Cultura k-pop movimenta eventos e concursos de dança no DF

Competições de covers atraem centenas de participantes e oferecem prêmios de mais de R$ 7 mil.

Daniel Lima de Araujo

Postado em 30/04/2025

Em Brasília, eventos de k-pop batem recordes de inscrições a cada ano que passa. Entre as categorias mais concorridas estão: solo, duo, trio e grupo. FOTO: Daniel Lima

O cenário competitivo voltado para os dance covers de k-Pop em Brasília vem ganhando destaque e força com a febre coreana. Mesmo enfrentando desafios como a falta de estrutura para ensaios, os participantes da capital trazem apresentações que encantam o público. O que antes era apenas uma forma de homenagear os ídolos sul-coreanos, hoje movimenta eventos culturais e atrai centenas de inscrições para as competições, além de oferecer prêmios que ultrapassam R$7 mil. 

Na maioria dos eventos, para participar das competições, os candidatos preenchem um formulário de inscrição e enviam um vídeo de seleção; assim, os melhores grupos são escolhidos para competir. Os concursos são diversificados, com categorias que vão de solos até grupos maiores, como duos, trios e grupos que às vezes chegam a ter mais de 10 integrantes. 

Você já conhece o mundo cover?

Um cover de k-pop é quando fãs ou grupos reproduzem apresentações de artistas do gênero, imitando suas coreografias e até mesmo os figurinos. Entre os eventos mais importantes da cidade estão o K-Festival, MansaeGayo!, K-pop Talent’s, Brasília Game Festival, Candangeek e KM, que atraem uma grande quantidade de inscritos e são marcos no calendário dos fãs e artistas locais. 

Kyan Ryu, 27 anos, produtor de k-pop no DF, afirma que o nicho tem crescido muito na última década e o maior desafio é o patrocínio e o incentivo, que, na maioria das vezes, depende exclusivamente do produtor. “Sou parte da comunidade desde 2014 e vi tudo mudar muito, a qualidade dos covers cresce muito desde então”, complementa.

Ryu aponta que o público dos eventos é exponencial, cresce constantemente junto com os retornos de grupos famosos da Coreia. Eles têm um papel ativo na organização ou divulgação dos eventos. “O público geral e os participantes dos eventos engajam muito nos projetos, são eles que movem os produtores”.

Douglas Rasley, 27 anos e produtor, explica que a forma de seleção do K-Pop Talents é um pouco diferente, baseada na ordem de chegada das inscrições. “Por isso é um evento acolhedor, tanto para quem está iniciando, quanto para quem já está competindo e concorrendo. Todos esperam apresentar algo muito bem feito e serem validados pelo público, aumentando a autoestima e confiança”.

Uma caminhada que exige esforço e preparação

A preparação para os concursos é intensa e exige muito mais do que apenas aprender a coreografia. Os participantes se dedicam aos detalhes: ensaios rigorosos, prática constante das expressões faciais, e até mesmo a dublagem das músicas, para garantir uma performance impecável. O investimento em figurinos é um dos diferenciais dos grupos, que se esforçam para recriar com precisão os looks de seus ídolos. Apesar das dificuldades, como a falta de locais adequados para ensaio, com espaços quentes e precários, a paixão pelo k-pop mantém os participantes motivados.

A banca de jurados é composta por profissionais da dança em diversas áreas, além de contar também com um especialista em figurinos.
FOTO: Daniel Lima

Italo Sales, 27 anos, professor de k-pop, profissional da dança e jurado, afirma que o que fica em destaque na dança é a técnica, pois é o viés que estuda e trabalha; técnicas essas de tônus, fluidez, definição, angulação, musicalidade e outras características.

Durante o concurso os jurados discutem pontos que observam nas performances dos competidores. Nenhum aspecto é considerado mais importante que o outro, mas sim o que é dado como direcionamento de avaliação, descrito no edital.

Luana Lima, 17 anos, estudante de licenciatura em dança e competidora solo, afirma que se viciou no k-pop em 2021, quando começou a conhecer o mundo k cover. Ela acredita que há uma grande pressão para que o cover esteja à altura dos ídolos do k-pop em todos os quesitos. “Chega a ser desnecessária tanta pressão, que faz com que o dançarino cover ignore sua própria individualidade”.

Ítalo explica que a expressão facial e presença de palco são complementares com a técnica e uma performance não estará realmente completa se tais fatores não estiverem em harmonia. Ele diz que a essência é um dos pontos principais de uma apresentação. “Pra mim, o cover não é uma imitação, mas sim uma referência”. Se algo está sendo referenciado, é necessário trazer a própria interpretação daquilo e como transmitir aquela mensagem. “Existem vários pontos a serem avaliados e uma boa performance traz um equilíbrio entre todos eles”, completa.

As regras para as categorias variam de evento para evento, por isso é importante ficar atento ao edital. A categoria solo, por exemplo, pode permitir a participação de dançarinos que compõem a coreografia, conhecidos como backdancers. FOTO: Daniel Lima

Luana expõe que o quesito figurino é o que mais a incomoda. “Em certas competições elevam a importância dele de uma forma que chega a ser elitista”. Ela diz entender que faz parte da música e do conceito, mas defende que adaptações sem sair da ideia geral deviam ser mais abraçadas e respeitadas. 

Luanda Leão, 22 anos, estudante e membro do grupo cover DAWA, afirma que o cover é um conjunto de habilidades, e que para ela a expressão facial sempre é mais difícil. “Não tô falando que é impossível, mas requer muito treino, muita disciplina, muita atenção”, completa a dançarina. 

Na hora de ser avaliada, Luana comenta que aprendeu a lidar quando sua arte está sendo avaliada. “Gosto muito de ouvir os feedbacks dos jurados e absorver aquilo para minhas próximas apresentações. Com muito treino vou entendendo e aplicando os feedbacks e as críticas feitas pelos jurados”.

O processo faz a caminhada mais leve e divertida

No dia do evento, a ansiedade toma conta dos covers, que, depois de meses de ensaio, finalmente têm a oportunidade de se apresentarem para o público. O ambiente é de pura energia, com os grupos mostrando todo o seu trabalho, criatividade e amor pela cultura k-pop. O palco se transforma em uma arena onde cada movimento e sorriso são momentos de celebração, não apenas para os competidores, mas para todos que compartilham do evento e da cultura sul coreana.

Luana afirma que gosta muito quando escuta gritos e aplausos, mas se prepara mentalmente para caso isso não aconteça enquanto dança. “É notável que, quando se tem isso, você se sente muito mais motivado a continuar”. No geral, ela diz que sua experiência nos eventos é boa, o que aumenta a vontade de subir no palco de novo. 

Além dos prêmios e das vitórias, o que mais vale a pena é a experiência adquirida e a oportunidade de se expressar através da dança. Luanda diz que no processo é importante trabalhar duro, melhorar sempre e procurar fazer o melhor para entregar uma apresentação de qualidade. “No final, saber que o nosso trabalho em conjunto virou uma coisa legal, me deixa muito feliz”, complementa.

Como funciona a estrutura de um grupo cover?

Lisandra Rodrigues, 28 anos, integrante do grupo cover Coven explica que dentro dos grupos existem os líderes que atuam em tomar decisões como os eventos em que o cover participa e compete, além de definir os horários de ensaios, avaliar e orientar a performance durante os momentos de práticas, para que fique tudo perfeito no dia da competição. Finaliza dizendo que todos os membros do grupo têm liberdade para sugerir e opinar. “Também tomamos algumas decisões em grupo através de votação”.

Izabella Rodrigues, 27, estudante de Farmácia e também membro do Coven, afirma que primeiro é escolhida a música, depois são sondados os possíveis eventos em que podem competir, lembrando de contar o tempo de ensaio até lá, além do nível de dificuldade da coreografia.

Há uma grande limitação de espaço, “ensaiamos em local público, na rua mesmo, procuramos prédios com vidros espelhados e com um espaço em que possamos ensaiar”, afirma Lisa. O aluguel de espaços mais apropriados para ensaio costuma ser caro, então são poucas as vezes em que isso é possível. “Geralmente antes de alguma apresentação combinamos de fazer uma vaquinha para alugar”, completa. 

De acordo com Lisa, a parte mais difícil são as expectativas individuais dentro do próprio grupo, o medo de errar e prejudicar os outros membros é um exemplo, “é um ponto que me causa um pouco de nervosismo”. Apesar disso, ela diz que o importante é praticar sempre e se preparar bem, para no dia da apresentação o resultado ser o melhor possível. “Também tento aproveitar cada processo e levar os erros como aprendizado”.

Muito além da dança e arte

A convivência nos ensaios e a dedicação aos projetos criam vínculos fortes e duradouros entre os dançarinos. Os competidores compartilham histórias de amizade e apoio mútuo, que se transformam em laços que vão além da dança. Essa troca de experiências e o espírito de equipe fazem da competição um processo ainda mais especial.

Para Lisa, sua parte favorita são os ensaios que, apesar de difíceis, são muito divertidos e ela ama encontrar o grupo e socializar, ama mais ainda ver a evolução da coreografia desde quando começam a pegar os passos até quando vai tudo se encaixando e formando o espetáculo. “É um processo muito interessante, no começo achamos que vai dar tudo errado e com os ensaios vamos vendo as melhoras”, finaliza.

Luanda vê que por meio da dança ela se aproxima de pessoas importantes, tornando possível um vínculo mais íntimo, muitas das vezes se tornando uma amizade essencial para o cotidiano. “Vemos elas todos os dias, a gente acaba falando das dificuldades ou ajudando as pessoas em algo que elas precisam”, pontua a competidora.

Iza comenta que gosta da convivência semanal, e diz que é bom interagir e estar com pessoas de que gosta. Afirma que além da companhia, a fase final também é emocionante. “Gosto da reta final, quando o grupo já está com a coreografia fechada e figurino pronto, dá uma sensação boa de trabalho realizado”, complementa.