A luta por apoio das mães universitárias no Distrito Federal
Coletivo de mães da UnB se torna um exemplo de resistência e apoio na busca por políticas públicas que garantam a permanência de mães nas universidades do DF.
Postado em 17/04/2025
Conciliar a maternidade e a educação superior é um desafio para muitas mulheres, que enfrentam dificuldades relacionadas à falta de apoio institucional, infraestrutura inadequada e a ausência de políticas públicas voltadas para as necessidades específicas das mães universitárias. De acordo com dados da Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), cerca de 49% das mulheres no DF são mães e 58% delas estão inseridas no mercado de trabalho, para as que tem filhos pequenos e o desejo de concluir o ensino superior, o cenário é ainda mais complicado, comprometendo a educação e fazendo com que nem todas cheguem a academia.
As mães universitárias do Distrito Federal enfrentam uma batalha diária para equilibrar os estudos com a maternidade. Embora iniciativas como o Coletivo de Mães da UnB e a Política Materna e Parental sejam passos importantes, ainda há muito a ser feito para garantir que todas as mulheres, independentemente de sua condição materna, tenham igualdade de oportunidades no acesso e permanência nas universidades. O apoio institucional, a criação de políticas públicas eficazes e o fortalecimento de redes de suporte são fundamentais para que essas mulheres possam conquistar seus sonhos acadêmicos sem que a maternidade seja um obstáculo.
Desafios cotidianos e falta de suporte institucionalA realidade de muitas mães universitárias no DF é marcada pela falta de políticas públicas eficazes, como creches universitárias, horários flexíveis e apoio institucional. “A jornada de uma mãe universitária é um verdadeiro malabares. Além das dificuldades cotidianas, como a alimentação e o cuidado com nossos filhos, ainda temos que nos desdobrar para cumprir os prazos acadêmicos”, afirma Maria Eduarda Costa, de 28 anos, estudante de Medicina na Universidade de Brasília (UnB) e mãe de Bianca, ou baby Bi, como prefere chamar a menina de 3 anos.
Maria destaca a importância de espaços acolhedores dentro da universidade, “Ter um ambiente que reconheça as necessidades de mães como nós faz toda a diferença. A UnB já avançou, agora temos uma recente conquista que é a creche do GDF, mas ainda falta muito para garantir que todas as mães possam se dedicar aos estudos de forma plena e sem sobrecarga”, falando sobre a nova creche do governo do Distrito Federal na UnB, o Centro de Ensino Infantil (CEI-UnB) disponibiliza 121 vagas para mães com crianças entre zero e cinco anos de idade.
A luta das mães por mais apoio: o coletivo de Mães da UnB
Uma das principais formas de apoio encontradas por essas mulheres é a união entre elas. O Coletivo de Mães da UnB (CMUnB), fundado em 2016, tem sido um exemplo de resistência e apoio muito importante. O coletivo busca garantir a permanência de mães e pais na universidade, fazendo encontros, discutindo demandas e propondo melhorias nas políticas institucionais.
Brenda Gonçalves, integrante do coletivo, mãe de uma menina de 11 anos e acadêmica de pedagogia, explica que a ideia inicial do grupo era criar um espaço onde as mães pudessem compartilhar suas experiências e dificuldades. “O coletivo é um ponto de apoio para as mães da universidade. Aqui, conseguimos trocar experiências, buscar soluções para nossos desafios e, principalmente, nos apoiar emocionalmente.”
Em 2023, o coletivo celebrou a inauguração de 41 fraldários nos campus da UnB, uma das grandes vitórias conquistadas pelo grupo. A medida, que facilita o cuidado das crianças durante o expediente universitário, foi uma demanda antiga das mães que fazem parte do coletivo.
Coletivo de Mães da UnB (CMUnB), fundado em 2016, tem sido um exemplo de resistência e apoio importante.
Histórias de superação e resistência
Além da organização do coletivo, muitas mães universitárias têm mostrado como a superação de desafios diários pode ser possível com muito esforço e apoio, tanto institucional quanto familiar e por outro lado, a ausência destes pode dificultar ainda mais o processo de formação acadêmica.
Paula de Sá, de 24 anos é estudante de Biologia e mãe de uma criança de 6 anos, passa o dia na universidade, o que dificulta o contato com a filha e ao mesmo tempo com a faculdade quando não tem com quem deixar a menina. Paula destaca a importância de políticas públicas que ofereçam suporte contínuo. “É fundamental que a universidade compreenda as especificidades da nossa jornada. Não se trata apenas de uma ajuda pontual, mas de um sistema que torna possível a conciliação entre maternidade e estudos”, diz.
Já Claudia Ramos, estudante de Psicologia, enfrenta dificuldades relacionadas à logística ao acesso a universidade, já que mora em Planaltina de Goiás, cidade distante do campus Darcy Ribeiro. A jovem de 26 anos conta que para chegar a academia precisa pegar de três a quatro ônibus, o que é ainda mais difícil com uma criança de 2 anos “A distância torna tudo mais difícil. São longos deslocamentos e, com um bebê, isso é um grande obstáculo. A universidade precisa se adequar para tornar o acesso mais viável para mães que vivem fora do Plano Piloto”, aponta Claudia.
Luiza Maria Mercedes, mãe solteira de uma criança de 4 anos e estudante de Geografia, enfrenta um desafio adicional: a falta de uma rede de apoio familiar e a maternidade solo. A jovem de também 24 anos, ressalta a dificuldade que é ser uma mães solteira e já sem contato com o genitor da criança, para seguir a jornada de estudos “Sem a ajuda de familiares, a pressão é muito grande. Tenho que me dividir entre os cuidados com meu filho e os estudos. Isso torna tudo mais difícil, e muitas vezes me sinto sozinha e sem confiança”, conta Luiza.

Políticas de apoio: avanços e limitações
Apesar dos avanços com a criação de coletivos e políticas como a Política Materna e Parental da UnB, aprovada em 2024, que busca promover a inclusão de mães, pais e responsáveis legais, muitas mães ainda enfrentam desafios significativos. A política prevê a criação de ambientes acolhedores e o oferecimento de suporte institucional, como bolsas remuneradas e horários flexíveis. No entanto, a falta de creches universitárias e a escassez de outros recursos de apoio são barreiras que ainda precisam ser superadas.
“A Política Materna e Parental da UnB é um passo importante, mas é necessário que mais instituições de ensino superior sigam o exemplo e implementem políticas que reconheçam e apoiem as necessidades das mães”, afirma Brenda Gonçalves, lembrando que a luta por igualdade de acesso à educação superior ainda está longe de ser concluída.