Leitura na primeira infância facilita a alfabetização
Contato precoce com a linguagem escrita é fundamental para que a criança se torne um sujeito letrado
Postado em 07/05/2025
Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança passa por um processo intenso de desenvolvimento, formando conexões neurais a partir das experiências cotidianas. É nesse período, conhecido como primeira infância, dos 0 aos 6 anos, que se constrói a base para habilidades cognitivas, emocionais e sociais, incluindo a linguagem. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), crianças expostas à leitura desde os primeiros anos têm maior desempenho em leitura, escrita e interpretação textual ao longo da vida escolar.
Mas mais do que aprender a decodificar letras e palavras, o contato precoce com a linguagem escrita é fundamental para que a criança se torne um sujeito letrado, ou seja, alguém que compreende e participa ativamente das práticas sociais de leitura e escrita. Esse processo começa muito antes da alfabetização formal e envolve o acesso à literatura, a convivência com livros e a escuta de histórias no cotidiano familiar e escolar.

Para a pedagoga pós-graduada em alfabetização e letramento, Luciana Brito, existem três pontos necessários que farão com que a leitura seja um processo suave e mágico para as crianças. “É necessário que a criança seja inserida no mundo letrado desde cedo sem forçá-la a isso, precisa ser muito natural, tanto na escola, quanto dentro do ambiente familiar. Outro ponto importante é que a criança demonstre o desejo de aprender a ler”. Ainda de acordo com Luciana, o professor precisa estar em consonância com a concepção de infância, para que ela consiga respeitar o tempo e a individualidade de cada sujeito.
A pedagoga explica que a BNCC, Base Nacional Comum Curricular, reconhece a leitura como um dos pilares essenciais da educação infantil e ensino fundamental 1 e 2. “Ao trazer a leitura para o centro das práticas pedagógicas o aluno não reconhece apenas uma nova interpretação do mundo, mas tem o seu repertório enriquecido”.
A leitura na primeira infância, portanto, não deve ser vista como um luxo ou passatempo, mas como um direito e uma necessidade. Ao oferecer um ambiente rico em linguagem e estímulos literários, a criança não é só preparada para o início do processo de alfabetização, como também pode ampliar seu repertório cultural, desenvolvendo sua imaginação, afinal, formar um leitor começa muito antes do “A-B-C”.
O papel da família e da escola
A alfabetização é um processo coletivo, que envolve tanto a escola quanto a família. Em casa, os pais e responsáveis são a ponte entre as crianças e a leitura. Criar o hábito de ler antes de dormir, permitir a criança folhear seus próprios livros e inventar suas próprias histórias são atitudes simples que fazem grande diferença. Além disso, para Luciana, é de extrema importância que o processo de aprendizagem seja leve e sem cobranças ou comparações. “A criança tem o direito de se desenvolver dentro do seu tempo, é importante respeitar o ritmo e evitar comparações com os colegas de classe ou até com o irmão mais velho, os pais precisam entender isso para deixar o processo leve.”
Já na escola, professores atuam como facilitadores para o processo, podendo apresentar formas lúdicas de incluir o aluno no mundo letrado, com rodas de conversa, trazendo o contexto sociocultural em que a criança está inserida e através da musicalidade. Todos esses processos ajudam o aluno quando começa a fase da alfabetização obrigatória. Luciana explica que a partir dos seis anos o processo pedagógico da alfabetização e letramento começa mais incisivo, em função da Lei 11.274, que ampara o direito de todas as crianças a esse processo.
Em sua experiência profissional, Luciana conta que aplicava alguns métodos para introduzir a leitura de maneira leve e divertida, que além da criança, inseria a família nessa nova fase. “Toda sexta-feira eu entregava para a criança um livro e uma folha que tinha um trem desenhado. A instrução dada para os responsáveis era que a criança iria relatar o que acontece no livro e ele deveria escrever em cada vagão o começo, o meio e o fim da história que a criança relatasse.”
Entre gibis e ficções
Os gibis e livros de ficção podem ser aliados poderosos no incentivo à leitura. Com linguagem acessível, narrativas envolventes e ilustrações vibrantes, os quadrinhos — como os clássicos da Turma da Mônica ou super-heróis — despertam o interesse de crianças que ainda estão desenvolvendo suas habilidades de leitura. Eles ajudam a associar o ato de ler ao prazer e ao entretenimento, o que é fundamental para criar um vínculo positivo com os livros. Lucas Oliveira, de 18 anos, conta que não era adepto à leitura na infância até ser apresentado para os gibis.

“Eu tinha por volta de nove anos quando li meu primeiro gibi, já tinha aprendido a ler, mas foi difícil. Depois que comecei a ler gibis, o processo de leitura e de escrita ficou mais simples. Tomei gosto realmente e minha mãe fez uma assinatura dos gibis da Turma da Mônica Jovem, foi muito bom e guardo memórias incríveis.”
Lucas Oliveira
Já os livros de ficção, com suas histórias de fantasia, aventura e descobertas, ampliam o imaginário infantil e estimulam o pensamento criativo. Ao mergulhar em narrativas fictícias, as crianças e adolescentes desenvolvem a capacidade de abstração, compreensão de enredos e empatia pelos personagens. Além disso, Luciana Brito comenta que esse tipo de leitura trabalha com estruturas narrativas mais complexas, o que contribui para a ampliação do vocabulário e da compreensão textual, habilidades essenciais para a alfabetização e o aprendizado em outras áreas do conhecimento.
Incluir gibis e ficções infantojuvenis nas bibliotecas escolares e no acervo doméstico é uma forma eficaz de atrair novos leitores. O mais importante é respeitar os gostos da criança e oferecer variedade, permitindo que ela explore diferentes estilos, temas e autores no seu próprio ritmo.