Às margens do Lago Paranoá: de espaços religiosos a polos esportivos e gastronômicos

Entre a superfície calma e o movimento das margens, o lago devolve em reflexos a mistura de natureza, arquitetura e vida cotidiana que define Brasília

Marcio Domingos

Postado em 07/05/2025

Ponte JK. Créditos: Márcio Fernandes

O Lago Paranoá, um dos cartões-postais mais conhecidos de Brasília, nasceu de um projeto funcional ambicioso: ajudar a amenizar o clima seco do Planalto Central, servir como reservatório de água, favorecer o controle de enchentes e integrar o espelho d’água ao conceito urbanístico da nova capital. Mais do que uma obra de engenharia, o lago foi pensado para equilibrar meio ambiente e desenvolvimento urbano. Ao longo dos anos, no entanto, ele ultrapassou seus propósitos iniciais e se transformou em um dos principais espaços de convivência da cidade. Em suas margens, o que se vê hoje é um retrato dinâmico da diversidade social e da ocupação urbana do Distrito Federal: de espaços religiosos a polos esportivos e gastronômicos, o Lago Paranoá virou palco onde diferentes estilos de vida se encontram e, muitas vezes, se complementam.

A paisagem muda a cada trecho de sua orla, revelando diferentes formas de apropriação do espaço. A Prainha do Lago Norte, por exemplo, é ponto de lazer democrático e de grande circulação nos fins de semana. Carinhosamente apelidada de “Piscinão de Ramos” de Brasília, o local recebe centenas de pessoas, principalmente vindas do Varjão, Paranoá e Itapoã, que ocupam a orla com cadeiras de praia, caixas de som e boias infláveis. O espaço, que começou a ser utilizado de forma espontânea e sem infraestrutura, hoje oferece quadras, quiosques e pontos de aluguel para esportes aquáticos, como stand-up paddle e caiaque. Seu crescimento reflete a importância do Lago Paranoá como área de lazer acessível para a população.

Créditos: Márcio Fernandes

Seguindo a margem, a atmosfera muda completamente na Ermida Dom Bosco. Construída em homenagem ao santo italiano que profetizou a criação de Brasília, a pequena capela projetada por Oscar Niemeyer é um dos pontos mais simbólicos da capital. Além de ser um espaço de peregrinação e contemplação, o gramado ao redor da Ermida se transformou em um ambiente propício para piqueniques, prática de yoga e mergulhos no lago. Fé e lazer se entrelaçam, criando um cenário em que diferentes experiências coexistem em harmonia.

Ermida Dom Bosco. Ao fundo, à esquerda, a área central de Brasília. Créditos: Márcio Fernandes

O percurso pelo Lago Paranoá continua até o Parque da Asa Delta, que marca a entrada da Península Sul. O local, que já foi ponto de decolagem para praticantes de voo livre, hoje se tornou um dos exemplos mais marcantes da reocupação do lago por sua população. Antes cercada por muros e restrita a propriedades particulares, a área foi transformada em parque público, devolvendo à cidade um espaço de contato direto com a água. A ciclovia de 6,5 km que contorna a península convida ciclistas e corredores a explorarem a região, enquanto os gramados abrigam famílias, grupos de amigos e esportistas. Ao longo do percurso, decks se espalham pela margem, proporcionando mergulhos refrescantes e uma nova relação entre a cidade e o lago.

Topo do Morro da Asa Delta. Créditos: Márcio Fernandes

Poucos quilômetros adiante, o Lago Paranoá assume sua forma mais multifuncional na Ponte JK. Com seu desenho arrojado assinado por Alexandre Chan, a ponte não é apenas um elo entre as margens, mas também um ponto de convergência de lazer e cultura. Restaurantes sofisticados se alinham à orla, oferecendo gastronomia com vista privilegiada para o pôr do sol. Aos fins de semana, a ponte se transforma em pista de corrida e pedal, enquanto, abaixo dela, as águas do lago são ocupadas por velejadores, remadores e praticantes de stand-up paddle. Além do lazer diário, o local se consolida como palco para eventos esportivos e culturais, reforçando seu papel como centro de experiências ao ar livre.