IA transforma estágios e desafia a autenticidade
A IA está transformando a jornada dos estagiários, trazendo apoio e agilidade, mas também gerando desafios em relação à autenticidade e originalidade.
Postado em 27/04/2025

Em meio a prazos apertados, reuniões virtuais e e-mails que não param de chegar, uma geração de profissionais em formação está reformulando a forma de trabalhar e a inteligência artificial se tornou peça-chave nesse processo. Ferramentas como ChatGPT, Notion AI, Gemini e outras já fazem parte da rotina de quem está entrando no mercado cada e busca agilidade, organização e até segurança para enfrentar os desafios do estágio.
Se antes a IA era vista com desconfiança ou curiosidade, hoje é tratada como aliada. Seja para revisar textos, estruturar ideias, responder mensagens ou planejar tarefas, o uso dessas tecnologias se tornou comum entre jovens profissionais. E embora a prática ainda cause estranhamento entre chefes e colegas mais experientes, ela aponta para uma mudança de mentalidade no ambiente de trabalho.
Karoline Ilza, de 23 anos, estagiária de Design Gráfico na Escola Nacional de Administração Pública (Enap), conta que a inteligência artificial se tornou uma parceira frequente em sua rotina. “Costumo usar a inteligência artificial para me ajudar nos projetos que me são atribuídos. A IA me ajuda a ter a base, e eu desenvolvo o projeto”, explica. Para ela, a ferramenta não substitui o processo criativo, mas serve como ponto de partida. “Sim, me ajuda a aprender como a ferramenta funciona e do que ela é capaz”, completa.
Yasmim Aimê, de 22 anos, também estagiária na Enap, mas na área de Design voltado para redes sociais, reforça o uso da IA como facilitadora do processo criativo. “Costumo utilizar a IA para facilitar pesquisas complexas em vários sites, estudos e artigos, sempre pedindo referências e conferindo para que não haja erros”, explica. Ela também utiliza a ferramenta como corretora de textos longos e complexos, mas pondera sobre o equilíbrio necessário. “Acredito que depende da ferramenta e de como você a utiliza para o trabalho, pois pode virar algo de costume, onde você opta pelo mais fácil, ao invés de usar para facilitar sua rotina e sua esteira de produção.”
Para Oscar Soler, designer gráfico sênior de 32 anos, a inteligência artificial tem potencial para acelerar processos e otimizar tarefas, principalmente quando há clareza sobre o objetivo final. Ele vê nas ferramentas baseadas em IA uma extensão das capacidades humanas, especialmente em softwares de edição gráfica, como o Photoshop.
“Uso ocasionalmente no meu trabalho. Os programas de edição de fotos têm algumas ferramentas de IA bem úteis na hora de fazer artes para publicidade. Acho que a IA na área do design gráfico facilita os processos de criação e edição de projetos gráficos, se tiver um objetivo claro.”
Supervisão atenta
Enquanto jovens profissionais abraçam as novas tecnologias, a visão de quem supervisiona esse processo também merece destaque. Supervisores que acompanham de perto a rotina de estágios percebem como o uso da inteligência artificial pode acelerar aprendizados, otimizar tarefas e ampliar horizontes.
Para Jonas J. Santos, designer gráfico e operador de mídias audiovisuais de 29 anos, o interesse dos estagiários pelas ferramentas baseadas em IA é um reflexo da curiosidade natural de quem está começando. Ele acredita que essa abertura ao novo ajuda a expandir o repertório técnico e criativo de maneira mais rápida.
“Tudo é novo e encantador para quem está começando, e isso facilita o aprendizado. Se essas ferramentas estivessem disponíveis quando comecei, com certeza teriam impulsionado meu desenvolvimento profissional.”
Jonas reforça que a inteligência artificial, quando bem utilizada, pode ser uma aliada poderosa, mas que é preciso acompanhar as transformações tecnológicas de forma ativa. “Hoje não tem para onde fugir além de aprender e se aperfeiçoar com as novas tecnologias, quem não fizer isso, ficará para trás”, completa.
Oscar também aponta para as questões éticas que envolvem o uso da tecnologia, destacando a necessidade de regulamentação.
“Como qualquer tecnologia que vai surgindo através do tempo, a IA é uma grande ajuda para aprender e melhorar processos que os seres humanos nem sempre conseguem fazer em tempo reduzido. Agora, quando falamos que a IA pode vulnerar os direitos de autor e toda a polêmica que gera a ética no redor do seu uso, vai continuar sendo polêmico até o dia que sejam feitas leis que protejam os interesses em comum da sociedade.”
Samuel Plinio, de 23 anos, estagiário de designe na Enap, é um dos que preferem manter certa distância da IA, embora reconheça seu valor como ferramenta de apoio. Ele não a utiliza no cotidiano, mas acredita que, quando bem aplicada, a tecnologia pode ser um suporte importante.
“Eu não uso, mas conheço quem usa e acho tranquilo, dependendo do tipo de trabalho. Acredito que a IA seja apenas uma ferramenta facilitadora para a entrega de um serviço, ou seja, ela funciona como um suporte para o profissional, mas não tem capacidade de se destacar por si só, sem o envolvimento de uma pessoa física. Então, se você souber usar da forma certa, acredito que ela ajuda mais do que atrapalha”, afirma.
Em meio a esse novo cenário, o que se vê é uma reconfiguração da experiência do estágio. A tecnologia não substitui o aprendizado, mas transforma a forma como ele acontece. E, talvez, esse seja o ponto mais importante da revolução silenciosa que a inteligência artificial vem promovendo: ela não tira o protagonismo dos jovens, apenas os ajuda a encontrá-lo mais rápido.