Cineclubes agitam e preservam cenário audiovisual no Distrito Federal

Encontros proporcionam debates, conhecimento e novas formas de experimentar filmes.

Débora Sobreira Rezende

Postado em 30/04/2025

Por vezes, um filme não é tudo o que basta para fazer cinema: a experiência completa pode incluir também pipoca, atmosfera, tela grande e… conversa. Não durante a exibição, mas sim após: essa é a proposta dos chamados cineclubes, iniciativas que buscam levar acesso democrático às produções cinematográficas e que ajudam a preservar e fomentar o cenário audiovisual no país e na capital.

Diferentemente de uma sala de cinema tradicional, em que a interação com a obra ocorre de maneira limitada, os cineclubes propõem um assistir ativo como parte da experiência. A ideia, aqui, é compartilhar, seja entre conhecidos ou desconhecidos, as impressões a respeito do que foi assistido. Esses grupos também não se prendem à sensação do momento na hora de selecionar a programação: cada clube pode contar com seu próprio critério de curadoria.

Foi usufruindo dessa liberdade criativa que a dupla formada pela arquiteta Bruna Ruperto e pelo roteirista Igor Cerqueira decidiu transformar inquietação em ação, dando início ao cineclube Cine Joaquim em 2019. Funcionando no Teatro dos Ventos, em Águas Claras, o projeto realiza sessões quinzenais, sempre às segundas-feiras, às 20h.

O cineclube foi batizado em homenagem a Joaquim Pedro de Andrade, cineasta brasileiro e um dos rostos do Cinema Novo, e teve início com o desejo de impulsionar o cenário cultural no Distrito Federal, que se encontrava fragilizado devido a cortes orçamentários e fechamento de editais. Transmitindo desde curta a longa metragens, o clube foca exclusivamente em obras brasileiras.

Mimos como zines e copos são ofertados aos presentes nos encontros do Cine Joaquim | Foto: Débora Sobreira

Apesar de ressaltar a importância de dar espaço para produções do Brasil que não caem no circuito comercial, o casal conta como trunfo ter conseguido reunir um público fiel e diversificado. “O que nos é mais caro hoje em dia são as formas pelas quais essas pessoas se apropriam desses filmes”, Bruna conta.

Na última edição do encontro, a exibição da obra ‘O Radar’ contou com a presença da própria diretora, Marisa Mendonça. Ela reforça a importância de tais iniciativas: “Estamos vivendo um momento em que os cinemas de rua estão cada vez mais escassos. E com isso, considero muito importante a cultura de cineclubes em trazer a importância de se alimentar de cinema em coletivo”.

Antes de partir para o debate, Marisa dividiu espaço na plateia com pessoas de diferentes contextos: estudantes de cinema, profissionais do ramo audiovisual e entusiastas. Todos com diferentes histórias, mas, mesmo com os desníveis das fileiras, reunidos em pé de igualdade pelo amor à sétima arte.

Cartaz do curta ‘O Radar’, dirigido por Marisa Mendonça | Foto: Débora Sobreira

O sociólogo Daniel Maia encontrou o Cine Joaquim por acaso, ao procurar quaisquer atividades culturais em sua RA, e desde então faz parte da clientela fiel do clube. Destaca a gratuidade e a realização de debates como os maiores diferenciais da experiência, e conta até mesmo ter expandido sua relação com o cinema: “Já peguei muitas dicas de filmes e diretores que antes não conhecia, principalmente de obras locais que o cineclube me apresentou”.

Por trás das telas

Apesar do esforço por vezes hercúleo aplicado na criação de um cineclube, este não se sustenta somente pela vontade: para tornar possível a realização das sessões, conseguindo desde milhos de pipoca a locais que comportam exibições, um alto custo de manutenção está envolvido. Os clubes podem ser contemplados pelos editais do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), como foi o caso do Cine Joaquim por um período, mas o fato de geralmente não serem a atividade primária de seus organizadores traz ainda mais peso aos gastos de tempo e de orçamento.

Os cineclubes se apresentam como linha de frente na defesa de um bem que, embora de direito de todos os residentes no Distrito Federal, se encontra cada vez mais escasso: espaços de cinema. Uma pesquisa comparativa realizada pela Ancine em 2023 aponta para uma diminuição no número de salas de cinema operantes no DF, atualmente com 79, porém distribuídas de forma desigual nas RAs. É o caso do Gama, que, já sem dispor do complexo cultural Cine Itapuã, desativado desde 1995 e sem previsão de reabertura, agora também se vê sem nem mesmo salas de cinema no shopping local.

A pesquisa também evidencia outro dado alarmante: dos 12 complexos de cinema presentes no DF, somente 2 atuam de forma independente: Cine Brasília e Cine Cultura Liberty Mall, somando 5 salas em funcionamento. Os cineclubes, dessa forma, se mantêm como um respiro do modo menos comercial e mais humano de se experienciar cinema.

Encontre um cineclube na sua RA

Águas Claras: Cine Joaquim (@cinejoaquim) – Teatro dos Ventos, Rua 19 Norte

Asa Norte: Cineclube BCE-UnB (@bceunb) – Campus Universitário Darcy Ribeiro

Asa Sul: CineAd (@cineclubead) – Cine Brasília

Brazlândia: Cineclube Confabule (@cineclubeconfabule) – Localidades variadas

Ceilândia: Vídeo Verso Cineclube (@videoversocineclube) – Teatro Sesc Newton Rossi

Noroeste: Cineclube Kopenety (@cineclubekopenety) – Aldeia Kariri Xocó

São Sebastião: Cineclube Mana a Mano (@manamanocineclube) – Chácara 05, Rua 2, Casa 16