Brasília celebra 65 anos com festa que reafirma identidade cultural da capital

Mais de 260 mil pessoas participaram da programação espalhada pelo DF, que reuniu atrações para diferentes públicos e reforçou o sentimento de pertencimento

Ana Cláudia Botelho de Lima

Postado em 30/04/2025

De data cívica a marco cultural, aniversário da cidade ganha força como símbolo da diversidade brasiliense, com shows, exposições e atividades populares espalhadas por todo o DF. Foto: Renato Alves/ Agência Brasília

A comemoração pelos 65 anos de Brasília, celebrada entre os dias 19 e 21 de abril, consolidou de vez a transformação da data em um evento cultural de grande escala. Mais de 260 mil pessoas participaram das atividades gratuitas promovidas em diferentes regiões do Distrito Federal, em uma programação que reforçou o protagonismo da cultura local, aliada a grandes atrações nacionais.

O aniversário da capital, historicamente associado a solenidades cívicas, hoje integra o calendário cultural do DF com estrutura robusta e apelo popular. Shows de artistas como Wesley Safadão, Léo Santana e Eli Soares na Esplanada dos Ministérios dividiram espaço com mostras de cinema, concertos, exposições de arte, festivais gastronômicos e celebrações religiosas. A descentralização das atividades, com ações também em regiões administrativas, ampliou o alcance da festa e fortaleceu o sentimento de pertencimento entre os moradores.

Festa para todos

A edição de 2025 apostou na diversidade para representar o espírito da cidade. Com o tema “O melhor tempo é agora”, a programação valorizou manifestações culturais variadas, como maratonas, oficinas comunitárias, apresentações de quadrilhas, grupos percussivos, feiras de artesanato e espaços voltados ao público idoso — além de áreas pensadas para crianças e pets, reforçando o caráter inclusivo da festa.

“Brasília nunca teve um evento tão grandioso quanto o do aniversário de 65 anos”, avalia Bianca Araújo, moradora da Asa Norte e frequentadora das edições anteriores. “Acredito que isso se deve, em grande parte, ao fato de ser o último mandato do governador Ibaneis – me parece que ele quis marcar sua gestão de forma memorável. A diversidade de atrações foi impressionante, com opções para todos os gostos. Fiquei realmente encantada com a forma como conseguiram transformar o aniversário em um momento histórico para a cidade”, completou.

Além da Esplanada, espaços como o Cine Brasília, o Teatro Nacional e o Museu da República também receberam atividades especiais, com sessões temáticas e apresentações artísticas que homenagearam a trajetória da capital. Para Bianca, a evolução da festa ao longo dos anos é notável: “No primeiro ano em que participei, houve um grande show do Alok no dia 21. Mas este ano tivemos três dias inteiros de festa. Achei uma ideia genial — do ponto de vista político também foi um grande acerto”.

Cultura e economia em movimento

Com investimento de R$ 15 milhões por parte do Governo do Distrito Federal — sendo R$ 1,5 milhão oriundos do Ministério do Turismo —, a festa também movimentou a economia criativa e o turismo local. Segundo a Secretaria de Turismo do DF, houve um crescimento de 20% na ocupação hoteleira durante o período, puxado por pacotes promocionais e o aumento do fluxo de visitantes. O setor de alimentação também teve impacto direto, com alta no faturamento de pequenos comerciantes e empreendedores locais.

Além disso, o GDF implementou o programa “Vai de Graça”, que garantiu transporte público gratuito entre os dias 17 e 21 de abril. A medida, segundo o governo, foi fundamental para ampliar o acesso aos eventos, especialmente das regiões mais afastadas. Também foram destacados os esforços em segurança, com reforço de policiamento nas áreas de maior circulação, e ações voltadas à acessibilidade, como intérpretes de Libras em shows e infraestrutura adaptada.

Reconhecimento e identidade

Um dos momentos mais simbólicos da celebração foi a entrega da Medalha do Mérito Distrital da Cultura Seu Teodoro, que homenageia artistas e projetos com contribuição relevante para a cena cultural do DF. A premiação reforça o compromisso com as raízes da cidade, construídas diariamente por meio da convivência, da arte e da expressão popular.

O Instituto Eleva, parceiro do GDF na realização do evento, destacou o caráter democrático da celebração. “Nosso compromisso foi garantir que o aniversário de 65 anos de Brasília refletisse a diversidade e a riqueza cultural da cidade. A ideia foi democratizar o acesso à cultura, levando atrações gratuitas de qualidade tanto para o centro quanto para as regiões administrativas. Foi um desafio logístico e artístico que nos enche de orgulho”, declarou a instituição.

O secretário de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal, Claudio Abrantes, também enfatizou o papel transformador da cultura nas comemorações. “Brasília nasceu do sonho, da ousadia e da união de povos de todas as partes do Brasil. E é justamente essa diversidade que buscamos refletir nas comemorações do seu aniversário”, afirmou. Segundo ele, a festa se consolidou como um dos maiores eventos culturais do calendário local graças à escuta ativa da população, dos artistas e dos coletivos culturais.

“Entendemos que o aniversário de Brasília precisava ser mais do que uma cerimônia — ele precisava ser uma verdadeira festa do povo, com a cara e a alma do Distrito Federal”, completou Abrantes. Ele ressaltou ainda que a descentralização das atividades e a variedade de expressões artísticas presentes no evento — de manifestações populares tradicionais à cultura urbana contemporânea — refletem o caráter plural da capital. “E mais do que entretenimento, o aniversário de Brasília virou também um motor da economia criativa. Cultura gerando renda, inclusão e pertencimento”, concluiu.

Tradição em transformação

A evolução do aniversário de Brasília como evento cultural acompanha o amadurecimento da própria capital. Criada como símbolo de modernidade e planejamento urbano, a cidade agora aposta em outras formas de projeção: pela arte, pela diversidade e pelo encontro das vozes que a habitam. Desde o início do século, o evento vem ganhando novo formato — e, nos últimos cinco anos, a política de incentivo à cultura local tem sido central para esse reposicionamento.

Com a ampliação da programação, o engajamento popular crescente e a institucionalização da data como celebração cultural, a tendência é que a festa continue a se expandir. Brasília reafirma, assim, não apenas sua função como centro político do país, mas também como um dos polos mais vibrantes de produção e expressão cultural do Brasil.