Intercâmbio é forma de realizar sonhos

Raquel Costa, brasiliense que está morando em Seattle, nos Estados Unidos, está há dois meses fazendo o intercâmbio de Au Pair

Victória Cruz

Postado em 07/12/2021

Vivenciar e experimentar novas culturas a partir de um intercâmbio é o sonho de muitos brasileiros. Realizar uma viagem com o objetivo de estudar e trabalhar necessita de planejamento e garra.

Com a sede por novos horizontes, a bailarina Raquel Costa trocou os palcos e as sapatilhas de pontas pela aventura de viver um intercâmbio por no mínimo um ano. Raquel escolheu fazer o programa Au Pair, que é um intercâmbio de trabalho e estudo, que possibilita viver a vida estadunidense na prática.

Voltado mais para o público feminino, com idade entre  entre 18 e 26 anos, consiste em um trabalho em uma host family, em que a intercambista é babá de crianças. Ele é ideal para mulheres que gostam de crianças e queiram vivenciar uma cultura diferente.

Raquel já participou de algumas tradições estadunidenses, como por exemplo a do Halloween, em que as famílias vão às fazendas escolher abóboras para decoração da festividade. Foto: arquivo pessoal

Você sempre quis fazer intercâmbio?

Sim, eu sempre quis fazer intercâmbio. Desde quando eu estava no meu ensino médio, quando eu viajei pela primeira vez para o exterior, fui visitar a Disney e me despertou o interesse de quantas coisas ainda tem para se ver. E a partir daí começou essa minha sede por coisas diferentes, além do que a gente tem no Brasil. Iniciei a pesquisar formas de como poder viajar e foi aí que eu descobri sobre o intercâmbio e todas as possibilidades que ele pode proporcionar para as pessoas. Comecei a desejar fazer intercâmbio para conhecer mais sobre o mundo.

Eu vi outras possibilidades além dos Estados Unidos, como países da Europa e alguns como Austrália, daí fui vendo quais eram as opções mais acessíveis e foi quando eu conheci o intercâmbio de Au Pair.

Como funciona o intercâmbio de Au Pair?

O Au Pair é um intercâmbio cultural, em que você tem que cuidar de crianças aqui nos Estados Unidos em uma host family, isto é, uma família anfitriã, e em troca você ganha moradia, alimentação, um salário semanal e também tem experiência de viver aqui. 

Não é somente trabalho, você se diverte e viaja também. Além disso, a gente tem que estudar em uma universidade ou instituição reconhecida pela agência de Au Pair e fazer no mínimo seis créditos. A gente tem alguns direitos devido ao intercâmbio e também existem coisas que são asseguradas pelo governo. 

Você tem todo um cronograma semanal para cumprir que possibilita experimentar fazer parte de uma família estadunidense.

Por que escolheu esse intercâmbio?

Escolhi o intercâmbio de Au Pair por ser um dos tipos de intercâmbio mais acessíveis em que possibilita ter experiência. Pois geralmente um intercâmbio de trabalho e estudo não vai ter muito retorno financeiro e também tem um limite que possibilita permanecer aqui nos Estados Unidos, por exemplo. Agora o Au Pair são até dois anos de vivência e ainda tem mês extra de viagem. Você tem esse último mês para você viajar pra onde você quiser ir aí depois desse período, tem que voltar para o seu país de origem.

Como foi o processo até chegar na sua host family?

Vim para os EUA foi meio difícil. Por causa da pandemia, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil fechou as fronteiras e não estava emitindo visto, estava apenas emitindo visto de emergência, que era para as meninas que vieram para cá e tinha alguém da host family que trabalhasse na linha de frente da COVID-19, e no meu caso ninguém da minha host family se enquadrava nisso. 

Em meados de agosto,  eu não tinha conseguido agendamento em Brasília, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, lugares que emitem o visto. Conversei com o pessoal da agência responsável pelo intercâmbio e eles me falaram que algumas meninas estavam tendo que tirar o visto em outro país. Pesquisei um pouco mais sobre isso e conversei com a minha host family e eles concordaram em eu ir tirar o visto na Colômbia. 

Dessa forma, antes de vir para cá, eu tive que ir pra Colômbia tirar o visto. Fiquei uns 25 dias lá porque não tinha certeza se o visto ia sair em 14 dias ou em 20 dias e também era obrigatório fazer uma quarentena em outro país que não estava com as fronteiras fechadas (como a Colômbia) para entrar nos Estados Unidos.

Eu fiz a entrevista, o visto foi aprovado, mas só consegui retirar 25 dias depois. A partir daí, consegui vir para os EUA e vim direto pra casa da minha host family que fica em Seattle, Washington.

Dia 22 de novembro completou dois meses que vim para os Estados Unidos e quase três meses que saí do Brasil.

Como está sendo sua experiência nesses dois meses de intercâmbio? 

A minha experiência está sendo muito proveitosa. Estou conseguindo ver várias coisas nesse pouco tempo. Já viajei para outros estados e também estou conhecendo mais sobre a área que eu estou vivendo. A minha família é muito consciente do objetivo desse intercâmbio e estão contribuindo para que consiga aproveitar bem o meu minha estadia aqui. 

No meu primeiro mês, viajei para a Califórnia, a gente foi comemorar o aniversário da minha host kid e visitamos a Disneylândia de lá. Passamos alguns dias e nesse mês a gente foi para o Texas visitar a família deles. Isso me proporcionou conhecer novos lugares e novas pessoas.

Então esse intercâmbio além de você conhecer outros lugares, você também conhece outras pessoas não só daqui do país nativo, mas também de outros países do mundo.

Raquel, em sua primeira viagem ao exterior, quando teve a oportunidade de conhecer a Disney, em Orlando; o intercâmbio proporcionou a ela conhecer outro parque da Disney, na Califórnia. Foto: arquivo pessoal

Como está sendo lidar com a saudade da família? 

Bem, como antes de vir pra cá eu tive que passar quase um mês na Colômbia para conseguir tirar o meu visto, foi a partir daí que comecei a sentir saudade da família. Desde lá a gente conversava todo dia e se mantinha atualizado sobre o que estava acontecendo lá em casa, o que que está acontecendo comigo. Devido a pandemia, aprendemos bastante a manter contato com as pessoas mesmo estando não perto. 

Minha irmã estava muito sentida porque a gente era muito grudada e aí eu comprei uma passagem pra ela vir pra cá me visitar em janeiro de 2022. Essa vai ser uma das formas de a gente matar um pouco da saudade, além dos vídeos de chamadas que a gente faz praticamente todo dia. Passo horas conversando com meus pais e com meus irmãos. 

Vontade de voltar pra casa a gente tem, mas a vontade de continuar vivendo o sonho é maior. 

Financeiramente, o au pair vale mais a pena do que outros tipos de intercâmbio? 

Sim, financeiramente o Au Pair é um dos intercâmbios mais baratos. Existem outros que são menos acessíveis, mas esse vale muito a pena. Porém, você tem que ter certeza de que vai conseguir fazer o trabalho por dois anos, não é fácil, você vai estar morando onde trabalha e vai ter que lidar com criança e todas as dificuldades que ela passa e que um adulto vivencia todos os dias. 

A responsabilidade é muito grande, porque eu estou cuidando de uma vida e é preciso saber agir em situações de emergência. 

Eu tenho zero arrependimento de ter vindo pra cá e se pudesse voltar no passado, tomaria a mesma decisão.

O que você pode dizer para uma pessoa que sonha em fazer intercâmbio? E qual a dica ou dicas que você dá para alguém que quer fazer o au pair? 

O que eu estou vivendo aqui são coisas que eu nunca imaginaria que estaria vivendo. É certo que alguém que vai entrar no processo de intercâmbio não vai ter a mesma experiência que eu porque nem todas as famílias são iguais em todas as exigências e não é algo padronizado. As famílias estão no site da agência e elas oferecem o que elas quiserem, daí cabe a pessoa decidir quais são as condições de cada família e aceitar a que mais faz sentido para experiência que ela quiser. 

Começar o processo de au pair não é fácil. Assim como também não será fácil quando você estiver trabalhando, afinal, você vem para trabalhar e não vai ser um conto de fadas em alguns momentos, mas é um tipo de experiência que você não vai conseguir encontrar em outro lugar. 

É muito importante saber falar em inglês, você tem que vim sabendo no mínimo o inglês intermediário. Eu achava que meu inglês era avançado, mas quando eu cheguei aqui, vi que eu precisava melhorar muito o que eu aprendi. No Brasil é muito diferente daqui, o que a gente sabe é mais ouvir e escrever, porém, hora de falar, temos muita dificuldade. Observei que nesses dois meses meu inglês melhorou muito, estou conseguindo assistir filmes e séries sem legenda e isso me deixa muito feliz e pois era um dos meus objetivos.

Para entrar nesse intercâmbio tem que ter experiência de cuidar de crianças, então no início deste ano, cuidei de algumas crianças de conhecidos e amigos da igreja para conseguir experiência, para saber como eu vou lidar com a criança em algumas situações e também para comprovar à agência que eu tenho experiência,  pois eles não deixam qualquer pessoa entrar no programa para cuidar de uma criança. 

Os homens também podem fazer esse tipo de intercâmbio? 

Uma coisa que poucas pessoas sabem é que ele não é só para mulheres, homens também podem fazer, os requisitos são diferentes, mas não é impossível, então vale a pena, acho importante frisar isso. Conheci na minha escola de treinamento um francês que estava vindo para uma cidade perto de Seattle para cuidar de uma criança. Achei muito legal porque quebra esse estereótipo que quem cuida de criança é só a mulher, mas esse é um tipo de experiência que vale tanto pra mulher quanto pra homem.