Pobreza menstrual e os seus efeitos

Jornal, pedaços de pano, folhas de árvore ou miolos de pão são o resultado da falta de acesso à higiene menstrual

Amanda Sales

Postado em 12/10/2021

De acordo com a Organização das Nações Unidas(ONU) o acesso à higiene menstrual é tido como um direito e deve ser tratado como uma questão de saúde pública e de direitos humanos.

O relatório Livre para Menstruar, elaborado pelo movimento Girl Up, que busca o acesso gratuito a itens de higiene e condições básicas de saneamento para as mulheres, relata que, no Brasil, uma em cada quatro adolescentes não possui um absorvente durante seu período menstrual. Além disso, globalmente, 500 milhões de meninas e mulheres não dispõem de instalações para cuidar de sua higiene menstrual. 

Como resultado disso, diversas mulheres acabam  recorrendo a meios indevidos para conter o ciclo, com pedaços de pano, jornal, folhas de árvore ou miolos de pão.

O que é pobreza menstrual?

O termo nascido na França pode ser definido como “a falta de acesso não somente a itens básicos de higiene durante o período de menstruação, mas também a falta de informação, dinheiro para comprar um absorvente e, principalmente, falta de apoio”. fonte da aspa

Tida como um tabu, muitas meninas crescem e passam por toda a fase de primeira menstruação sem nunca ter conversado com familiares e amigos sobre o assunto. As mulheres costumam esconder absorventes e sentir vergonha ao serem perguntadas sobre a menstruação. Esse problema é acentuado ao, além da vergonha, não ter uma condição de obter uma higiene correta. 

‘‘O principal problema de uma falta de higiene menstrual são as consequências disso. Infecções graves que podem levar à morte da paciente’’, comenta a ginecologista, Marcelle Thimoti.

O pensamento sobre o tema ainda caminha a passos lentos. A falta de interesse  em políticas públicas se deve ao fato de estarmos em  uma sociedade patriarcal. Porém, recentemente foi levado à votação da Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 944/2019, que  propõe a criação de  mecanismos para fornecer absorventes higiênicos às mulheres e adolescentes em situação de vulnerabilidade. 

Os impactos na sociedade

A ausência de absorventes, além de provocar uma perda de confiança e autoestima nas mulheres, também acarreta mudanças de comportamentos e impactos diretos na sua educação. A evasão escolar de adolescentes em período menstrual é um importante sinal de que o tema deve estar presente nos debates governamentais. 

No Brasil, 20% das adolescentes não possuem água tratada em casa e 200 mil estudam em escolas com banheiros sem condições de uso, o que torna o cuidado com a higiene menstrual mais difícil.

O relatório Livre para Menstruar estima que uma pessoa que menstrua gasta entre R$ 3 mil e R$ 8 mil reais ao longo de sua vida com a compra de absorventes, o que para as pessoas que se encontram em situações de vulnerabilidade social representa aproximadamente quatro anos de trabalho para custear todos os absorventes que serão utilizados em sua vida.

‘‘Uma mulher que não tem acesso a um absorvente, um coletor, uma calcinha absorvente, acaba recorrendo a meios para conter o fluxo. Já ouvi relatos de usarem miolo de pão, papel higiênico. E isso não é adequado além de afetar ativamente a saúde mental dessa mulher, que fica sem autoestima’’,  comenta a ginecologista, Marcelle Thimoti.

Faça parte desta luta

Foi dentro desse contexto que  as alunas de ensino médio do colégio Marista João Paulo 𐤚, Ariadne Lazzarin (17) e Julia Marcolini (18) criaram o projeto Ciclos. Com o objetivo de arrecadar absorventes e lenços umedecidos para a distribuição em entidades de caridade.  

A ausência de absorventes, além de provocar uma perda de confiança e autoestima nas mulheres, também acarreta mudanças de comportamentos e impactos diretos na sua educação

“Eu sempre pensei em como essas mulheres de rua ou sem condições faziam para cuidar da saúde menstrual. E eu, de início, não sabia como ajudar e o que fazer, então esse projeto veio na hora certa e do jeito certo’’, comenta Ariadne.  

A conversa aberta trouxe para Júlia uma facilidade na hora de lidar com a menstruação. “Por conta da nossa bolha, muitas vezes, a gente não entende como que tem algumas mulheres que não têm acesso ou não conseguem falar abertamente sobre menstruação”. E isso não é adequado além de afetar ativamente a saúde mental dessa mulher, que fica sem autoestima’’,  comenta a ginecologista, Marcelle Thimoti.