Treino em jejum pode ser eficiente, mas não é para qualquer um

Treinar sem se alimentar pode aumentar a queima de gordura e melhorar o metabolismo, segundo estudos. No entanto, especialistas alertam que a prática não é segura para todos e pode afetar o desempenho e a recuperação muscular.

Alice Pereira de Oliveira Silva

Postado em 16/03/2025

Nos  últimos anos, o treino em jejum tem sido discutido como uma possível estratégia para potencializar a queima de gordura e melhorar o metabolismo. A prática consiste em realizar atividades físicas sem consumir alimentos antes, obrigando o corpo a utilizar outras fontes de energia, como a gordura armazenada. Para alguns, essa abordagem traz resultados positivos, enquanto para outros pode representar riscos à saúde.

Estudos apontam que o treino em jejum pode aumentar a utilização de gordura como combustível. Uma pesquisa publicada no British Journal of Nutrition, revista científica da Universidade de Cambridge, indicou que pessoas que praticam exercícios aeróbicos em jejum queimaram cerca de 20% a mais de gordura do que aquelas que treinaram após se alimentar. 

Essa prática pode ter impactos positivos na saúde geral, auxiliando no controle de doenças crônicas e melhorando a resposta de hormônios ligados à saciedade.

Além disso, um estudo da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto da USP, publicado no Journal of Nutritional Biochemistry, revista científica acadêmica da Elsevier (empresa global de análise de informações), sugere que essa prática pode ter impactos positivos na saúde geral, auxiliando no controle de doenças crônicas e melhorando a resposta de hormônios ligados à saciedade.

Já uma pesquisa divulgada na Revista Brasileira de Nutrição Esportiva aponta que o treino em jejum pode favorecer não apenas a queima de gordura, mas também a melhora no perfil lipídico e na glicemia, fatores importantes na prevenção de doenças cardiovasculares e metabólicas. No entanto, o estudo destaca que esses benefícios só são alcançados quando há um equilíbrio nutricional adequado e um planejamento individualizado da prática.

A nutricionista esportiva Gabriele Lima alerta que, apesar dos benefícios para algumas pessoas, essa estratégia não é indicada para todos. “Quem tem diabetes, problemas renais ou vasovagal (condição na qual ocorre queda abrupta de pressão arterial e da frequência cardíaca) deve evitar o treino em jejum, pois há um risco maior de hipoglicemia e queda brusca de pressão”, explica. Ela reforça que a decisão de adotar esse tipo de treino deve ser feita com orientação profissional.

A principal razão pela qual muitas pessoas tentam o treino em jejum é justamente pela busca por uma maior queima de gordura. Sem a ingestão de carboidratos antes da atividade física, o corpo tende a utilizar os estoques de gordura como fonte de energia. O personal coach Samuel Rowinsky Coelho, certificado pela Get Fit Education, afirma que essa lógica faz sentido: “Quando os estoques de glicogênio estão reduzidos, o organismo recorre a outras fontes de energia, e a gordura se torna uma opção viável”.

"Você pode perder peso treinando em jejum ou alimentado, desde que esteja controlando sua ingestão calórica", afirma Samuel.

Entretanto, ele ressalta que o emagrecimento não depende exclusivamente dessa estratégia. “Perder peso acontece por meio de um déficit calórico, ou seja, gastando mais calorias do que se consome”.

Entre o jejum e o rendimento, a nutrição continua sendo a chave para o equilíbrio. Foto: Alice Pereira.

Riscos e impacto no desempenho

Porém, apesar da promessa de maior queima de gordura, o treino em jejum pode trazer também desafios para o desempenho físico. O personal trainer Elton Luis Cavalcanti, explica que a falta de nutrientes pode limitar a capacidade do corpo de executar exercícios de alta intensidade. “Quem faz musculação pode sentir menos impacto, mas treinos aeróbicos intensos ou HIIT (High-Intensity Interval Training), podem levar à exaustão rapidamente”, diz. 

Outro ponto de atenção é a possível perda de massa muscular. Segundo Elton, o corpo pode recorrer a aminoácidos musculares para gerar energia, prejudicando o ganho e a manutenção da musculatura. Para evitar esse problema, a recomendação é ter uma alimentação equilibrada ao longo do dia e ajustar o treino à capacidade individual, destaca o personal.

Além disso, sintomas como tontura, náuseas e fadiga são sinais de alerta. “Se a pessoa sentir fraqueza ou mal-estar, deve interromper o treino imediatamente e buscar outra abordagem”, completa Elton.

Experiência pessoal: quando o treino em jejum funciona

O nutricionista e ex-fisiculturista Albert Fernandes teve uma experiência positiva com o treino em jejum durante sua trajetória como atleta. “Em 2018, depois de quatro anos afastado das competições, adotei essa estratégia como parte da minha preparação e consegui reduzir meu percentual de gordura sem perder rendimento”, conta.

Hidratação: essencial em qualquer treino, ainda mais quando o corpo opera com reservas. Foto: Alice Pereira.

Para o ex-atleta, o sucesso da prática depende do planejamento nutricional. “Não adianta treinar em jejum sem cuidar da alimentação ao longo do dia. Eu sempre fazia uma refeição balanceada na noite anterior e priorizava alimentos ricos em carboidratos para garantir um estoque de energia”, explica Albert. Ainda para ele, a hidratação também é essencial: “Sempre mantive uma boa ingestão de líquidos e, antes do treino, consumia café preto ou chá verde para ajudar na disposição.”

O treino em jejum pode ser uma estratégia eficiente para algumas pessoas, mas exige planejamento e acompanhamento profissional. Quem tem condições médicas preexistentes deve evitar essa prática, e mesmo indivíduos saudáveis precisam avaliar os impactos no próprio desempenho e bem-estar.

Para quem deseja experimentar, o ideal é começar com treinos leves e observar como o corpo responde. A orientação de um nutricionista e de um profissional de educação física pode fazer toda a diferença na segurança e eficácia dessa abordagem.