Até que ponto é seguro seguir dicas de skincare da internet?

De acordo com pesquisa do Grupo Kantar Brasil, o aumento do autocuidado é reflexo da dinâmica da sociedade atual que é obcecada com a autoimagem “perfeita”.

Emanuely Araújo Santos

Postado em 09/04/2025

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o setor de cosméticos e perfumaria cresceu 560% entre 2018 e 2022

A preocupação com a pele sempre existiu, e sempre foi uma questão, principalmente entre o público feminino. Porém com a ascensão das redes sociais e a chegada da pandemia, as pessoas começaram a passar mais tempo reparando na própria aparência e, consequentemente, seguindo indicações dermatológicas na internet, sem orientação médica. 

Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o setor de cosméticos e perfumaria cresceu 560% entre 2018 e 2022. Houve um aumento de propagandas de cosméticos, por parte de influenciadores e marcas nas redes sociais, incentivando um uso irresponsável de produtos.

Para algumas pessoas, procurar por produtos na internet é mais prático do que ir ao dermatologista, já que nas redes sociais é possível achar diversas indicações e avaliações de um produto. Yandra Magalhães, estudante de Publicidade e Propaganda, de 19 anos, comenta que quando precisa de um produto, procura no Tik Tok por uma boa recomendação. “Para mim é muito mais prático pesquisar, por reviews no Tik Tok. Porque lá eu descubro o meu tipo de pele, qual sabonete é o certo para o meu tipo de pele, hidratante, protetor solar, etc.”, explica a estudante.

Além da praticidade, os custos também se tornam uma questão na hora de cuidar da pele. Para Yandra, nas redes sociais é possível achar produtos mais acessíveis. “Eu não vou ao dermatologista por preguiça e também porque se eu for lá eles vão indicar produtos muito caros. Então eu prefiro ver no Tik Tok, que é mais barato”, conta a estudante. 

Apesar dos pontos positivos, o uso de produtos sem orientação médica podem trazer diversos riscos, como explica Nayane Braga, dermatologista graduada pela Universidade de Brasília. “No consultório é bem comum a gente pegar a paciente que segue tendências no TikTok e acaba queimando a pele. Teve também paciente que eu atendi usando produto de blogueira e que acabou evoluindo para um quadro de foliculite, infecção de pele nos folículos pilosos. Como se tratava de um paciente moreno, ele acabou manchando a pele e depois a gente teve que fazer o tratamento de clareamento”, explica.

O autocuidado e preocupação com a pele se tornaram tendência nas redes sociais e promovem indicações de produtos sem orientações médicas.

Cuidado excessivo

Embora o cuidado com a pele seja importante, o excesso também pode ser maléfico, como explicado por Nayane Braga. “Às vezes a gente é muito agressivo, naquela ânsia de ter muito resultado, a gente agride essa pele, a gente acaba destruindo essa barreira, abrindo porta de entradas para ocorrência de infecções bacterianas, fúngicas”, explica a dermatologista. 

Às vezes, o cuidado e preocupação demasiados podem demonstrar problemas que vão além da estética e é necessário procurar ajuda psicológica, como explica o dermatologista Gilvan Alves, graduado pela Universidade Federal de Minas Gerais e mestre pela Universidade de Londres. “Existe uma síndrome dismórfica, onde a pessoa se acha feia, o nariz dela é grande, a boca é pequena, o olho é fundo, a pessoa fica achando defeito. Se você indica um tratamento, ela vai arranjar um defeito naquele tratamento. Então esses casos são encaminhados para a psiquiatria”, relata o doutor.

Uso precoce e excessivo entre adolescentes 

Segundo o dermatologista Gilvan Alves, que atua há mais de duas décadas na área, mulheres entre 30 e 40 anos são as que mais procuram por acompanhamento dermatológico, para evitar o envelhecimento na pele. Entretanto, em uma pesquisa feita pelo grupo Kantar Brasil, líder mundial de pesquisa qualitativa e quantitativa, a geração alfa, nascida depois de 2010, demonstra ser mais consumista e crítica com a autoimagem. 

Nayane Braga, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que é evidente o aumento de crianças e adolescentes procurando orientação dermatológica. “A gente tem visto, sim, um aumento significativo de crianças e adolescentes aderindo à rotina de skincare. Mas a gente tem que entender que a rotina de skincare para a criança deve ser muito específica pra idade dela. Não dá pra usar produtos que são de uso adulto nessas crianças”, conta a especialista. 

Como relatado, o tratamento para adolescentes deve ser especificado e leve para a idade. E é essencial procurar ajuda e orientação médica para tratar da pele.