Escola de skate oferece aulas gratuitas para alunos com deficiência
True Dog Skate realiza aulas adaptadas desde 2021, com foco no desenvolvimento individual dos praticantes
Postado em 30/04/2025
A escola True Dog Skate, localizada em Águas Claras (DF), oferece aulas de skate que promovem a inclusão. Sob a coordenação do terapeuta ocupacional Welton Silva e de sua sócia, Jainane Abrantes, as aulas são direcionadas para alunos de todas as idades, com e sem deficiência. As atividades do projeto são adaptadas com o propósito de tornar o esporte mais acessível.

A trajetória da escola começou antes da pandemia do COVID 19, quando Welton dava aulas de forma independente. O primeiro aluno do projeto foi um cadeirante, o que motivou o professor a aprimorar os seus conhecimentos sobre deficiência e ajustar sua metodologia. Em 2021, com a retomada das atividades presenciais, o projeto expandiu, chegando a atender cerca de 45 alunos.
Atualmente, a escola conta com aproximadamente 25 alunos fixos e uma equipe de professores com anos de experiência. As aulas da escola são pagas, porém há alunos bolsistas. Já os estudantes com deficiência têm acesso gratuito às aulas, além de acompanhamento especializado. Welton aplica seus conhecimentos em terapia ocupacional para entender as restrições e metas individuais do aluno, promovendo adaptações, se necessário. Os alunos aprendem, além da técnica, a cultura do skate: história, comportamento, respeito e união e principalmente a “viver o skate”.
A escola atende desde crianças a adultos, promovendo um ambiente de parceria e respeito, tendo como o seu diferencial a abordagem individualizada. O projeto também organiza ações sociais, como doações de materiais a alunos de baixa renda e bolsas integrais. Nos campeonatos, a True Dog deixa sua marca com torcida organizada, uniformes e bandeiras, ajudando não apenas no desempenho técnico, mas também no trabalho em equipe entre os praticantes.

Jainane Abrantes é um dos principais nomes por trás da consolidação do projeto. Diagnosticada com uma inflamação na medula durante a infância, ela viveu parte da vida em cadeira de rodas e hoje anda com o auxílio de uma órtese. Apaixonada por skate desde a adolescência, iniciou os treinos de forma mais intensa em 2021, quando foi convidada a se juntar a True Dog como aluna bolsista. Com o tempo, tornou-se sócia da escola e passou a trabalhar na gestão e comunicação.
Atualmente, Jainane é embaixadora do paraskate feminino no Brasil pela ABPSK, e uma das poucas mulheres com deficiência que representam a modalidade no país. “Nunca achei que seria capaz, mas senti no meu coração que o skate era parte importante da minha vida.” conta. Em 2024 foi convidada a participar da abertura da categoria de paraskate no STU-SP, um dos maiores eventos de skate do país, um marco na luta por visibilidade e inclusão dentro do paraskate feminino. A presença de Jainane no evento fortaleceu a imagem da True Dog Skate como referência e abriu portas para futuras competições e ações pela acessibilidade no esporte.
Além disso, a relação entre Jainane e Welton foi além das pistas. A conexão inicial como professor e aluna se tornou uma parceria pessoal e profissional. Segundo Jainane, foi a confiança depositada por Welton em seu potencial, mesmo diante de limitações físicas, que a fez seguir no skate de forma mais séria. A relação foi motivada pelo apoio mútuo e objetivos partilhados, resultando não só no casamento, mas na coordenação conjunta da escola. Hoje, ambos atuam lado a lado para expandir o alcance do projeto, fortalecer a inclusão no esporte e abrir caminhos para mais mulheres com deficiência no skate.

Outro exemplo do impacto da True Dog é a história do primeiro aluno do projeto: Mateus Moreira, diagnosticado com condição congênita chamada mielomeningocele. Ele conheceu a escola devido ao vínculo passado com o professor Welton e se tornou aluno posteriormente. Mateus enfrentou desafios para adaptar as manobras à sua deficiência, mas encontrou acolhimento e incentivo constante. “Eu nunca me senti excluído com eles. Sempre que eu chegava na pista o professor já vinha me receber com o maior carinho, me apresentando pra todo mundo, falando das minhas potencialidades.”, afirma.
Para Mateus e também para outros alunos portadores de deficiência, o skate se tornou ferramenta de autoconhecimento, confiança e pertencimento, destacando a importância de profissionais capacitados, que acreditam no potencial dos alunos além do físico, ajudando os participantes a se sentirem mais seguros e confiantes para socializarem.
