenas três horas por dia, pois às 8h acorda para ir às aulas, fica na escola até 12h e vai para o trabalho. 

Muitas crianças e adolescentes precisaram se afastar das escolas devido a pandemia. Falta de recursos como, por exemplo, não ter internet em casa ou a qualidade não era boa o suficiente para conseguir entrar nas aulas online, a falta de motivação e, em certas ocasiões, infelizmente, precisavam ir trabalhar vendendo alguma coisa na rua para ajudar em casa. 

Uma pesquisa realizada pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), com apoio do Itaú Social e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), mostrou que 60% das escolas entrevistadas consideram a busca por estudantes em abandono escolar ou em risco como uma das prioridades em 2021. 

Além disso, a Undime com os apoios da Unicef, do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (Congemas) e do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), desenvolveu uma plataforma chamada Busca Ativa Escolar que auxilia os estados e municípios em busca de crianças e adolescentes fora da escola, além de rematrícula-los e acompanhá-los para garantir a permanência do vínculo escolar. 

As gêmeas Eduarda e Helena Ferreira, idade, donas do Canal Pretinhas Leitoras, que promove a discussão antirracista a partir do protagonismo negro, feminino e infantil, afirmaram no primeiro dia do Congresso que com o ensino remoto, as escolas não conseguem ensinar coisas básicas, como fazer prova, por exemplo. Elas expressaram que não tiveram uma educação desejável e o que mais sentem falta da escola é poder ser crianças e conviver com outras pessoas da mesma idade. 

A educação é fundamental para o desenvolvimento humano e é primordial para o crescimento da sociedade. Foto: Rovena Rosa por Agência Brasil

Wanya Cardoso tem duas filhas que estudam no ensino público do Distrito Federal (DF), Amanda, de 4 anos, e Júlia, de 10 anos. Ela relatou que suas filhas tiveram muitos prejuízos em decorrência das aulas remotas. Sua filha mais nova, Amanda, estava no jardim de infância em 2020 e perdeu a interação e socialização com os colegas e com a professora. Já sua filha mais velha, Julia, estava no 4º ano e perdeu muito em relação ao conteúdo, manter o ensino de forma regular foi difícil. 

Além disso, Wanya  falou que, durante o ano de 2020 remoto, Júlia quase não teve aula, pois o professor responsável não dava atenção devida. Ela, sozinha, com a ajuda da mãe, se propôs a estudar os conteúdos propostos pela escola. Expôs que sente que suas filhas tiveram um grande atraso em relação a rede privada de ensino, e que elas só não perderam mais devido ao esforço de aprenderem sozinhas em casa. 

Por fim, a mãe da Amanda e da Júlia afirmou que em 2021 a experiência de suas filhas na rede pública de ensino melhorou. Com a volta do presencial, elas evoluíram bastante. Mas disse que para a melhora do ensino, é necessária uma interação entre os pais e a escola. “Essa parceria entre as famílias e as instituições ajudaria muito para desenvolver uma educação melhor com menos evasão escolar”, contou Wanya. 

A emergência da melhoria educacional no Brasil ficou mais evidente durante o ano de 2020, dessa forma, é necessário que haja uma ação conjunta com políticas públicas principalmente para as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade social. 

Como o jornalismo pode dar voz a educação brasileira 

No terceiro dia de evento, durante o debate sobre ‘Como tornar mais atrativa a cobertura jornalística sobre desigualdade’, a escritora e jornalista, Adriana Carranca, expressou que a notícia é um direito humano e, dessa forma, é preciso que haja desde as escolas, um ensino que explique aos cidadãos que a informação é um direito de todos. 

É necessário que os veículos de comunicação falem à população sobre como a educação é importante para o desenvolvimento da sociedade, mostrando suas consequências e os mecanismos necessários para que possam ser feitas ações voltadas para o sistema educacional. 

Adriana também afirmou que é necessário que a imprensa traga a sociedade para perto dos jornalistas e veja estes como aliados, pois o jornalismo é feito para servir aos interesses democráticos dos indivíduos.

Flávia Oliveira, jornalista do grupo ‘Globo’, expôs que é preciso ter mais representatividade nas coberturas educacionais, ouvir mais personagens e vozes que vivenciam a realidade todos os dias e não apenas gabinetes políticos e especialistas. 

Para a estudante de jornalismo e estagiária na Undime, Isadora Farias, o jornalismo é uma ferramenta que não serve apenas para noticiar e informar a população, mas também para pressionar os governantes. “Então, a partir do jornalismo, a gente pode exercer essa pressão nos governantes para que sejam feitos mais investimentos na educação”, afirmou.  

O jornalismo é um veículo essencial para que políticas públicas voltadas para educação sejam propostas e colocadas em prática. Além disso, o jornalismo de educação tem como propósito ser reflexivo e não relativizar assuntos pertinentes. Foto: Rovena Rosa por Agência Brasil

Através da profissão é possível dar voz aos estudantes e às diversas realidades. É papel do jornalista investigar para onde estão indo os recursos destinados à educação, como está a situação dos estudantes no Brasil e a partir daí pressionar os governos estaduais e municipais para que sejam feitas políticas públicas que favoreçam as crianças, adolescentes e os jovens, concluiu Isadora. 

Uma das formas para tratar pautas relacionadas à educação é utilizar o jornalismo de solução, pois não irá trazer os problemas, mas também traz as soluções que podem ajudar a solucionar os problemas propostos.