Hábitos alimentares podem interferir na saúde mental
Nutricionista explica que a ingestão de alimentos, sejam saudáveis ou não, se relaciona diretamente a quadros de ansiedade e depressão.
Postado em 26/09/2021
Os impactos de um histórico de refeições inadequadas e uma dieta desequilibrada ocasionam em problemas mais sérios do que o imaginado, isto é, o sedentarismo e a ingestão excessiva de comidas processadas e industrializadas podem acarretar diversas doenças graves que afetam, não só o físico, mas também o mental. Muito do que se está ingerindo, ou do que está em falta no organismo, reflete no bem estar de uma pessoa, isso porque muitos nutrientes até ajudam na manutenção da saúde mental, é o que afirma a nutricionista e gastrônoma Camila Ataide.
Ultimamente as questões psicológicas entraram para o debate coletivo, felizmente a saúde mental está saindo do nicho do tabus e, mais do que nunca, a conclusão é que devemos cuidar do mental da mesma forma que cuidamos do físico, e isso engloba uma série de atitudes que vão de conversas com um profissional à alimentação diária balanceada. A estudante Emily Vitória Alves, 19 anos, conta que a pandemia foi um fator que intensificou os quadros de ansiedade antes já enfrentados e que é notório o impacto que a má alimentação causa em seu humor. “Quando descontamos as angústias na comida, a satisfação é temporária, porém todo excesso gera consequências e estas causam mais angústias”.
Graduada pela Universidade de Brasília (UnB), a nutricionista Camila Ataide explica como funciona a relação da ansiedade com a ingestão de alimentos. De acordo com ela, o ser humano foi feito para sentir medo, isto é, em situações desfavoráveis, de perigo ou risco, o corpo se prepara para fugir. Frente a situação de risco, o cérebro interpreta que talvez exista alguma escassez, logo o instinto em um quadro de ansiedade é comer até que o corpo interprete que há uma reserva suficiente para manter-se firme. O contrário ocorre quando o reflexo fisiológico de uma pessoa é “livrar-se de um peso” frente uma situação desconfortável, sendo assim o apetite é quase nulo. “Fora a questão de que quando a pessoa come, existem algumas vias fisiológicas que liberam a sensação de prazer, então o indivíduo que estava em uma situação super ansiosa de perigo ou de medo, quando come, tem uma sensação de calma”, complementa.
Além disso, a nutricionista explica que alterações no humor ao longo do dia também podem influenciar na alimentação diária. Quando acontece algum tipo de estresse antes do almoço, por exemplo, a pessoa opta por comer algo mais calórico, inconscientemente ou não. Para driblar tais quadros, Camila Ataide afirma que o melhor caminho é o autoconhecimento. Uma vez que você entende o que e quando algo afeta você , é possível “tomar decisões mais saudáveis”.
Alimentação balanceada é o segredo
Conforme artigo publicado pela nutricionista Tuani Mendes, estudos comprovam que quanto maior a ingestão de alimentos altamente processados, maiores são as chances do desenvolvimento de sintomas psiquiátricos como ansiedade e depressão. Um estudo feito no campus universitário de Apalaches (EUA) demonstrou que a maior parte dos estudantes diagnosticados com depressão ou ansiedade ingeriam uma menor quantidade de frutas e vegetais e maior quantidade de açúcar.
Mesmo que muitos alimentos causem a sensação de prazer e alívio momentâneo, é necessário ter em mente que nada em excesso faz bem e que muitos deles não fornecem o que o corpo realmente precisa. Camila Ataide explica que a alimentação saudável é responsável por fornecer vários nutrientes essenciais responsáveis pelo bem estar. “Quando comemos um alimento ultraprocessado, estamos ingerindo muita energia e pouco nutriente, por isso muitas vezes a pessoa pode, sim, se sentir cansada e desanimada”, explica.
Acostumado com uma dieta balanceada, combinada com uma rotina de exercícios físicos, o estudante Rômulo Brito, 22 anos, sente que quando falha na alimentação e fica muito tempo sem comer, se sente fraco e distraído, o que ocasiona, segundo ele, no excesso de pensamentos e ansiedade.
Camila confirma o quadro de Rômulo e explica que existem vários nutrientes que são importantes para muitas reações no corpo. “A questão de atenção, questão de foco, de várias coisas que podem fazer com que a gente seja uma pessoa mais atenta e mais tranquila; ou a má alimentação que também pode fazer com que fiquemos mais cansados, mais desanimados, durma pior…”
Para que haja um equilíbrio e que a saúde mental seja beneficiada pela ingestão de alimentos, a nutricionista recomenda que, antes de tudo, o indivíduo comece a observar o corpo em relação a fome e saciedade, entender o que realmente precisa comer e a quantidade que o corpo precisa. Partindo para a prática, ela indica que seja feita a ingestão de pelo menos três porções de diferentes frutas ao dia e cinco porções de vegetais. “Quando a pessoa tem uma rotina saudável, uma alimentação equilibrada, ela também tem uma certa proteção em relação a ansiedade e quadros relacionados”, pontua.