Jovens e universitários buscam experiência no mercado de aulas de reforço

Panorama de educação influenciado pela pandemia afetou a linguagem das aulas particulares. Confira a experiência e os desafios de quem tornou o reforço acadêmico parte da rotina

Ana Morbach

Postado em 05/11/2021

Com o impacto da pandemia em todos os âmbitos da educação brasileira, a modalidade de ensino do reforço escolar também foi influenciada. Como uma alternativa de renda e oportunidade para melhorar a carreira profissional do educador, as aulas particulares possuem objetivos pontuais, como, por exemplo, suporte escolar para aprendizagem de assunto específico, apoio contra reprovação e atrasos acadêmicos, evitar a desmotivação entre outros.

Tornando-se mais popular e natural ao longo dos anos, e substancialmente durante a crise sanitária, o mercado passou a ser ocupado não somente por professores formados de fato, mas também, por jovens, principalmente universitários, que estão em busca de uma nova experiência. Nas palavras do professor do curso de Pedagogia do Centro Universitário IESB, Leniomar Oliveira, tal crescimento se dá pois, a cada ano, alunos com perfis diferentes de aprendizagem começam a demonstrar uma necessidade por um ensino mais privado e diferente do padrão escolar. Dessa forma, o cenário se torna mais abrangente, permitindo o trabalho de mais educadores.

“A fase de universidade é de crescimento, em que o professor que está em busca de uma docência ou de um aumento de renda vai criar confiança e experiência. Quando ele consegue fazer com que um aluno melhore seu rendimento escolar, a insegurança diminui. Acho que ministrar aulas de reforço é um importante passo na formação”, comenta.

Determinada por oferecer uma linguagem mais acessível aos alunos, as aulas particulares durante o período de pandemia tiveram de mudar o seu formato, visto que o método de ensino padrão e presencial não era mais possível. Para o professor Leniomar, o educador que dá aulas particulares precisa estabelecer uma boa estratégia educativa e, também, passar pela etapa de preparação, pelo fato de que as necessidades do aluno, em um cenário de insegurança e incerteza, precisam ser atendidas da melhor forma

Segundo a Agência Brasil, o número de crianças e adolescentes sem acesso a educação no Brasil saltou de 1,1 milhão em 2019 para 5,1 milhões em 2020/ Foto: Unsplash

Educando desde cedo

Influenciada pela pandemia, a estudante de Química na Universidade de Brasília (UnB) Lara Nery, 21 anos, começou a dar aulas particulares em setembro de 2021 e está com 6 alunos fixos. Ensinando química para ensino fundamental e médio através de uma empresa de reforço escolar e também de forma independente, Lara afirma que enxergou uma mudança no cenário principalmente quando o assunto é linguagem e dinâmica.

“Nas aulas virtuais, além de ser mais difícil de me aproximar do aluno, é também mais difícil me aproximar do conteúdo do jeito que ele está vendo. Preciso estar mais preparada porque não tenho contato com o livro indicado, com o caderno, então muitas particularidades do aluno eu não consigo ter acesso”, revela.

 Lara Nery dá aulas independentes e também para empresa de reforço escolar/ Foto: Arquivo Pessoal

Com um pouco mais de experiência, a também estudante universitária Camila Amorim, 19 anos, começou a dar aulas em março deste ano e comenta que entrou no cenário buscando conquistar objetivos de valor social, tendo em vista a dificuldade de acesso da população brasileira à educação. Focando em oferecer ensino para pessoas de baixa renda, Camila dá aula de todas as matérias, mas especialmente redação e língua portuguesa. Para ela, embora tenha enxergado, sim, um contexto diferente na dinâmica de ensino, as aulas particulares online oferecem praticidade e dinamismo.

“Não tive que me adaptar do ensino presencial para o online, então já engatei no formato remoto e consegui estabelecer uma dinâmica de aula coesa desde o começo. Faço isso por mim, mas também para mostrar que as aulas particulares são um convite para se retirar de uma bolha sociocultural e ver um pouco mais do que o outro está sentindo”, afirma.

Camila Amorim trabalha com públicos de todas as idades, mas principalmente para alunos de ensino médio/ Foto: Arquivo Pessoal

Rotina e aulas particulares

Laís Marroche, 20 anos, vive uma rotina frenética por ser estudante de curso de vestibular há 3 anos. Incluindo as aulas particulares no seu cotidiano, Laís faz reforço acadêmico de química e redação há mais de um ano, e teve que sentir na pele a mudança extrema do ensino presencial para o remoto. Para ela, as aulas particulares afetaram o seu dia a dia e o seu modo de estudar fora do ensino padrão em que já estava inserida.

Assim, Laís afirma que aprendeu a ser mais rígida com cronograma e com suas habilidades de atenção, tendo em vista que teve de se adaptar a uma linguagem diferente de ensino. “Nas minhas aulas percebi que ser objetivo e direto é muito importante, porque assim eu e a minha professora conseguimos controlar a minha compreensão. Ficou, sim, mais difícil, mas ao mesmo tempo era dinâmico. Passei a fazer mais perguntas, mais interações, para conseguir cumprir o meu objetivo”, diz ela.

Laís Marroche está há 3 anos em curso para vestibular e já teve aulas de redação, matemática e química/ Foto: Arquivo Pessoal