Informalidade sustenta 39% dos empregos no Brasil, mas exclui milhões de direitos trabalhistas
A informalidade é a realidade de 39 milhões de trabalhadores, entre feirantes, catadores, diaristas e vendedores ambulantes, que movimentam a economia das cidades mesmo sem reconhecimento legal ou direitos trabalhistas.
Postado em 30/04/2025
Em meio ao debate sobre crescimento econômico e geração de empregos, um contingente de quase 40 milhões de brasileiros sustenta parte significativa da economia sem acesso a direitos básicos. São trabalhadores informais e ambulantes que, segundo o IBGE, representavam 38,1% da força de trabalho no primeiro trimestre de 2025, realidade que persiste há anos e reflete desigualdades estruturais.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) revelam que, no quarto trimestre de 2024, 26,6% dos empregados do setor privado não tinham carteira assinada, o maior percentual desde o início da série histórica, em 2012. A informalidade é a realidade de feirantes, catadores, diaristas e vendedores ambulantes que mantêm a economia das cidades em movimento, mesmo sem reconhecimento legal ou direitos trabalhistas.

Grandes eventos, como o Carnaval de 2024, ilustram a imprevisibilidade dessa forma de trabalho. Uma pesquisa do Mercado Pago mostrou que pequenos vendedores tiveram aumento de 64% nas vendas durante o período, impulsionados pelo fluxo turístico. No entanto, a falta de políticas para regularizar a atividade deixa esses trabalhadores expostos a riscos em outras épocas do ano.
A precariedade é ainda mais evidente nas capitais. Um estudo da Codeplan de 2020 analisou o perfil dos informais no Distrito Federal e identificou que muitos migraram para a informalidade após demissões no setor formal, especialmente durante crises econômicas. Vendendo chinelos na Rodoviária do Plano Piloto há 10 anos, Iratânia Costa Silva reclama que acabou recorrendo ao trabalho informal por falta de oportunidade. “Quando vou para o mercado de trabalho, dizem que estou velha, mas, quando tento me aposentar, ainda não tenho idade”.
Sem qualificação reconhecida ou acesso a crédito, esses trabalhadores enfrentam dificuldades para escalar negócios ou garantir renda estável. Iratânia não esconde que se incomoda com o fato de estar sem a segurança da carteira assinada. “É uma aventura. Venho todos os dias para cá sem saber se vou vender bem, se vou conseguir tirar o sustento do meu dia ou do mês. Conto com a sorte”.
Desafios estruturais e possíveis caminhos
A falta de proteção social é um dos principais entraves. Trabalhadores informais precisam arcar sozinhos com sua aposentadoria, licença-maternidade ou auxílio-doença sem qualquer tipo de apoio, o que os torna vulneráveis a imprevistos. Além disso, a instabilidade de renda, agravada por fatores como condições climáticas e flutuações sazonais, dificulta o planejamento financeiro e força trabalhadores a jornadas de trabalho exaustivas para compensar.

Claudiane de Nazaré Silva, vendedora de roupas na Colônia Agrícola 26 de Setembro, conta que, após mais de um ano sem encontrar vagas formais, aceitou o conselho de uma amiga e ingressou na informalidade. “Caso eu adoeça, não tenho plano de saúde para procurar um hospital. Além disso, se eu parar de trabalhar hoje, amanhã não vou ter nada. Então, sou eu por mim mesma e meus filhos”, lamenta a trabalhadora.
A relação entre os trabalhadores informais e as grandes cidades é marcada por contradições. Enquanto a movimentação em feiras e pontos turísticos garante sustento, a ausência de infraestrutura básica, como áreas de proteção contra chuva ou saneamento, reforça a marginalização desses profissionais. Apesar dos desafios, a informalidade segue como alternativa vital em um país onde o desemprego ainda atinge 8,4% da população, segundo o IBGE. Enquanto o desemprego seguir como realidade para parte expressiva da população, a informalidade permanecerá como válvula de escape para a comunidade.