Faculdades de medicina do exterior atraem brasileiros pela facilidade de ingresso e mensalidades que cabem no bolso
As universidades da América do Sul têm conquistado cada vez mais brasileiros em busca do sonho de cursar medicina e conquistar o tão almejado diploma
Postado em 18/09/2021
Ingressar em uma faculdade de medicina e seguir carreira médica é o sonho de milhares de pessoas. Entretanto, a alta concorrência em universidades públicas brasileiras e as mensalidades salgadas de cursos particulares colocam um ponto final nesse objetivo para muita gente. Por isso, faculdades de medicina em países vizinhos têm chamado a atenção de estudantes brasileiros pela facilidade na matrícula – muitas vezes sem processo seletivo – e mensalidades mais em conta, que variam de R$ 700 a R$ 2.000.
Medicina, curso mais disputado entre candidatos nos vestibulares do Brasil, é conhecido pelos benefícios financeiros e status da profissão, mas a própria concorrência e o alto custo das mensalidades tornam a graduação uma das mais difíceis de ingressar e de se manter no país. Além disso, ainda exige uma carga horária extensa de aulas e atividades práticas, impedindo que o aluno organize uma rotina com trabalho e estudos.
Nesse sentido, a quantidade de brasileiros que deixaram o país para trilhar jornada acadêmica em instituições de ensino do exterior, em especial em países como Paraguai, Argentina e Bolívia, chamou a atenção do Ministério da Educação. Em 2019, última vez em que números sobre o assunto foram coletados, dados do Ministério das Relações Exteriores (MRE) apontaram que as faculdades de medicina dos três países já tinham cerca de 65 mil brasileiros.
O contingente é atraído pela possibilidade de seguir carreira médica e conquistar um futuro mais próspero ao voltar para o Brasil, onde as mensalidades das faculdades variam de R$ 5.000 a R$ 10.000 – um valor inacessível para boa parte dos jovens que desejam obter o diploma e seguir na área.
Gabriella Rodrigues, 22 anos, estudante do 2° semestre de medicina na Universidad Central del Paraguay, decidiu sair de Brasília para viver uma aventura de seis anos fora do país. “É bem diferente do Brasil, onde o curso é mais voltado para a elite e de difícil acesso. Além disso, a faculdade é aproximadamente 90% mais barata, assim como o custo de vida no Paraguai, fazendo com que financeiramente seja mais tranquilo”, conta.
Financeiramente viável e educacionalmente possível, a jovem explica que a única dificuldade em ter se mudado para o exterior é a saudade de casa e dos entes queridos. Quanto à qualidade do ensino, não há preocupações. “A qualidade é muito alta e exige tanto quanto. A faculdade tem ótimos laboratórios e uma estrutura impecável”, diz.
Mas quem opta por se matricular em uma faculdade de medicina no exterior deve ficar atento à estrutura, qualidade do ensino e regulamentação do curso. Nem todos são reconhecidos na hora de voltar para casa e, nesses casos, o prejuízo pode ser toda a carreira.
Neusa Carolina Monteiro, 25, se mudou da Bahia para o Paraguai para viver a experiência da graduação. “Depois de muitos anos tentando no Brasil, fiquei exausta e fui atrás do meu sonho de outra forma”, relata. Mas apesar das facilidades, Carolina alerta para os cuidados na hora de escolher onde estudar para evitar instituições desorganizadas e com pendência nas documentações.
“Tem que ver toda a regulamentação [da faculdade] direitinho porque isso é importante para um futuro diploma. Em outras faculdades já aconteceram problemas de não liberarem o diploma da pessoa como médico, e eu descobri isso realmente aqui”, aponta.
Inconstância do Revalida
Para retornar ao país com a possibilidade de ingressar no mercado de trabalho, quem opta por estudar medicina no exterior precisa passar no Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira, o Revalida.
Por outro lado, a prova não tem sido aplicada de forma constante e acaba levantando incertezas e receios para quem faz o curso fora do Brasil. O último exame havia acontecido em 2017. Após 3 anos de espera, a prova finalmente foi aplicada em 2021 e recebeu inscrições de 13.744 pessoas. A quantidade de inscritos sugere o alto número de formados e recém-formados que ainda não conseguiram voltar para o país com a aprovação necessária para começar a carreira como médicos diplomados.