Dia de Prevenção e Combate à Surdez conscientiza para cuidados com a audição

Com cerca de 10 milhões de pessoas com algum grau de surdez no Brasil, a data visa conscientizar e alertar para a prevenção da surdez

Julia Evelyn

Postado em 12/11/2021

Dia 10 de novembro é celebrado o Dia de Prevenção e Combate à Surdez, acometimento que atinge 1,5 bilhões de pessoas no mundo, de acordo com o Relatório Mundial de Audição. No Brasil, cerca de 10 milhões de pessoas são acometidas a um grau de surdez e, destas, 2,7 milhões têm perda auditiva total, segundo o estudo Raio-X da Surdez no Brasil, realizado pelo Instituto Locomotiva em parceria com a Semana da Acessibilidade Surda, publicado em 2019. Dessa forma, a data foi instituída pela Portaria de Consolidação MS nº 1/2017, art. 527, diante da necessidade de conscientização sobre os cuidados necessários com a audição e o diagnóstico precoce de surdez.

Paladar, olfato, visão, tato e audição. Esses são os cinco sentidos do corpo humano que possuem diversos papéis na vivência com o mundo externo e na sociabilidade. A audição destaca-se pela sua importância na comunicação, como meio para compreender falas oralizadas, sons e até expressões. Diante dessa relevância, um olhar mais atento para essa causa é necessário. Vivendo em um mundo que expõe diariamente os indivíduos a diversos sons e ruídos, a estimativa mundial do número de pessoas que futuramente poderão desenvolver surdez é de 900 milhões de pessoas até 2050, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

A médica doutora em otorrinolaringologia pela Universidade de São Paulo (USP), Aline Bittencourt, explica que a perda de audição pode ser total ou parcial. “A gente classifica como perda de audição uma pessoa que tem que escutar com o volume acima de 25 decibéis. Então qualquer pessoa que precise aumentar o volume acima de 25 decibéis é surdo”, diz. Ela esclarece que os graus podem ser de perda de audição leve, moderada, severa e profunda, dependendo da altura que o paciente escutar. Também há a surdez congênita, em que o paciente nasce com a perda de audição. Estes casos podem acontecer se, na gestação, a mãe tiver alguma infecção que cause a surdez do bebê. Além desses, também há a surdez adquirida, quando o paciente é acometido depois do nascimento.

As causas são diversas. A surdez adquirida pode ser gerada por diferentes patologias, dentre elas: a toxoplasmose, o citomegalovírus, o HIV, a rubéola, a meningite e a herpes. Além desses, o acúmulo de cera no ouvido pode ser um dos principais causadores da surdez, assim como, a presbiacusia, perda de audição causada pelo envelhecimento, geralmente sendo apresentada a partir dos 40 anos de idade. 

Os principais meios de diagnóstico são através do teste da orelhinha, realizado logo após o nascimento. Também pode ser feito por meio da audiometria convencional, ou de um exame mais detalhado, como o BERA, também conhecido como PEATE (Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico) que avalia todo o sistema auditivo através de respostas dadas pelo cérebro.

Segundo a especialista, para a prevenção e reabilitação da perda, o diagnóstico precoce é muito importante, assim, permite que seja implementado o quanto antes um tratamento adequado. Esses tratamentos são dependentes das causas apresentadas, podendo ser realizado desde uma limpeza no ouvido, tratamentos de otites, até cirurgias para implantação de próteses e do implante coclear (ouvido biônico).

A comunicação não ouvida 

Luérgio de Sousa, 32 anos, adquiriu meningite aos 3 anos de idade. A consequência foi grave: perda severa da audição bilateral. Apesar dos tratamentos e acompanhamentos com otorrinolaringologista e fonoaudiólogo, hoje Luérgio utiliza de aparelho auditivo a fim de ampliar a audição, e tem como seu principal meio de comunicação a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Para ele, ainda há uma grande barreira de aceitação e inclusão para surdos, principalmente pelo fato de as pessoas não terem conhecimento o suficiente para saberem como se comunicar.

A Língua Brasileira de Sinais é o principal meio de comunicação da comunidade surda

“A barreira da comunicação vem da parte dos outros, sempre eram motivos de desculpas por não saberem simplesmente conversar comigo. As pessoas nem sequer se esforçam para interagir com os surdos e costumam nos excluir da roda de amizade, de tarefas, e muitas coisas”, desabafa Luérgio.

Para Salatiel Feliciano, 31 anos, que nasceu surdo, sua comunicação é somente através da Libras. Sua grande queixa também é a respeito da comunicação, pois, para pessoas que não compreendem a língua de sinais, ou tentam se comunicar com ele através de outros meios, acaba perdendo o significado de algumas expressões, devido a interpretação ser diferente para ambos.

É importante conscientizar 

Para Aline, a importância do Dia Nacional de Prevenção e Combate à Surdez é educar a população para que saibam a necessidade dos cuidados com a audição. Ela orienta medidas práticas do dia a dia que podem fazer a diferença, como: evitar o uso de fones de ouvido em excesso, não usar cotonetes e procurar o médico se sentir alguma alteração da audição ou algum zumbido no ouvido. 

“Esse dia ajuda a conscientização da população de uma forma geral, não só dos profissionais de saúde. A gente precisa de dias como esse para poder incentivar a população, lembrar que eles têm que cuidar dos ouvidos e estimular que façam exames periódicos e que estejam sempre alertas em relação à audição”, conscientiza a médica. 

Já para Salatiel, a data pode gerar mais conscientização e esclarecimentos a respeito da causa.  Luérgio também compartilha da mesma opinião. Para ele é um dia comemorativo contra a surdez, e pode ajudar a evitar que cresça o número de pessoas surdas no país. Ele também relembra outra data importante, celebrado no dia 26 de setembro. O Dia dos Surdos contribui para a sociedade se atentar mais aos surdos e promoverem mudanças sociais e tecnológicas, incluindo os surdos em todos os meios.