Oposição ocupa as ruas do país para protestar contra governo Bolsonaro

Segundo especialista, as manifestações são importantes para que se tenha um sistema democrático legítimo | Créditos de Imagem: João Henrique/Unsplash

Isadora Mota

Postado em 10/10/2021

As manifestações da oposição, sejam elas de rua, panelaços ou carreatas, vêm marcando a história do governo do atual presidente do país, Jair Bolsonaro. Os protestos, organizados pelo movimento da esquerda e da direita, enchem avenidas dos 26 estados do país e do Distrito Federal e promovem coros que pedem pelo impeachment do chefe do poder executivo. 

Entre os motivos, a conduta do governo durante a pandemia do coronavírus, a alta inflação, a crise econômica, o desemprego, a fome e as denúncias que envolvem Bolsonaro e sua família em atos supostamente criminosos e de corrupção. 

Artur Fellows, vice-presidente regional da União Nacional dos Estudantes no Distrito Federal, está à frente da direção e organização das manifestações na capital e explica que os atos tomaram uma proporção e constância significativa devido a indignação da população com o presidente. 

De acordo com levantamento realizado pelo Datafolha, o governo atingiu o pior índice de aprovação durante a gestão no mês de setembro, com 22% dos entrevistados considerando a atuação do Bolsonaro ótima ou boa, e 53% considerando ruim ou péssima.  Para Fellows, esses dados são significativos na decisão do povo de ir às ruas. 

Fellows explica que as manifestações têm sido grandes, mas é preciso que sejam enormes, até que se atinja um nível insustentável para o governo manter a sua base.  “Algumas coisas contribuem para que as manifestações ainda não tenham estourado no nível de pessoas. Acredito que a pandemia ainda é uma preocupação. Outra questão é o horizonte de mudança, acaba que às vezes não é tão visível que as coisas estão se movimentando dentro do congresso, não é visível pras pessoas que estão ali indo se manifestar que as coisas mudam”. 

Educação e o fim da violência contra as mulheres também estão entre as pautas dos atos 

A cientista política Ruhana França aponta que os protestos vêm ganhando uma relevância particular no contexto atual, se encontram como uma disputa pela identidade do povo e como algo que legitima a democracia: “Isso [as manifestações] contribui para a legitimação ou não do governo democrático e para o entendimento desse governo como democrático ou não. A pergunta que ganha destaque é se o atual governo representa o “povo” e seus interesses. As manifestações são uma das várias formas em que se pretende passar uma mensagem que responda a essa pergunta”

Caio Fiuza, 21, estudante de Sociologia, é assíduo nos protestos. O jovem acredita que os atos têm sido a única forma de se posicionar contra a agenda do atual governo. “As manifestações de rua têm um peso de informar instituições políticas de que há insatisfação popular em relação ao governo atual. Ocupar as ruas é uma tarefa importante para mudar os rumos do Brasil e construir uma ampla unidade em defesa da democracia”, explica.

Manifestações em uma democracia 

Ruhana França afirma que o sistema democrático só se legitima através da figura do povo, seja por meio do voto ou outras formas de participação, por isso a atuação popular é sempre importante em uma democracia. “As manifestações são uma das formas de participação popular e são importantes à medida em que sinalizam algo, transmitem uma mensagem ou disputam um espaço”, esclarece. 

No entanto, segundo a especialista, é preciso não perder de vista que as manifestações de rua não são um fim em si mesmo e não devem servir apenas de espetáculo, ocupando a cidade: “É importante ter um intuito político delimitado e concreto e demandas expostas que sejam alcançáveis a curto prazo. Simplesmente ocupar as ruas pautando o discurso como algo que superou as ideologias, sem bandeiras políticas, apartidário, pode enfraquecer a democracia a longo prazo”.